domingo, julho 27, 2008

A Lei Seca e a gente

Logo no início da Lei Seca, lembro que fiquei apreensivo e receoso. Achei que era rigorosa demais e pensava nas coisas as quais seriamos privados. Mas não demorou muito até que me tocasse. O brasileiro tem forte problema cultural. Ele cresceu desacostumado a cumprir leis, cresceu praticando inocentemente ou não comportamentos anti-éticos. O brasileiro sempre se viu em situações em que tinha que buscar soluções práticas para sobreviver. A história o fez assim.

Os ex-escravos abandonados que buscavam qualquer forma pra sobreviver, os pobres que infringiam pequenas lei e que conseguiam com seus "peixes" uma vaga ou uma oportunidade de modos ilícitos, o jogador de futebol baixinho que desenvolveu seus dribles artísticos pra "furar" e passar por um inglês “altão”. Isso é o "jeitinho brasileiro", foi a nossa forma de sobreviver, a forma como aprendemos a sobreviver. Decorrente dessa nossa história, aprendemos a não cumprir leis, a ultrapassar o sinal vermelho, a furar filas, a driblar sistemas, a ser livres e a fazer um futebol bonito!!! Nada que eu já não tenha comentado por aqui.

O problema reside mesmo no campo da lei, dos nossos direitos e dos nossos deveres. Sei que nunca é bom generalizar, mas estamos falando de cultura e de hábitos. O brasileiro (quase) sempre foi infrator nas situações mais cotidianas possíveis. O pobre, se puder fazer um "gato", furar uma fila no SUS sem se preocupar com os outros que ficam pra traz ou usar uma senha para enviar mensagens de graça por celular, ele quase sempre o fará. O pobre brasileiro (a maioria) é talentoso em cumprir pequenos delitos. Já os ricos, estes possuem esse aspecto cultural potencializado pelo poder, e dessa forma, vemos políticos corruptos, empresários ambiciosos (alguns também corruptos) e granfinos ignorantes tão talentosos em cometer grandes e pequenos delitos.

Infelizmente, a maioria dos problemas do Brasil são resultados dessas anomalias culturais, dessa malandragem. E quando uma lei como essa, rigorosamente fiscalizada, mas justa, entra em prática, ficamos completamente assustados, justamente porque não estamos nada acostumados a cumprir deveres (seria pela falta de costume em ter direitos?). Percebo que leis, nas nossas mentes, não passam de alegorias e quando estas realmente funcionam, nos sentimos assim, presos e assustados.

Vejo a implantação da Lei Seca e a determinação pela qual ela está sendo executada como um novo passo na vida do brasileiro. Um momento de choque e de educação forçada que funciona sim - lembremos das leis envolvendo o cinto de segurança. Funcionou tão bem que hoje a maioria esmagadora da população dirigi com cinto de forma habitual. Não deixa de ser uma medida paliativa. A educação pode ser bem melhor e deve ser planejada, mas essa lei surge como uma bela contribuíção para a cada vez maior inserção do brasileiro no mundo da civilização e do respeito ao próximo.

Não demorará muito para que novas formas de burlar o bafômetro sejam inventadas (se possível), técnicas, que incrivelmente a maioria utilizará. Por outro lado, o surgimento da simpática idéia do "amigo da vez" me faz pensar que estamos nos adaptando rápida e adequadamente à situação.

Sempre me admiro com certas transformações. Muitas vezes pensei que o Brasil não mudaria nunca ao ver notícias ruins que provavam insistentemente a falta de educação do brasileiro. Mas, contraditoriamente, mesmo com uma reflexão maior que ultimamente fazemos sobre nós mesmos, vejo uma instituição acreditável como a Polícia Federal e leis tão bem executadas como a Lei Seca, e simplesmente não acredito. Impressiono-me com esses pequenos aprendizados e com a existência de pessoas tão sérias por traz dessas.

A Justiça Eleitoral também tem me impressionado cada vez mais, apesar de ter achado abusiva a proibição dos comunicadores de Rádio e TV de comentarem sobre os candidatos dessas eleições. Houve uma falta de bom senso nesse ponto, mas por outro lado, entendo que a "casa" dos comunicadores precisa ser organizada, pois a ligação destes com a politicagem é triste e perigosa.

Enfim, aos poucos aprendemos. Tenho fé no meu país e na minha gente. Sim, sou otimista e apesar dos pesares, vejo excelentes e inspiradores exemplos demonstrados por alguns conterrâneos. O que mais me empolga é imaginar esse povo tão fascinante vivendo melhor e bem mais esclarecido quanto si próprio.

sábado, julho 26, 2008

As Emoções de Steven Seagal

Todo bom ator possui um ilimitado repertório de golpes marciais. Tenho pena daqueles que só se preocupam com essa coisa de "expressão". Fracassados!

segunda-feira, julho 21, 2008

O Cavaleiro das Trevas - Primeiras e Sensíveis Impressões

Intrigado, cansado e feliz. Há cerca de uma hora, eu estava saindo da sala de cinema na qual assistia a Batman - O Cavaleiro das Trevas, e ainda sinto um pouco do peso que o filme deixou sobre minha mente.

