quinta-feira, outubro 28, 2010

Toy Story 3

Toy Story 3 (EUA, 2010), escrito e dirigido por Lee Unkrich, com Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Ned Beatty, Don Rickles, Michael Keaton, Wallace Shawn e Jodi Benson.

Eu tinha apenas onze anos quando assistir a Toy Story pela primeira vez. Foi a primeira grande animação feita inteiramente por computação gráfica e apresentando um mundo de forma tridimensional. Mas não era apenas esse caráter tecnológico do desenho que encantava as platéias e profissionais de cinema no mundo inteiro, essa animação tinha mais, possuía divertidos e marcantes personagens, um roteiro incrivelmente amarrado e sensível, ótimas tiradas cômicas, um visual fabuloso, e uma história que agradava das crianças aos avós destas. E foi a Pixar, com seu Toy Story, quem inaugurou o gênero Animação como o conhecemos hoje.

Se no primeiro filme da trilogia descobrimos que bonecos têm vida própria e são completamente dependentes do afeto de seus donos, a ponto de um novo boneco de uma criança se apresentar como uma ameaça para os veteranos desta, no segundo filme acompanhamos a angustiante descoberta desses personagens de que eles podem ser descartados por seus donos. Logo, em Toy Story 3, os brinquedos de Andy encaram a possibilidade de serem abandonados, já que seu dono cresceu e vai para a faculdade. Esse temor e sina são trabalhados de forma profunda e sensível na trama, através dos personagens Woody, Buzz e os outros brinquedos que já conhecemos.

Com o agora jovem Andy já prestes a entrar na faculdade, os brinquedos começam a se questionar sobre qual será o destino deles. Acidentalmente doados a uma creche, os personagens se encantam com a aparência do local e a perspectiva de que lá sempre serão úteis às crianças. Por saber que a doação não passou de um engano, Woody foge e tenta retornar para a casa de seu dono antes que este vá embora. Enquanto isso, Buzz Lightyear e os outros brinquedos de Andy descobrem a terrível realidade da creche, inclusive a de que eles não podem sair de lá.

O filme abre com uma cena divertidíssima em que vemos uma aventura dos brinquedos imaginada (e brincada) por Andy, quando este ainda era uma criança. A sequência serve como um eficaz contraponto a situação que se segue. Desejando chamar a atenção do seu dono, os brinquedos, liderados pelo "caubói" Woody, bolam um plano para que estes sejam vistos por Andy dentro de um baú em seu quarto, e assim, surja uma pequena possibilidade do jovem retomar o interesse em brincar. E claro que o plano não da certo.

Explorando o drama e os conflitos desses brinquedos diante da dúvida a cerca de seus destinos, o roteiro de John Lasseter, Andrew Stanton e Lee Unkrich é brilhante ao retratar a questão quase existencial desses personagens de forma incrivelmente delicada e sutil.
Logo, não deixa de ser comovente presenciar a situação de submissão deles a seu dono, que temem ser jogados no lixo por não serem mais úteis. Mesmo que esses brinquedos tenham como objetivo de vida servir a sua criança, buscar o próprio destino que não seja um lixão acaba se apresentando como uma possibilidade, e implicando em conflitos internos riquíssimos para esses personagens.

Enquanto Woody toma, na história, a posição de boneco fiel ao seu dono, Lotso assume o oposto, e ganha o posto de personagem mais ambíguo e complexo do filme. De aparência amigável e todo cor-de-rosa, o ursinho Lotso se revela, no decorrer da trama, um brinquedo cínico e manipulador capaz de tornar o ambiente da creche em uma prisão para todos os brinquedos de lá. Rivalizando diretamente com a comovente cena de Toy Story 2 em que a "cowgirl" Jessie relembra os momentos que teve com a sua dona, o sombrio flashback de Lotson explica as razões e os traumas que o tornaram em um urso de pelúcia cruel.

Repleto de cenas de ação empolgantes e muitíssimo bem elaboradas, Toy Story 3 assume um ritmo mais veloz de narrativa, intercalando cenas importantes e intimistas de desenvolvimento das personagens com sequências tensas e sombrias. Como é de praxe, a Pixar simplesmente arrasa nos detalhes da animação, desde os cenários complexos como a creche, passando pela variedade de brinquedos, até as expressões das personagens. A qualidade tecnológica da imagem possibilita efeitos mais convincentes e gráficos mais reais; além disso, a direção de Lee Unkrich fez um trabalho excepcional na concepção de muitas das cenas, utilizando marcas e características de gêneros cinematográficos nas composições, por exemplo, de momentos como aquele em que vemos por fora de uma máquina (de guloseimas) a sombra de personagens através da estrutura externa do objeto, semelhante àquelas cenas de filmes noir e de espionagem onde os bandidos estão reunidos em tono de uma mesa jogando baralho, banhados por uma luz que irrompe na escuridão do lugar. Dessa mesma forma, algumas sequências são tão lúgubres e tensas que mais parecem tiradas de um filme de terror, como aquela em que bebês brincam violentamente com os brinquedos novos da creche ou o momento em que dois personagens são perseguidos por um bebê de brinquedo.

