sexta-feira, outubro 26, 2007

Tropa de Elite - Parte II

Uma vez que o B.O.P.E. ganha a empatia do público, o Capitão Nascimento também o faz, afinal ele é praticamente a representação do batalhão, pensando e agindo da mesma forma. Extremamente racional e competente, o personagem busca constantemente a perfeição naquilo que faz, e toda a pressão promovida tanto pelo nascimento do filho quanto pela rotina estressante da polícia, leva o capitão a sofrer ataques de Síndrome do Pânico.

Interpretando de maneira intensa e carregando o filme, Wagner Moura conduz seu personagem durante todo a estória de forma equilibrada, sem deixar que as atitudes truculentas do personagem antipatizem o público e que este exiba uma ausência de carisma. De certa forma, Wagner Moura teve a vantagem da narração em off, que possibilita uma amenização das impressões negativas e uma compreensão dos comportamentos do personagem por parte do público. Outro destaque é o ator Caio Junqueira, que mesmo em um papel pequeno consegue dar ares de verossimilhança ao seu personagem, doando-lhe uma imaturidade e impulsividade marcante. É o típico ator brasileiro
que não ganha o destaque merecido. Já o novato André Ramiro, que a princípio nos parece um personagem pequeno e de pouca expressividade, vai ganhando a tela no decorrer do filme, e ao fim, presenciamos a sua trágica e empolgante mudança. De um modo geral, o elenco todo foi muito bem preparado, dos atores menos participativos aos maiores destaques, resultando em excelentes cenas verdadeiras, sejam elas cômicas ou dramáticas.

Abordando essa estória com grande realismo, Tropa de Elite tem um caráter quase documental e exibe cenas que parecem ser extraídas de situações reais. Utilizando uma fotografia não mais inovadora, mas possuindo quadros e seqüências que ressaltam o realismo, o filme adquire uma aparência verossímil e violenta, e até certo ponto, de leve angustia, por conseqüência das cores, do clima constantemente nublado e pelas imagens noturnas das favelas cheias de contrastes das sombras com luzes. A edição não deixa a desejar e cria um clima de urgência nas cenas de ação, contrapondo-se aos momentos mais lentos que procuram desenvolver os personagens e a história. Dessa forma, o filme ganha um ritmo equilibrado, não só por manter o telespectador atento aos eventos e revelações acerca da polícia, mas por tornar as estórias dos personagens em fatos relevantes e atraentes. Portanto, interessamo-nos pelas cenas de Matias na universidade, mesmo elas estando entre outras aparentemente mais importantes. Isso ocorre tanto pelo ótimo desenvolvimento das seqüências e como pelas correlações que nelas existem com as questões abertas pelo filme, como também pela narração em off do protagonista, que cria um clima de desconforto ao afirmar que Matias agia errado ao tentar ser policial e um universitário ao mesmo tempo.

Há dois elementos em Tropa de Elite que incomodarão a maioria: um, é narração em off, que usada quase exaustivamente, tem uma função essencial de contextualizar, mostrar a visão do personagem e expor informações importantes; seria muito difícil e forçado pôr tanto na boca dos personagens. Outro elemento é o final abrupto, porém ideal, já que nos entrega apenas o necessário enquanto todo o resto fica subtendido. E mesmo que algumas pessoas saiam frustradas com o final, tenho quase certeza
que ficarão satisfeitas com todo o resto, pois não é todo dia que se assiste a um filme que representa incrivelmente uma situação íncomoda pra quase toda uma nação, ao mesmo tempo em que nos envolve nos conflitos dos personagens e em cenas empolgantes, sem que uma coisa prejudique a outra. Vemos, portanto, em Tropa de Elite um equilíbrio incrível das melhores coisas que um filme pode ter.

Inteligente, complexo e importante do ponto de vista social, Tropa de Elite é um grande filme, marcado pela coragem de seu diretor em expor a realidade e chocar o público. Dizem que o filme é fascista e que defende a violência policial, no entanto, um pouco mais de raciocínio é o suficiente pra revelar que isso é nada mais do que a representação da realidade, uma realidade tão violenta que necessitamos de um
capitão Nascimento pra que haja o mínimo de equilíbrio social. E se o brasileiro hoje consegue idolatrar como herói um “monstro fascista” (confesso que também torci pelo personagem e seus objetivos durante o filme), estamos realmente com sérios problemas ou completamente desesperado e exaustos de tanta violência. Na verdade, gostaria muito que “Ônibus 174” e “Tropa de Elite” fossem parte de uma trilogia. Assim, ficaria esperando por um próximo grande filme sobre essa polêmica realidade da segurança no Brasil.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Tropa de Elite - Parte I

A resenha abaixo sobre o filme Tropa de Elite está dividida em duas partes devido o tamanho. O filme merece uma análise detalhada e tive que ater-me a vários detalhes importantes.