Frenético em seu ritmo e realista em seu tratamento, essa continuação segue a mesma lógica do primeiro, mas desenvolvendo-se com uma intensidade tão forte que o diferencia de qualquer outro filme de super-herói. Impregnado por um pessimismo que não via desde O Senhor dos Anéis, o filme pouco nos dá a chance de acreditar em algum sucesso para os conflitos dos personagens, transformando a sessão de mais de duas horas e meia em uma experiência realmente cansativa e difícil, o que é certamente positivo por, de certa forma, essas sensações serem resultantes da carga dramática e da fácil correlação que fazemos da vida em Gothan City com a típica situação de medo e insegurança a qual vivemos nas metrópoles. Essa nova série, arrisco-me dizer, trata-se sobre a cidade, seu caos, sua moral frágil, seus bandidos e heróis, e bem mais a dicotomia destes.

Como uma grandiosa promessa que já sentia medo de não ser cumprida a altura, o Coringa revelou-se um indivíduo completamente sem senso, um anárquico. Eu sinto, mas muito mesmo pela morte de Heath Ledger, muito mais após este filme, que deixou marcado e comprovado como em nenhum outro o talento do ator. Intenso, visceral, intuitivo e dominante da técnica, Ledger assusta em cada momento de sua aparição, e de sua ausência também, que através de uma sádica mistura de humor e horror, me causava vários sorrisos nervosos durante a projeção. Com um vilão desses foi realmente difícil permanecer calmo.

Confesso que, mesmo lembrando bem o que foi o Batman Begins, ainda fiquei completamente abismado com a visão que Chritopher Norlan possui da estória do herói e com tudo que reproduziu neste filme. Penso, aliás, que o objetivo do diretor seja realmente nobre no que diz respeito a qualidade, seja na estética, seja no conteúdo; são filmes como esse, possuidores de uma natural tendência industrial mas que trazem consigo um trabalho artístico profundo, que pegam desprevenidamente uma distraída ou ignorante massa, como se fossem armadilhas para o bom gosto. São iscas que levam, aos poucos, um público a refinar seu paladar e torná-lo mais exigente. Ah! E como é bom ver milhares de pessoas correndo para os cinemas jurando que irão assistir a um divertido filme de super-herói, quando na verdade estão experimentando um denso e bem desenvolvido drama policial, que não arrastaria um-quarto desse público. Nesse sentido, adoro cineastas sagazes e propagandas enganosas de estúdios gananciosos. Como é dito em Batman - O Cavaleiro das Trevas: "Às vezes as pessoas merecem algo melhor que a verdade."

Ainda vou postar aqui uma análise mais crítica do filme, mas sinceramente, antes vou assisti-lo mais uma vez. Acho que não estava preparado para o excesso de informação. Deveria sempre estar!

sexta-feira, julho 18, 2008

O Gozo Espetacular da Violência

Tenho estudado e pesquisado mais intensivamente meu tema de monografia, que trata diretamente sobre cinema e violência, o que tem sido revelador em alguns aspectos, incitando-me a refletir sobre certos assuntos. Ao ler o artigo Estéticas da Violência no Cinema, de autoria da Doutora em Comunicação, Ivana Bentes, senti um forte incômodo diante do seguinte trecho:

"Para além do discurso midiático do medo difuso e demanda de repressão encontramos ainda outras diferentes formas de consumir a pobreza, ligadas ao circuito do turismo e das trocas culturais. A menos perversa, e mais antiga, faz pensar na pobreza e miséria como uma espécie de 'museu da humanidade', em que as favelas 'tombadas' (uma tendência inclusive urbanística, com o descarte, cada vez mais claro de qualquer idéia de 'remoção') são pontos turísticos com seu primitivismo-exótico, multiculturalismo e modos de vida em 'extinção'. A cena é comum em Copacabana. Um imenso jipe verde-oliva, apinhado de turista vestidos como se partissem para um safári africano, cruza a Avenida Atlântica saindo do Copacabana Palace. O Jeep Tour leva gente de todas as nacionalidades para ver de 'perto', ou do alto do jipe esse 'habitat natural' de uma pobreza ironicamente incorporada à imagem turística e folclórica do Rio de Janeiro.

[...]

A favela é o cartão-postal às avessas, uma espécie de museu da miséria, etapa histórica, não-superada, do capitalismo e os pobres, que deveriam, dada toda produção de riquezas do mundo, estar entrando em extinção, são parte dessa estranha 'reserva', 'preservada' e que a qualquer momento sai do controle do Estado e explode, 'ameaçando' a cidade."

É claro que chegamos ao ponto em que a violência e a miséria brasileira estão sendo encaradas como espetáculos. Não sei bem se o cinema tem a culpa nesse embelezamento da pobreza ou se somos nós que estamos um tanto incapazes de perceber a realidade, pois, mesmo que esses filmes possuam uma estética que traduz em belo uma difícil realidade, os mesmos são marcados por um realismo visceral que deveria nos chocar. Acredito que o problema esteja mesmo na forma como nos posicionamos quando estamos frente a telona; às vezes, parece que somos turistas visitando o nosso próprio país, tal qual, aqueles do jipe verde-oliva, citado por Ivana Bentes.