Mesmo assim, Toy 3 consegue ser tão ou mais engraçado quanto os seus predecessores. Cenas como a da versão um tanto caliente do Buzz Lightyear, ou aquelas envolvendo a Barbie e o Ken, divertem e dão o alívio cômico necessário a trama. Também não deixam de ser divertidas as referêcias a elementos dos filmes anteriores, a exemplo, "O Garra". Da mesma forma, as referências a filmes foram inseridas de forma orgânica, até mesma a já batida alusão a Missão Impossível funcionou perfeitamente sem que soasse gratuita. Desenvolvendo uma tensão crescente, a última meia hora da animação dá conta de aprofundar os conflitos e a premissa até o limite, culminando em uma emocionante sucessão de eventos digna de um capítulo final de uma trilogia.

Por mais que Toy Story se trate de uma animação e que carregue, por isso, um aspecto de ludicidade e infantilidade, a série conseguiu em todos os três filmes desenvolver de forma eficiente o potencial dramático da premissa elaborada. Isso, aliás, tem se revelado como uma característica desse contemporâneo gênero cinematográfico, que, por ter seu humor acentuado, trabalha o drama dentro de uma sutileza inteligente. Toy Story 3, porém, não hesita em desenvolver ao máximo os aspectos sombrios e comoventes de sua própria história, enquanto consegue divertir e encantar. Teremos aí mais um clássico do cinema?

Cotação: Excelente

quarta-feira, outubro 13, 2010

Meu Puxadinho, Minha Vida

Não costumo postar sobre política no meu cantinho de cinema, mas esse blog acaba por refletir a realidade e o que se passa em minha mente. Impossível sair ileso das eleições, e o principal órgão lesado é o cérebro. A cada canção de campanha divulgada em carros de som, um agrupamento muito importante de neurônios são dizimados de nossas cabeças.

Mas estamos no segundo turno para a presidência do país, a propaganda é branda e repleta de melancolia. Dois lados, duas campanhas. De um lado, Dilmão, mulher de culhões, a quem boto fé, ao contrário de boa parte dos brasileiros que, de tantas eleições consecutivas, perderam parte da memória e lembram apenas do passado imediato de oito anos atrás. Antes disso, aparentemente nada mais. Do outro lado, Serrinha, homem de voz mansa, circunspecto, mas contraditoriamente um poço de rispidez e impaciência. Ele só fala de saúde, Lula e faz uma campanha que não tem muito a ver com os ideais de seu partido. Claro! Em tempos de crise econômica, revelar tendências neoliberais é cometer suicídio eleitoral partidário.

Mas foquemos mais ainda em Serra. Sua já famosa declaração mais que reveladora (da sua visão de mundo) feita no debate dos candidatos a presidente do segundo turno, na Band, mostra o quanto ele seria um bom presidente (dos ricos). Na dita declaração, Serra afirma que, enquanto Ministro do Planejamento, sua grande contribuição foi aumentar o crédito dos materiais de construção para que a população pudesse "construir seus puxadinhos", essa foi sua defesa contra a acusação de que era contra o programa Minha Casa, Minha Vida. É, isso é que é uma visão elitista e preconceituosa do mundo. Para o pobre, basta um puxadinho, apenas isso.

terça-feira, outubro 12, 2010

Minha História de Vendedor

Conseguir um emprego na área de Comunicação Social, em São Luís, não é fácil. É currículo pra cá, e é currículo pra lá, você faz verdadeiros passos de dança distribuindo esses documentos que pouco importam na cidade onde quem te indica é quem te atribui menor ou maior credibilidade. Constrangedor. Nesse tenta disso e tenta aquilo, já caí em armadilhas como reuniões de recrutamento de vendedores de Erba Life, mas também dei entrevistas e passei por alguns processos seletivos interessantes, sem muito sucesso.

Na minha última grande oportunidade, fui selecionado para trabalhar em uma multinacional misteriosa, onde eu seria vendedor em eventos e exposições de "obras" vindas de Londres e Madri, nas quais eu poderia ter alto rendimento financeiro. Fiquei empolgadíssimo. Imaginava-me estudando obras de artes plásticas e convencendo granfinos a comprar quadros maravilhosos produzidos por artistas renomados da Europa.

(Uma pausa para que você ria por dentro)

Na primeira reunião após eu ter sido selecionado, descubro que a empresa é a Barsa e que eu estava sendo contratado para vender livros e cursos de língua estrangeira. Tudo bem! O sonho se desfez, mas até gostei quando soube o valor da generosíssima comissão por produto. Seria uma oportunidade única de, de repente, iniciar um investimento financeiro que, num futuro, pudesse me possibilitar fazer os cursos que idealizo. Arrisquei na Barsa, hoje estou um vendedor. Quem diria! Não tenho vergonha desse trabalho, é algo provisório, que alguma coisa vai me ensinar. Não vendi nada ainda, mas já pude conversar com umas setenta pessoas dessa ilha. No meio dessa gente toda, em uma determinada agência de advocacia, num determinado prédio comercial, em um determinado bairro, cruzei com a pessoa que considero a mais pedante e mal educada com que já troquei palavras.