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Quando assisti pela primeira vez ao trailer de Tropa de Elite no cinema, pensei: “Que bom! O lado mais intrigante dessa história vai ser contado”. Já esperava muito, mas não esperava tanto, pois o filme tinha a missão de abordar os vários paradoxos e toda a complexidade que envolve a situação da violência, corrupção e falta de moral na sociedade brasileira, através da mais contraditória instituição, a polícia. Tropa de Elite, entretanto, consegue fazer tudo isso e muito mais com grande competência.

O filme nos apresenta à vida do capitão Nascimento enquanto integrante e líder de uma equipe do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar, o B.O.P.E. Ao mesmo tempo em que tenta combater o tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro, o capitão Nascimento luta para encontrar um substituto e poder cuidar da mulher e do filho que vai nascer. Paralelamente, os policiais aspirantes, Matias e Neto, descobrem casos de corrupção dentro do batalhão em que trabalham. Ansiosos por agir contra o tráfico e à corrupção policial, os dois personagens entram para o B.O.P.E. e tornam-se candidatos a substituírem Nascimento.

O filme tem início com a violenta cena em que Matias e Neto estão emboscados em um grande e violento tiroteio. Narrado em off pelo próprio capitão Nascimentos, o filme logo no início nos causa impacto pelas informações e visões do personagem a cerca da violência, do tráfico e da situação da polícia. Em seguida, somos apresentados aos personagens e à forma como a polícia funciona. È nesse ponto que o filme cresce, ao transformar os fatores daquela (da nossa) realidade social e da polícia (principalmente) em uma grande teia na qual ninguém é um verdadeiro culpado. E o longa vai mais além. Mostrando, a princípio, situações de corrupção da polícia em que poderíamos rapidamente julgar a instituição e quem faz parte dela, logo somos levados a reconhecer as prováveis causas da situação da polícia. E através da ótica do Capitão Nascimento e pelas circunstâncias de conflitos entre policiais e universitários/sociedade, descobrimos que os primeiros são condicionados e obrigados a agirem de determinada forma, já que se encontram em situação extrema (Ganhar apenas quinhentos reais para subir o morro e arriscar a vida é uma situação extrema), e que a classe média e alta possa ser a verdadeira financiadora do tráfico.

Trabalhando essa realidade, e mexendo em seus vários pontos sensíveis, o roteiro busca mostrar o lado da polícia ao mesmo tempo em que denuncia os atos corruptos e violentos desta e do tráfico. Quando vemos o B.O.P.E. agir na favela, matando sem remorso um traficante e em seguida agindo com violência contra universitários, logo o capitão Nascimento deixa claro sua atitude ao mostrar que essa violência promovida pelo B.O.P.E. é um ato “necessário”, conseqüente do tráfico e dos financiadores destes, ou seja, do universitário ou do indivíduo qualquer que usa de seu dinheiro para comprar drogas. E o “mal necessário” da violência pela policia é infelizmente inegável até em nossa própria realidade, quanto mais em uma cidade sitiada pelo tráfico, mostrando o quanto a situação do Brasil é problemática. Necessitar de um herói violento para que a sociedade permaneça em equilíbrio é, nada mais, nada menos do que uma grande corda bamba sobre a qual uma nação pode estar; e não podemos negar que são personagens como capitão Nascimento ou batalhões como o BOPE que estão mantendo o equilíbrio.
Ao mesmo tempo que vemos o Batalhão Especial agir contra o tráfico e a corrupção de maneira até romântica, estabelece-se um vínculo forte entre o público e o B.O.P.E., pois este passa a estar entre o bem e o mal, responsável por concertar uma situação que não pode ser feita senão através da violência e da guerra, e isso o batalhão faz com competência. E estabelecendo ainda mais essa relação com o público, o Batalhão ainda é contra a corrupção policial e também os maiores inimigos do tráfico.

terça-feira, outubro 23, 2007

Cidade de Deus x Tropa de Elite





Muita gente compara a estética de Tropa de Elite com a de Cidade de Deus, afirmando ter encontrado uma série de semelhanças, e que o primeiro não passa de mais um filme seguindo a escola do segundo.