Nada Mais Engraçado que a Vida Real

Não sou um fã de Vídeo-Cacetadas e não curto muito postar vídeos por aqui, mas sempre abro um espacinho quando me deparo com situações realmente hilárias. Eu iria escrever e postar um vídeo do comediante de stand-up comedy e integrante do CQC, Rafinha Bastos, mas fica pra próxima. Dessa vez, nada mais engraçado que a própria realidade!


Projétil em Brasa
Como diria um famoso personagem do cinema brasileiro: "Então bota a porra da bandoleira!"




Ataque em Bando
Parece que o homem não está mais no topo da cadeia alimentar.

quinta-feira, julho 17, 2008

O Incrível Hulk

Ao comparar o primeiro filme (Hulk) com este novo O Incrível Hulk, percebemos claramente que existem novas pretenções da Marvel para esta série. O primeiro, dirigido por Ang Lee, procurava desenvolver ao máximo o drama da situação ao qual Bruce Banner se encontrava, estudando a psicologia do personagem e tematizando com solidez o filme. Já nesta continuação, a tentativa foi de contar a estória do personagem através de um estilo mais comum aos utilizados em adaptações de HQ's, no qual o equilíbrio entre a ação, desenvolvimento das personagens e o drama é feito de forma a tornar a narrativa fluída e com rítmo adequado para o tipo de estória. Não que a empreitada de Ang Lee não tenha sido boa, na verdade, foi ótima e fundamentou como em nenhum outro filme de super-herói os poderes e traumas deste personagem, que, no fundo, estão estritamente ligados.

Mesmo que eu acredite que o tratamento dado pela direção de Louis Leterrier a este segundo filme seja mais coerente à estória, sinto e senti maior empatia pela forma com que Ang Lee a contou. A densidade com a qual este último desenvolveu e a utilização de argumentos psicanalíticos/psicológicos como explicação para os traumas do protagonista, indiretamente deram ao filme sensações mais vicerais e angustiantes, além de nos conceder explicações quase plausíveis para a mutação do personagem. E essa capacidade de tornar a estória mais emotiva quando racionalizada parece ser inexplicavelmente um trunfo comum às estórias de Hulk. Da mesmo forma, em O Incrível Hulk, os momentos mais emocionantes e dramáticos estão diretamente ligados às questões psicológicas de Bruce Banner, quando estas são desenvolvidas.

Com um início ágil, o filme, logo após nos apresentar a nova situação e esconderijo de Bruce Banner, nos deixa a par da ameaça e do constante desespero do personagem em se livrar de seu "poder". Usando a favela da Rocinha como cenário para o esconderijo de Banner, a produção fez um ótimo trabalho ao escolher ângulos fabulosos compondo uma bela fotografia, e ao explorar, em alguns momentos, o caótico ambiente do morro, como na perseguição que os militares norte-americanos fazem pelas ruelas, lajes e becos traiçoeiros do morro. O trabalho de Direção de Arte e a produção no geral foram tão bem realizados que o íncomodo típico que nós brasileiros sentimos ao assistir filmes hollywoodianos filmados no Brasil foi quase imperceptível pela escassez de deslizes na representação da Rocinha e da vida na favela, tropeçando apenas aqui e ali.

Com uma urgência e rítmo intenso, o início do longa praticamente em nada parece com a cuidadosa apresentação das personagens de seu antecessor e, curiosamente, uma nova versão do auto-experimento científico de Bruce Banner que o tornou em Hulk foi mostrada (nesta, sua namorada Betty Ross quase morreu no incidente). Investindo mais tempo nos momentos de ação, o roteiro se torna mais atrativa e prende fortemente o espectador, ao passo que mostra também as consequência traumáticas da "pós-transformação em Hulk" e de toda a ação ocorrida, assim como a carga emocional deste por ter que, constantemente, manter-se isolado como um fugitivo e ver-se sempre a um passo de "surtar" novamente. Dessa forma, reencontramos um Bruce Banner amargurado, que sofre o peso de sua natureza mutante e do que ela pode criar.

Composta essa nova versão cinematográfica, nada mais normal que a mudança de elenco. Bruce Banner, antes atuado por Eric Banna, agora ganha um novo e competente interprete, Edward Norton. Se Banna possuía um físico mais avantajada (malhado) que dificultava uma aparência mais frágil, Norton já possui um corpo esguio, mas diferentemente do primeiro, exibe aspectos psicológicos que imprimem maior segurança ao personagem. A verdade é que a fragilidade típica de um personagem inseguro e possuidor de certos desajustes emocionais acaba sempre prejudicada por alguns desses aspectos. Se eu escolhesse entre as atuações dos dois, mesmo sendo um adimirador do trabalho de Norton, ficaria com a de Eric Banna, por considerá-la a mais coerente. No entanto, vale ressaltar que certas mudança têm mais a ver com escolhas tomadas pela direção, do que pela composição feita pelos atores.

