Interpretando de maneira intensa e carregando o filme, Wagner Moura conduz seu personagem durante todo a estória de forma equilibrada, sem deixar que as atitudes truculentas do personagem antipatizem o público e que este exiba uma ausência de carisma. De certa forma, Wagner Moura teve a vantagem da narração em off, que possibilita uma amenização das impressões negativas e uma compreensão dos comportamentos do personagem por parte do público. Outro destaque é o ator Caio Junqueira, que mesmo em um papel pequeno consegue dar ares de verossimilhança ao seu personagem, doando-lhe uma imaturidade e impulsividade marcante. É o típico ator brasileiro que não ganha o destaque merecido. Já o novato André Ramiro, que a princípio nos parece um personagem pequeno e de pouca expressividade, vai ganhando a tela no decorrer do filme, e ao fim, presenciamos a sua trágica e empolgante mudança. De um modo geral, o elenco todo foi muito bem preparado, dos atores menos participativos aos maiores destaques, resultando em excelentes cenas verdadeiras, sejam elas cômicas ou dramáticas.
Abordando essa estória com grande realismo, Tropa de Elite tem um caráter quase documental e exibe cenas que parecem ser extraídas de situações reais. Utilizando uma fotografia não mais inovadora, mas possuindo quadros e seqüências que ressaltam o realismo, o filme adquire uma aparência verossímil e violenta, e até certo ponto, de leve angustia, por conseqüência das cores, do clima constantemente nublado e pelas imagens noturnas das favelas cheias de contrastes das sombras com luzes. A edição não deixa a desejar e cria um clima de urgência nas cenas de ação, contrapondo-se aos momentos mais lentos que procuram desenvolver os personagens e a história. Dessa forma, o filme ganha um ritmo equilibrado, não só por manter o telespectador atento aos eventos e revelações acerca da polícia, mas por tornar as estórias dos personagens em fatos relevantes e atraentes. Portanto, interessamo-nos pelas cenas de Matias na universidade, mesmo elas estando entre outras aparentemente mais importantes. Isso ocorre tanto pelo ótimo desenvolvimento das seqüências e como pelas correlações que nelas existem com as questões abertas pelo filme, como também pela narração em off do protagonista, que cria um clima de desconforto ao afirmar que Matias agia errado ao tentar ser policial e um universitário ao mesmo tempo.
Há dois elementos em Tropa de Elite que incomodarão a maioria: um, é narração em off, que usada quase exaustivamente, tem uma função essencial de contextualizar, mostrar a visão do personagem e expor informações importantes; seria muito difícil e forçado pôr tanto na boca dos personagens. Outro elemento é o final abrupto, porém ideal, já que nos entrega apenas o necessário enquanto todo o resto fica subtendido. E mesmo que algumas pessoas saiam frustradas com o final, tenho quase certeza que ficarão satisfeitas com todo o resto, pois não é todo dia que se assiste a um filme que representa incrivelmente uma situação íncomoda pra quase toda uma nação, ao mesmo tempo em que nos envolve nos conflitos dos personagens e em cenas empolgantes, sem que uma coisa prejudique a outra. Vemos, portanto, em Tropa de Elite um equilíbrio incrível das melhores coisas que um filme pode ter.
Inteligente, complexo e importante do ponto de vista social, Tropa de Elite é um grande filme, marcado pela coragem de seu diretor em expor a realidade e chocar o público. Dizem que o filme é fascista e que defende a violência policial, no entanto, um pouco mais de raciocínio é o suficiente pra revelar que isso é nada mais do que a representação da realidade, uma realidade tão violenta que necessitamos de um capitão Nascimento pra que haja o mínimo de equilíbrio social. E se o brasileiro hoje consegue idolatrar como herói um “monstro fascista” (confesso que também torci pelo personagem e seus objetivos durante o filme), estamos realmente com sérios problemas ou completamente desesperado e exaustos de tanta violência. Na verdade, gostaria muito que “Ônibus 174” e “Tropa de Elite” fossem parte de uma trilogia. Assim, ficaria esperando por um próximo grande filme sobre essa polêmica realidade da segurança no Brasil.