Não percebo a relação dos dois filmes dessa forma, e pra mim, Tropa de Elite e Cidade de Deus têm suas diferenças, até mesmo na estética. Enquanto o filme de Fernando Meirelles não tenta ser tão realista e é mais estilizado, o filme de José Padilha é muito visceral e mais realista, além de possuir uma relevância e contextualização mais profunda.

Se Cidade de Deus tem uma estilização do ambiente da favela e das pessoas que se encontram lá, Tropa de Elite desbanca na realidade sem medo nenhum de chocar o telespectador. As únicas semelhanças visíveis entre as estéticas dos dois filmes residem no modo frenético de edição, na linguagem fragmentada e na narração que busca tomar o ponto de vista do protagonista como referência.

domingo, outubro 21, 2007

Meu Primeiro Roteiro

Nos últimos períodos do meu curso na universidade, fui meio que obrigado a escrever um roteiro, e essa era a oportunidade que eu precisava. A princípio, tive algumas dificuldades de criar uma estória, mas quando comecei e peguei a ‘manha’, a coisa foi dando certo. E aqui estou, terminei de escrever meu primeiro roteiro de cinema, intitulado “Imagens de uma Família Sem Retrato”.

A estória narra as dificuldades de uma família que teve uma perda inconfortável do pai, enquanto Dona Dina, a viúva, sofre depressivamente a falta da imagem do marido. Após o roubo que Pedro faz de uma câmera digital, Josiel tenta concertar a situação para que a mãe de ambos não sofra ainda mais. Josiel decide, então, dar a câmera à mãe, colocando Pedro em uma situação delicada, já que ele possuía misteriosos objetivos com o objeto.

Digamos que isso seja uma espécie de sinopse. Essa é uma estória que tenho o maior orgulho de ter escrito, por ser diferente, complexa, sincera e sensível. Talvez eu não esteja sendo nem um pouco modesto, mas gosto mesmo da estória.

Da experiência de escrever um roteiro, pude perceber algo muito estranho. Diferente das outras artes, o ato de escrever ou roteirizar não me pareceu e não me ocorreu como uma experiência que alimente o ego, como na maioria das outras artes. A sensação que tive, apesar de ter a plena noção de que fui o único e indiscutível autor da obra, foi a de que a estória e os personagens eram responsáveis por si próprios, como se a trama já existisse antes mesmo de ser escrita e os personagens donos de seus próprios destinos. Ou seja, é como se às vezes eu não me sintisse o inventor, o que confesso, é muito estranho.

Fiz um roteiro do jeito que eu gostaria de assistir e da maneira que julgo correto e interessante. Aprendi muita coisa escrevendo-o e pude, também, pôr muita teoria que defendo em prática. Descobri que personagens devem ser tratados com sinceridade, como se fossem reais, e que uma estória nem sempre está nas mãos do autor. Outro elemento importante que pude observar, é que pra se escrever uma estória complexa é preciso duas coisas: primeira, dois pontos distintos em uma mesma estória, como um início e um fim, de onde você possa partir à onde onde você possa chegar (digamos que seja uma técnica pessoal); com isso, percebi que às vezes é mais fácil encontrar motivos interessantes para um fim do que encontrar um fim interessante para motivos. Segunda e mais importante, seria a tão famosa motivação dos personagens - cada personagem têm a sua, com seu caminho, tomando decisões diferentes e agindo de formas distintas em uma mesma situação. Assim acontece na complexa vida real, cada um tem os seus objetivos e corre atrás deles da maneira como lhe cabe.

Relendo centenas de vezes o roteiro, eu me dei conta de que reproduzimos aquilo que vemos, não no sentido de ‘copiar’, mas no que diz respeito a estilo, criatividade e prioridades. Essa estória, portanto, é um reflexo de tudo que já assisti, e se alguém peceber elementos de ‘Lost’ nela, não se surpreenda.

Hoje nem consigo me imaginar criando-a, mesmo lembrando do momento em que as idéias vieram à minha cabeça. Mas isso não importa. Enquanto estórias surgirem e a imaginação fluir, está bom demais. Já tenho outras idéias pra serem desenvolvidas. Agora vou tentar filmar “Imagens de Uma Família Sem Retrato”. Um desafio maior, mais trabalhoso e não menos empolgante.

sábado, outubro 20, 2007

Vai Entender!