Edward Norton, porém, é bastante eficiente ao mostrar o peso dos problemas e restrições do personagem sobre si. Da mesma forma, a atriz Liv Tyler, que interpreta Betty Ross, funciona muito bem com Norton, imprimindo química ao casal. Mas infelizmente, o roteiro esquece de sustentar o lado da personagem como uma importante pesquisadora, deixando-a apenas como a mera namoradinha do herói. Já Tim Roth, constroi um Emil Blonsky interessante e ambiciso, e até certo ponto, um tanto obcecado e ameaçador, até para o próprio Hulk.

Superando o primeiro filme no que diz respeito a efeitos especiais, O Incrível Hulk impreciona pela veracidade do próprio Hulk, mas não a ponto de esquecermos de seu caráter digital. Dessa vez, com uma pele composta por uma coloração mais escura que o torna mais ameaçador, o Hulk ganhou um caráter mais verossímio, chagando a impressionar por alguns instantes pela preocupação dos técnicos em tornar o personagem em algo "real" e palpável. A única falha na composição do herói fica mesmo nas suas expressões faciais sempre indefinidas e quase sem emoções, tornando praticamente indecifrávis os pensamentos e as sensações de um personagem que é, na verdade, a forma física e surtada do inconsciente de Bruce Banner.

Em meio a incerssões bem sucedidas de algumas cenas cômicas, o momento em que Betty Ross fica completamente irritada com um taxista, ao passo que, ironicamente, Bruce aparenta total postura parcial a situação; é o único que revela-se ineficaz por não possuir qualquer elemento surpresa pela obviedade da tirada cômica. Possuíndo uma série de pequenas situações forçadas, o final peca ao investir quase que completamente na ação desenfreada e, novamente, na criação surpresa e desnecessária de um novo vilão.

Preocupado em não apenas referenciar os quadrinhos, o diretor Louis Leterrier faz homenagens óbvias à série de TV dos anos 80, como o plano das íris dos olhos de Banner no momento da transformação em Hulk, ou o próprio título do longa que é a referência mais direta à série. O filme, aliás, se dá ao luxo de explorar as diversas possibilidades estéticas ou narrativas assumidas variadamente nas muitas versões dos quadrinhos. Hulk foi uma das HQ's com mais adaptações diferentes da mesma estória e, talvez, a utilização de outra versão, no filme, do momento em que o protagonista sofre o incidente laboratorial que o transforma em Hulk, seja uma liberdade absorvida pela adaptação cinematográfica dessa característica da estória do herói, a de possuir vários início e versões.

De um modo geral, o tom utilizado nesse novo filme sobre o super-herói verdão é mais adequado que o da versão anterior, por ser mais leve, menos denso, com mais rítmo e não menos dramático, sem, com isso, torná-lo pobre e superficial. Essa mudança bem sucedida confirma que, em certos casos, melhor que utilizar um estilo denso e racional que transforme uma obra pop em uma arte mais rebuscada, é desenvolver o filme dentro de um estilo mais atrativo e coerente à proposta da estória, mas que mesmo assim faça jus ao potencial desta e não duvide da inteligência de seu público. São justamente estas as maiores qualidade de O Incrível Hulk.

terça-feira, julho 15, 2008

Uma Mídia mais Discreta?

Se no "Caso Isabella" eu discordava da cobertura excessiva e sensacionalista que extrapolava o limite do bom-senso, tanto por parte dos profissionais de comunicação quanto pelos milhares de receptores; frente a cobertura deste mais novo e triste caso de uma criança atingida pela violência, admito que alguns segmentos de mídia têm feito o seu trabalho de forma mais equilibrada, sensata e buscando encontrar, por trás dessa veiculação, um sentido e uma relevância que vão além do interesse público ou da audiência, mas que procure desvendar o contexto por trás dessa situação. Algo que não aconteceu no primeiro caso, que apenas com mais de um mês alguma discussão rasteira sobre violência doméstica e suas causas fora levantada.

Nesse caso ocorrido no domingo, dia 6, policiais militares foram acusados de disparar pelos menos 16 tiros contra o carro ao qual João Roberto, de 3 anos, se encontrava com sua mãe e irmão. A criança teve morte cerebral logo na segunda-feira, enquanto os dois PM's envolvidos na operação foram presos em um batalhão na Tijuca. Eles afirmaram que estavam trocando tiros com ladrões e negam terem atirado contra o carro em que o menino se encontrava. No meio da semana, o vídeo de segurança do prédio em frente ao ocorrido revelou que os policiais dipararam contra o carro, indicando um erro operacional, e dos grandes.

As reportagens sobre o ocorrido apuram os fatos de forma mais cuidadosa, além da habitual tentativa jornalística de comover. O que a princípio era noticiado como um típico caso de violência policial, passou a informar um possível despreparo da polícia, tanto psicológico como operacional. A questão inevitavelmente se aprofundou. A discussão sobre a deficiência dos policiais militares surgiu e vários meios de comunicação optaram por não impor papéis e funções aos personagens dessa história, com o intuito somente de sensacionalizar este, que é mais um fato complexo de nossa sociedade. Até a possibilidade dos policiais realmente terem trocando tiros com ladrões está sendo bem divulgada pela mídia, criando uma verdadeira situação reflexiva que vai para longe da simples comoção, vitimação e da incitação de raiva na população.