De nome feio e com pretensa internacionalidade, o homem, que devia ter seus 30 a 40 anos, respondeu à minha apresentação básica de representante da Barsa e ao meu anúncio do material de capacitação em língua estrangeira, com palavras desafiante, intimidadoras e pouco educadas, em tom de humilhação: "Aqui ninguém precisa de língua estrangeira. Eu sou formado em Oxford, morei anos na Inglaterra. Falo mais de 3 línguas e ainda ensinaria o teu professor de inglês a falar a língua direito".

Sabendo que o dever de um vendedor é o de vender benefícios, o que poderia eu oferecer a um homem tão bem instruído? Talvez um pouco de educação, mas isso a Barsa vende em produtos infantis. Surpreso, claro, coloquei no comando um certa personagem de vendedor, que venho desenvolvendo como forma de superar minha timidez e insegurança. Recordei-me, então, dos informativos cursos dados pela técnica e bem sucedida equipe paranaense de vendas. E assim respondi com entusiasmo: "Parabéns! Isso é muito bom! São de pessoas assim que nós, da Barsa, gostamos de atender". Mentira! Mas era exatamente o que eu deveria dizer. Outra opção seria a de sair bruscamente.

Para o espanto do homem de aparência marcial e impiedosa, reagi com completa naturalidade e segurança. Minhas congratulações ao seu magnífico repertório de conhecimento soaram quase verdadeiras até para mim mesmo. Desmantelado por constatar que a superioridade divina dos indivíduos formados em Oxford em nada me intimidara, o Gentleman em pessoa tentou se mostrar inacessível, afirmando que não havia tempo algum na agenda dele para que eu pudesse apresentar meu produtos, pois ele é "um homem muito ocupado". "Ok!", pensei!

Com o objetivo de conseguir um espaço para mostrar outros materiais a ele, revelei, então, que sou um representante da Barsa. "Barsa?! Já tive várias edições, elas eram muito boas. Mas hoje a Barsa está completamente desatualizada". "Não, senhor! A Barsa, hoje, está completamente reformulada. Além dos dezoito volumes em livros, ela possui ainda um DVD-Rom multimídia com todo o conteúdo da enciclopédia, fora o Portal na internet, atualizado semanalmente". Constatei, assim, um exemplo de ignorância e desinformação em um filho de Oxford na frente de suas companheiras, a recepcionista e a sua aparente namorada.

Já sem graça, o gentleman decidiu me atender (nem sei por que insisti), mas sob a condição de ser um horário marcado. "Tal dia, às oito horas em ponto. Te dou dez minutos para me convencer desses produtos. Tá bom, quinze!", ele me pressionou, agora menos cruelmente ."Ok, pode deixar, horário marcado. Até mais, Dr. Gentleman. E obrigado pela atenção!".

Não imaginava que existissem realmente pessoas assim tão crentes de sua superioridade em relação a outras pessoas. Pensava que esse tipo patológico de gente existisse apenas no cinema e na literatura mesmo, ele é quase um clichê. No entanto, é um grande paradoxo que ele tenha a necessidade de se exaltar dessa maneira; quem é, apenas é, e está seguro disso. Talvez ele seja, na verdade, mais frágil do que aparenta.

A minha aposta para o dia marcado? Ele vai comprar a Barsa Luxo, a mais cara, apenas para mostrar o seu poder de compra. Espero que tenha uma platéia na sala do Dr. Gentleman, assim ele vai querer fazer um espetáculo de exibicionismo maior.

segunda-feira, outubro 04, 2010

Meu Gosto pelo Novo

Particularmente, acredito que se algo não está dando certo deve ser mudado. Acho que essa idéia, que sempre esteve presente na minha mente e fez de mim quem sou, é que, desde criança, fez com que eu não me identificasse com muitas coisas daqui, do Maranhão. Gosto de poder experimentar o novo, ir a lugares diferentes, comer algo que nunca havia experimentado, chocar os sentidos, inverter a realidade, avançar sem saber direito para onde ir. O Maranhão é um péssimo lugar pra se viver essas coisas.

A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, os mesmos jardins, tudo é igual, mas estou triste. Por que será?! Ouço constantemente o próprio maranhense dizer que vivermos em um lugar provinciano, mas essa mesma pessoa é cheia de idéias retardadas, posições anacrônicas, auto censuras, e satisfações pelo mesmo do mesmo. O novo não pode ser expectado porque não há parâmetros na cabeça de quem se enclausura nessa prisão da mesmice. Parece que ser maranhense é estar fadado a essa condição.

Um dia vou embora dessa terra onde tudo é igual. Como um internauta disse, "o Maranhão tem um grande passado pela frente". E de passado tenho horror, principalmente quando ele é ruim.