Passei três meses sem escrever para o blog. Enquanto estava fora, o post "Querendo postar mas a vida rodopeia!" bateu o recorde do ".Ponto-de-Vista." com exatos 33 coments.


Por quê?!


As pessoas vinham todos os dias, cobravam, acusavam-me de preguiçoso por não postar e sentiam falta dos meus posts. Hoje, quando volto e escrevo, cadê os coments?


Cadê?!

Por quê?!
Ainda bem que escrevo porque gosto!

segunda-feira, outubro 15, 2007

Tropa de Elite: "Osso Duro de Roer"

Ontem assisti ao filme Tropa de Elite (no cinema). O longa é simplesmente melhor, mais complexo e polêmico do que eu esperava, e minhas expectativas eram muitas para o filme do mesmo diretor de Ônibus 174. Tropa de Elite, de fato, é um "osso duro de roer".

Update 16/10: Esqueci de comentar, mas em breve vou tentar postar algo mais elaborado a respeito de Tropa de Elite. Trata-se de um filme complexo e com bastante detalhes a se analisar. Tentarei assistir mais uma vez (no cinema).

Ontem (dia 15/10) tive o desprazer e curiosidade de olhar na internet algumas fotos de restos mortais de alguns traficantes cruelmente abatidos pelo B.O.P.E., o batalhão especial em questão no filme. Esse filme ainda vai render muita polêmica.

Feliz da Vida

No início do ano afirmei aqui mesmo no blog não sentir firmeza no cinema brasileiro e que não estava acreditando nessa retomada. Pois bem! Nos últimos três meses (o exato tempo que fiquei sem postar) tive motivos de sobra para amenizar essa opinião. O nome desses motivos são na respectiva ordem de valor: Tropa de Elite, Cheiro do Ralo, Saneamento Básico e Batismo de Sangue. Isso porque não pude assistir a O Céu de Suely e O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias.

domingo, outubro 14, 2007

Debate Sobre 'Cidade de Deus'



Na quarta-feira, dia 3 de outubro, estive presente em um debate entre dois professore da UFMA sobre a estética do filme 'Cidade de Deus' que aconteceu no Anfiteatro do curso de Comunicação Social da universidade.

No debate foi discutida a estética imprimida por Fernando Meirelles ao seu filme Cidade de Deus. Os argumentos eram em sua maioria contra, para os dois debatedores, que tomavam como base de análise a comparação com a estética de outros filmes brasileiro e também com a dos filmes de Glauber Rocha.

Esse foi particularmente um debate importante. Nunca tinha refletido sobre a estética de Cidade de Deus e muito menos, feito uma comparação. Eu já havia assistido a um filme de Glauber Rocha e experimentado o choque daquele tipo de abordagem da realidade brasileira, que no debate intitulam de "estética da fome".

Os professores argumentaram insistentemente que Fernando Meirelles usou em Cidade de Deus um tom leve para a violência da favela, imprimindo um rítmo acelerado e uma edição frenética que pouco possibilita o espectador de experimentar e refletir, assim como a própria situação do roteiro de ser explorada. Esse tipo de estética foi comparada por eles como aquela usada em filmes Hollywoodianos; ou seja, Fernando Meirelles havia renegado tudo o que Glauber Rocha havia de forma genial e autêntica criado para o cinema brasileiro.

Assisti a Cidade de Deus ontem e confesso que realmente há uma leveza da violência, que mesmo possuíndo naturalmente em si própria um forte impacto, há um contraponto assumido pelo constante alívio cômico e pela forma com que os personagens e o ambiente da favela são trabalhados. Enquanto o filme poderia abordar a favela de uma forma mais dramática, centrando no sofrimentos dos que moram lá, na vitimização destes pela violência e mizéria, e no constante choque através de uma estética integralmente violenta; Cidade de Deus mostra em rítmo acelerado a vida dos favelado em um cotidiano entremeado de violência e de fatos positivos. Dessa forma, enquanto vemos Buscapé perder o irmão na violência, vemos também ele paquerar, fumar um baseado e divertir-se, ou então quando vemos a violência desmedida dos traficantes, vemos também a camaradagem entre eles.