Tenho uma forte impressão que essa postura da imprensa nesse caso tenha ocorrido por esse fato caracterizar-se como parte de uma discussão já em pauta desde o ano passado pelo cinema e por outras mídias. Hoje, há uma verdadeira inquietação para se entender a instituição policial brasileira e como esta se encontra, já que ela é fundamental para a manutenção do equilíbrio social, principalmente em um país subdesenvolvido. Fiquei um pouco surpreso com a forma de tratamento da mídia em um caso que poderia ser muito bem explorado, aproveitando o sentimento de revolta induzido, intensamente utilizado pela imprensa no caso de Isabella Nardoni. No entanto, a reflexão sobre as condições da polícia foi quase inevitável de surgir no caso do pequeno João, já que envolvia diretamente policiais militares do Rio de Janeiro. E acredito, a imprensa não se submeteriam a tamanho indiscrição em um caso tão delicado.

A verdade é que a violência no Rio não é novidade, assim como a insegurança atual que sentimos em relação a instuição que deveria nos trazer um mínimo de segurança. Considerando esses fatores, talvez seja mais fácil de entender as diferenças consideráveis que existem entre o Caso Isabella e o de um menino que, infelizmente, será apenas parte de uma estatística tão comum à cidade. Nesse momento, a comovente revolta da massa realmente faz falta.

E então. Será uma mídia mais discreta ou exitem mais pressões por trás da cobertura de um fato como este ocorrido no Rio de Janeiro?

sábado, julho 12, 2008

Wall.E - Primeiras e Sensíveis Impressões

Quando escrevo sobre um filme e intitulo o texto de "Primeiras e Sensíveis Impressões", a idéia que tenho, obviamente, é de relatar o que senti e as primeiras impressões vindas do filme. Isso tem sido comum e relativamente fácil de se fazer, mas em si tratando de Wall-E, nas diversas vezes em que comecei a escrever este post me vi buscando um texto mais frio e distante, procurando não explorar e muito menos expor um pouco da experiência bem pessoal que foi assistir a essa animação.

A verdade é que dificilmente uma pessoa que assiste a Wall-E sairá a mesma ou sem um mínimo de reflexão. O filme é emocional, certamente. Mas incrivelmente racional também, como uma mistura magnífica que mais parece Steven Spielberg e Stanley Kubrick na direção de um mesmo filme, protagonizado por Chalie Chaplin. E comparar o robozinho com o ator é mais que um elogio ao trabalho da Pixar.

A princípio, Wall-E parecia ser uma ousada estória sobre a vida solitária de um robô programado para limpar uma Terra completamente poluída. No filme, um cenário verdadeiramente angustiante. São quase 30 minutos sem falas, apenas com gestos e rotinas, para então descobrirmos que a estória se trata da paixão entre dois robôs, que no decorrer do filme, abandonam suas diretrizes em prol do "amor". Aparentemente, uma idéia maluca e água-com-açucar, mas a verdade é que trata-se de um cinema de primeira.

O robô Wall-E é um personagem fascinante e irresistível. Não imagino quem possa ignorá-lo e não se comover logo nos primeiros instantes com a alma (isso mesmo) e sensibilidade do robô, que é uma singela homenagem a humanidade. E é isso que o filme de fato acaba por nos mostrar ser, uma homenagem ao homem e sua sensibilidade, e não é à toa que Wall-E guarda em sua casinha improvisada diversas lembranças bonitas e singelas do que foram as pessoas que naquele lugar já residiram. O mesmo indivíduo capaz de destruir o mundo em que vive e de discriminar o próximo por pura ignorância, é também aquele que ama, dá as mãos ao outro. O personagem consegue sempre ver o melhor do homem em todo o longa e, curiosamente, ele sempre me pareceu a versão mais pura e inocente deste, ou seja, aquela sem rancor e traumas, que não tem medo de sentir, se emocionar, se apaixonar ou parecer bobo.

A verdade é que, ao assistir Wall-E, pude observar o melhor do que podemos ser, e vendo aquele personagem inserido em um contexto de total destruíção de nosso maior bem, fica clara a mensagem de que somente essa versão de nós é capaz de dar o devido valor. Não demora muito para entendermos o porquê da total poluíção do planeta, quando na metade do filme, Wall-E encontra os humanos e, junto com ele, descobrimos que o homem do futuro não passa de um ser amorfo, ignorante, acrítico, que perdeu até sua capacidade de locomoção por total entrega às facilidades tecnológicas e que, ao primeiro e surpreso contato, todos parecem exibir atenção e simpatia, mas por pura carência e solidão. O filme vai mais além em seus argumentos, tratando do consumismo e da vida cada vez mais envolta de um tecnicismo e por frias diretrizes de um mundo com olhares voltados para valores superficiais.

Não foi possível não me emocionar. Para alguns, o filme funciona como uma verdadeira redescoberta do que somos; já para outros, como uma feliz relembrança, enquanto que uma outra parte apenas ignorará, assim como os humanos de Wall-E, que vivem deitados pela atrofia de seus corpos em cadeiras flutuantes e com uma espécie de TV (é uma mídia) frente aos olhos, incapazes de olhar para o lado e de sentir algo genuinamente humano e real. Como a paixão de Wall-E por Eva.


A Comoção de Courtney

Já que falei de Wall-E, não vou deixar de comentar a respeito de um curioso caso sobre o filme. Courtney, uma jovem norte-americana, enviou um vídeo para a Pixar que era um registro do que ocorria sempre que assistia ao tease-trailer da animação lançado a meses na internet. Coutney se emocionava, inevitavelmente, sempre que via o olhar e escutava a voz do protagonista. Depois disso, a jovem passou a receber e-mails constantes de alguns funcionários da Pixar que ficaram comovidos com o seu vídeo. A equipe acabou convidando Courtney a comparecer na festa de comemoração do lançamento do filme, e lá foi homenagiada pelo próprio diretor.

Segundo o namorado de Coutney, que se encontrava também no evento:

"Então [Andrew Stanton] disse: 'Há seis meses, quando o primeiro trailer de Wall.E foi lançado, estávamos apenas na metade do processo de realizar o filme e não sabíamos ao certo como iríamos concluir o projeto. Estávamos exaustos. E aí, um dia, um vídeo apareceu no YouTube mostrando uma garota assistindo ao trailer. E toda vez que o via, ela chorava. Quando vimos aquilo, soubemos que estávamos indo na direção correta'.

Todos no cinema riram deste caso, demonstrando que sabiam do que ele estava falando.

'Bem', Andrew Stanton disse. 'Nós convidamos Courtney para estar aqui esta noite.'


Um burburinho tomou conta do cinema. Quando virei e olhei para minha namorada, ela estava boquiaberta pela surpresa. Andrew Stanton pediu que ela se levantasse e mil pares de olhos se viraram para fitá-la e, então, um ensurdecedor aplauso começou. Courtney ficou parada e, sem saber o que fazer, soprou beijos para os artistas e técnicos que fizeram o filme. Foi uma das coisas mais emocionantes e surpreendentes que ela já viveu e que já testemunhei. E a Pixar fez isso apenas porque o vídeo dela havia tocado seus artistas, deixando-os otimistas com relação ao filme que estavam fazendo. E eles quiseram retribuir o favor.

(...)

A Pixar nunca tentou usar essa história para promover o filme. Eles realmente fizeram isso exclusivamente porque ficaram tocados pela reação de Courtney ao trailer, porque acharam que isto seria algo bacana de se fazer e porque acreditaram que isto agradaria também aos seus funcionários - os quais, pelo que vi, eles tratam com enorme respeito".


(trecho extraído do post "Pixar, Humanidade, Emoções" do blog Diário de Bordo, de autoria de Pablo Villaça)

O relato completo e o vídeo de Courtney podem ser vistos aqui.

E... Bom! O trailer de Wall-E, pra quem estiver curioso.

terça-feira, julho 08, 2008

Festival de Cinema

Festival de cinema, pra mim, é igual a festa. E neste último Guarnicê não foi diferente. Mas como estive mais ocupado, não fui todos os dias e não assisti metade dos filmes que concorreram aos prêmios do festival. Mesmo assim, consegui assisti a alguns bons longas-metragens como Os Desafinados e AVia Láctea.

Em relação aos curtas, pude observar algo interessante. Prefiro um bom filme a uma animação, no entanto, nos festivais sempre sou completamente fisgado por alguma animação. Ano passado terminei o evento encantado com o curta cearence Vida Maria, já neste ano, foi o paulistano Pajerama que me fascinou. O anime narra a estória de um índio que passa por uma torrente de situações inexplicáveis; metais, concretos e sinais da vida moderna surgem misteriosamente na virgem selva brasileira.

Panjerama trata de fatos misteriosos e apavorantes aos olhos do jovem índio. A produção, com o intuito de ressaltar o impacto e estranhamento das situações, utiliza uma trilha típica de suspenses baseada quase que completamente em ruídos, sem abdicar da temática indígena. O resultado é excelente. A forte trilha completa tão bem a idéia do roteiro, que os sinais de nossa modernidade e civilização no meio do universo particular dos índios de um Brasil do século XV lembram facilmente as típicas cenas cinematográficas no qual um homem mantém, pela primeira vez, contato com um ser ou tecnologia extraterrestre. E o melhor, claro, é o caráter hiperbólico do roteiro, que busca no exageiro simbólico da invasão da civilização européia à civilização indígena brasileira, uma forma de exaltar o impacto causado na cultura indígena e no próprio índio da época, quando estes viram seu espaço invadido e destruído.

domingo, julho 06, 2008

Lost: Último Post do Ano

Antes de ser um fã de Lost, fui um telespectador atento como sempre procuro ser e que todas as terças-feiras, às 11 horas, estava presente no sofá a espera de mais um episódio. Foi justamente essa atenção e análise que me levaram a adimirar tanto essa série. Julguei por algum tempo que, por a trama ter cada vez mais espaço de si ocupado pelos mistérios e por todo aquele deslumbrante e criativo pano de fundo, a série esqueceria com o tempo de seus personagens e acabaria desenvolvendo sua estória de forma mais superficial, voltada para ação e mistérios. Eu via isso como um caminho natural, afinal, é fácil se perder em meio a uma estória tão complexa que terá 6 anos de duração.