Seguindo o mesmo raciocínio, os debatedores também afirmaram que Meirelles trabalha o ambiente da favela semelhante a um gueto. De certa forma a história da Cidade de Deus e de seus moradores realmente nos dá a entendê-los dessa forma. A favela foi criada pelo governo e inacabada no que se refere a saneamento básico, todos que não tinham moradia eram "jogados" no "bairro" e renegados. Se gueto trata-se de um grupo marginalizado pela sociedade, no caso da Cidade de Deus a favela deveria sim ser abordada como um gueto. É conveniente. A única diferença é que não se tratava de um grupo social específico, pois a única coisa em comum das pessoas que foram levadas para lá é que elas não possuíam moradia.

Ao mostrar os prós e contras do ambiente da favela, Meirelles consequentemente amenizou o impacto da violência e tornou a favela em um lugar de identificação ao espectador. É como se o drama da violência se transformasse em aventura e a miséria em estilo de vida, isso quando comparamos a estética de Meirelles com a "Estética da Fome".

No entanto, mesmo com essa amenização, a violência está lá, à mostra, e não se pode negar que Meirelle consegue criar cenas violentas eficazes sem apelos gráficos. E mesmo que o público se divirta ao assistir ao filme e concentre-se em outros aspectos da vida de um favelado, a violência não deixa de chocar em seus breves momentos de protagonização. E qualquer espectador em sã consciência consegue entender o quão violenta pode ser uma favela e perceber que qualquer um ali trocaria aquela vida por uma coisa melhor, de Buscapé a Bené.

Eu encaro essa amenização como uma forma de levar a realidade da favela para além das mentes intelectuais, uma forma de democratizar o conhecimento dessa realidade. E se a abordagem da favela feita por Meirelles ameniza a violência, ela mostra outros lados da favela que não se trata disso. Já no caso de uma abordagem feita dentro da estética da fome, talvez aspectos naturais da vida de um favelado não fossem abordados, e como diz Regina Case "A periferia não é só miséria e violência".

O que uma estética possibilita, a outra até certo ponto impede. No caso do ritmo acelerado, sou a favor porque acredito que isso reflita de certa forma algo da nossa vida moderna (não vou me aprofundar nesse aspecto, pois isso é uma outra questão, mas acredito que o ritmo empregado à maioria dos filmes hoje, um dia será um objeto de estudo da nossa atual civilização) e não sou contra o frenetismo, desde que o roteirista e o diretor sejam capazes de trabalhar suas personagens e as situações em curto espaço de tempo. Já vi muitos filmes lentos que perdem tempo com inutilidades, assim como já vi muitos filmes velozes que usam cada segundo e são um verdadeiro coquetel de sensações e choques. Cada filme com sua estética, cada estética com sua proposta e cada proposta com sua mensagem.

Por isso não sou a favor da defesa de um só tipo de tratamento dentro das artes. É verdade que no Cinema Novo o filme brasileiro segue mais a Cosmética da Fome" que a estética de Glauber Rocha, mas ao invés de esperarmos sempre obcecadamente e radicalmente uma "estética da fome", deveríamos esperar as mais variadas formas possíveis de se abordar um mesmo assunto. Isso sim seria mais lucrativo, pra todo mundo. Dentro de sua proposta, Fernando Meirelles faz bem e faz certo.

quinta-feira, outubro 11, 2007

A Volta de Quem Não Foi

É com muito constrangimento e vontade que volto a postar no Ponto-de-Vista. Constrangimento, porque fui muito cobrado durante o tempo em que não postei, acusado de estar com a crise dos 6 meses por qual muitos autores de blogs passam, e até de eu estar com preguiça. Já a "vontade", tive durante todo o tempo em que passei distante do blog e da internet. Assisti a muitos filmes e infelizmente não pude postar nada sobre nenhum.

Só nesse meio tempo que passei longe do mundo virtual, saí do meu antigo estágio em uma assessoria de comunicação, entrei numa companhia de teatro do Rio de Janeiro, fiz uma temporada em São Luís, mudei de casa, saí da companhia, entrei no 7º período do curso de Comunicação, construí o site da Ong P.E.R., comecei a estagiar na rádio Universidade, escrevi meu primeiro roteiro e aqui estou eu. Ufa! Definitivamente, não estive com preguiça.

Fora tudo o que tive que fazer, ainda estive todo esse tempo sem internet. E ainda estou. Bom! Mas agora estou de volta e pretendo comentar muito sobre cinema, por enquanto só isso que prometo.