No entanto, o caminho trilhado é completamente inverso. É adimirável como a série está cada vez mais voltada para os personagens e como tudo que ocorre ali está diretamente relacionado a vida destes, o que me certifica que Lost é de fato um sólido e bem-sucedido projeto. Mais impressionante ainda é ver a densidade com que a série vem se desenvolvendo; os novos, dramáticos e comoventes acontecimentos tem provado e aprovado a capacidade dos roteiristas e diretores de desenvolver essa estória com sensibilidade e delicadeza. Ver, por exemplo, os Oceanic's Six sair da ilha e tentarem seguir suas vidas guardando às duras penas os impactantes fatos do passado é comovente e emocionante, assim como o difícil percurso que estes personagens vêm trilhando.


There's no Place like Home - Parte I e II



Enquanto no momento final do último episódio da terceira temporada descobrimos que os flashbacks de Jack são na verdade flashforwards de seu futuro fora da ilha, no final dessa quarta temporada, a grande surpresa é substituída por uma eficiente ação e uma sequência de eventos impactantes durante todo o episódio.

Esta última parte de There's No Place Like Home tem início com a última cena da terceira temporada, revelando o que acontece após esse momento e mostrando mais uma vez a curiosa propriedade dessa série em resignificar suas cenas ao mostrá-las sobre nova perspectiva, seja por um olhar novo ou por apresentar pedaços a mais. Na ilha ou no tempo que julgamos ser o presente, os personagens estão frente a possibilidade de uma fuga da ilha, quando conseguem localizar o helicóptero para se locomoverem até o cargueiro. Jack e Sawier estão em busca de Hurley, o que ocasiona em mais um debate sobre Fé x Ciência entre Jack e Locke, mas agora com o primeiro levemente balançado em seu ceticismo. O médico, aliás, passa por uma mudança profunda nesse episódio, e o fato dele começar a "acreditar" somente ao ver uma ilha mover-se na sua frente soa bastante metafórico ao ditado "A fé remove montanhas", quando sabemos que parte da autoria do ato foi de John Locke. Descobrimos que Kate e Sayid desenvolvem um plano juntamente aos Outros para pegar Kiemy e sua tropa, além de resgatar Benjamin Linus. A cena da troca de tiros é bem atípica de Lost, mas muito bem colocada na trama; melhor mesmo é a briga "mata-ou-morre" entre os dois veteranos militares, Sayid e Kiemy, em uma cena muito bem editada, considerando o prazo mínimo de filmagem e as possíveis falhas decobertas apenas na pós-produção. Vale destacar também as ótimas inserções dos time-travelling bunnies, revelando rapidamente, em alguns eventos, a visão de outros personagens.

Mas como sempre, o melhor de Lost fica com o drama de seus personagens. Então, momentos como o de Sawier pulando do helicóptero para diminuir o peso deste e possibilitar o resgate, ou o descontrole de Sun ao ver a morte do próprio marido, são completamente dramáticos e comoventes. Não menos emocionante é a despedida de Benjamin Linus da própria ilha, já que este nunca mais poderá voltar ao lugar.

Concluindo a maioria dos arcos dramáticos abertos nessa quarta temporada, No Place Like Home é também um episódio que dá quase todas as respostas às questões abertas durante os últimos 12 episódios em relação ao resgate, fazendo a temporada fechar em si própria com solidez e coerência. Esse final de temporada marca também o momento em que quase não distinguimos o verdadeiro tempo presente, pela proximadidade temporal das cena na ilha com as das cenas dos flashforwards, chegando, ao fim do episódio, a nos fazer acreditar que a última cena, que é teoricamente um flashforward, seja na verdade uma cena do novo tempo presente que a série acompanhará nesta próxima temporada. Eu sei, é uma loucura!


Jack Shephard, o Herói Desgraçado

A princípio, pensei em usar como título "Jack Shephard, o Herói Trágico", porém de trágico Jack não tem nada. O destina não lhe pregou nenhuma peça e nem agiu de modo inexorável na sua vida; ao contrário, o médico cirurgião espinhal sempre teve o poder de decisão e foram justamente as suas escolhas que levaram-no ao seu atual fundo do poço. Três anos após o resgate, Jack se tornou um alcoolátra, depressivo, que se empanturra com os remédios que receita aos seus pacientes. Consumido pela mentira que ele mesmo criou após o resgate e que foi o principal conservador dela, no atual momento da série, Jack faz constantes viagens aéreas de Los Angeles à Sidney esperando que o avião caia no Pacífico. O herói enérgico, obsecado e controlador de um dia, em uma reviravolta enauseante, passou a ser a imagem do descontrole e arrependimento, sofrendo por sua fé tardia e não-cultuada.

Uma das maiores criações dos idealizadores de Lost foi com certeza a de um herói coerente à nossa época. Diferente do herói épico, que com toda a sua nobreza, honra e bravura, praticava seus heroísmos, Jack é apenas um médico que tem a função de salvar pessoas inerente a profissão. Mas não bastava apenas fazer do personagem um médico para transformá-lo em herói, era preciso criar nele motivações íntimas que o fizesse tomar, mesmo que superficialmente, atitudes heróicas e nobres em uma época de cinismo, em que essas palavras soam piegas.

Essas motivações estavam, então, na relação que Jack tinha com seu pai desde a infância, até a morte deste último. Criando sempre uma imagem paterna e inalcançavel de si para o filho, Christian Shephard mexeu e remexeu na auto-estima de Jack, tornando-o num eterno perseguidor da imagem inalcançavel e irreprodutível do próprio pai. Naturalmente, todo filho busca no pai o referencial, e a competitividade na relação paterna é algo comum; no entanto, a imagem denegrida de si e a postura de Christian potencializaram a busca de Jack à uma verdadeira obsessão. Crescendo nessa relação conturbada com o pai, Jack, na primeira oportunidade, toma dele o posto de cirurgião-chefe ao denunciá-lo por alcoolismo no ambiente hospitalar, e indiretamente acaba sendo o principal culpado pela morte do pai. Todas essas atitudes de Jack foram cometidas, não com maquiavelismo e racionalmente, mas quase que inconsientemente, como um Complexo de Édipo da fase adulta, em que o filho tenta tomar o lugar admirável e "intocável" do pai.

Mesmo conseguindo assumir esse lugar, Jack continua insistentemente correndo atrás de preencher o seu vazio, ainda precisa tomar decisões, salvar, concertar coisas, estar certo, ser o médico perfeito, igual a tudo o que Christian se mostrou ser na infância de Jack e o fez pensar que ele não era e nem poderia um dia ser. Para o médico, a situação de um acidente aéreo com muitos sobreviventes era perfeita, já para os autores, esse era o personagem perfeito que puderia assumir coerentemente a postura de herói. Mas talvez, no fundo, Jack não seja um herói honrado e corajoso, mas uma personalidade dilacerada que busca preencher a si mesmo. Uma busca que o leva a ignorar opiniões de outrem, a possuir uma relação quase doentia com seus pacientes e a querer concertar qualquer situação errada, mesmo que estas devam permanecer assim.

Completamente cético e entregue à respostas científicas, estar na ilha passou ser a fonte de outro conflito para Jack: acreditar ou não nos constantes indícios sobrenaturais. O percurso do médico passa a ser marcado pela ignorância desses fatos inexplicáveis e, unindo isso à luta para conseguir um resgate a todos, o personagem comete erros constantes e toma decisões equívocas, culminando em um resgate trágico ao qual ele foi responsável e que apenas 8 pessoas puderam sair, todas com a consciência doente por saberem que uma maioria ficou e por sustentarem uma grande mentira que, automaticamente, torna a vida pós-resgate pior do que a vida de náufrago. No último episódio da 4ª temporada, vemos esse Jack completamente perturbado, consciente de todos os seus erros, e agora, com uma nova chance de concertá-los. O personagem que antes era odiado por uma metade, apenas aceito por outra e que tinha seu brilho resumido apenas no fato de ser o protagonista, agora revela-se, ao meu ver, um dos mais coerentes e intrigantes da trama, alcançando Jonh Locke e Benjamin Linus, mas nem por isso um dos mais aceitos. E essa característica - possuir um protagonista não tão simpático - faz de Lost uma série um pouco mais incomum.

sábado, julho 05, 2008

Monografia, Ansiedade e Cinema

Eita, momentão! Outro dia estava caminhando normalmente, correndo atrás de cumprir com minhas obrigações, quando simplesmente caio em mim. "Acabou!". Isso mesmo, acabou! Minha graduação em Comunicação Social acabou, está no fim. Tenho cerca de 5 meses para terminar e entregar minha monografia, e finalmente, tornar-me um profissional de comunicação, um Radialista.

A certeza veio como um choque e cheia de uma forte ansiedade. O famoso "E agora?!" comum às pessoas que se formam já invadia a minha mente e o tempo se transformara em preciosidade, cada segundo passou a ser fundamental na definição dos novos rumos. Há cerca de 5 anos atrás, estava eu em uma simples sala de uma escola de Ensino Médio, muito bem concentrado nos planos que já traçava. Sempre fui assim, planejei tudo o que queria para o meu futuro desde os 17 anos, consegui cumprir alguns, outros realmente parecem estar fora de meu controle, mas não gosto de me entregar para essa idéia.

Naquela época, parecia tudo muito distante, mesmo que eu já desse atenção redobrada aos meus objetivos. Passei de primeira no meu vestibular, entrei no curso de teatro, me formei como Ator, mas veio o primeira dos empecilhos: não consegui transferir meu curso de Rádio e TV para a UFF em Niterói, como eu planejava. Isso só não se revelou algo tão ruím porque eu mesmo me dei conta de que não estava preparado, não era o momento.

Hoje, perto de me formar, sinto o tempo correr, tantas coisas a fazer, mas muito otimismo. Confio no meu taco e sei onde quero chegar. A ansiedade é inevitável, mas enquanto ela me consome, vou ao cinema e "morro" dopado por esse vício saudável.