quinta-feira, outubro 25, 2007

Tropa de Elite - Parte I

A resenha abaixo sobre o filme Tropa de Elite está dividida em duas partes devido o tamanho. O filme merece uma análise detalhada e tive que ater-me a vários detalhes importantes.

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Quando assisti pela primeira vez ao trailer de Tropa de Elite no cinema, pensei: “Que bom! O lado mais intrigante dessa história vai ser contado”. Já esperava muito, mas não esperava tanto, pois o filme tinha a missão de abordar os vários paradoxos e toda a complexidade que envolve a situação da violência, corrupção e falta de moral na sociedade brasileira, através da mais contraditória instituição, a polícia. Tropa de Elite, entretanto, consegue fazer tudo isso e muito mais com grande competência.

O filme nos apresenta à vida do capitão Nascimento enquanto integrante e líder de uma equipe do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar, o B.O.P.E. Ao mesmo tempo em que tenta combater o tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro, o capitão Nascimento luta para encontrar um substituto e poder cuidar da mulher e do filho que vai nascer. Paralelamente, os policiais aspirantes, Matias e Neto, descobrem casos de corrupção dentro do batalhão em que trabalham. Ansiosos por agir contra o tráfico e à corrupção policial, os dois personagens entram para o B.O.P.E. e tornam-se candidatos a substituírem Nascimento.

O filme tem início com a violenta cena em que Matias e Neto estão emboscados em um grande e violento tiroteio. Narrado em off pelo próprio capitão Nascimentos, o filme logo no início nos causa impacto pelas informações e visões do personagem a cerca da violência, do tráfico e da situação da polícia. Em seguida, somos apresentados aos personagens e à forma como a polícia funciona. È nesse ponto que o filme cresce, ao transformar os fatores daquela (da nossa) realidade social e da polícia (principalmente) em uma grande teia na qual ninguém é um verdadeiro culpado. E o longa vai mais além. Mostrando, a princípio, situações de corrupção da polícia em que poderíamos rapidamente julgar a instituição e quem faz parte dela, logo somos levados a reconhecer as prováveis causas da situação da polícia. E através da ótica do Capitão Nascimento e pelas circunstâncias de conflitos entre policiais e universitários/sociedade, descobrimos que os primeiros são condicionados e obrigados a agirem de determinada forma, já que se encontram em situação extrema (Ganhar apenas quinhentos reais para subir o morro e arriscar a vida é uma situação extrema), e que a classe média e alta possa ser a verdadeira financiadora do tráfico.

Trabalhando essa realidade, e mexendo em seus vários pontos sensíveis, o roteiro busca mostrar o lado da polícia ao mesmo tempo em que denuncia os atos corruptos e violentos desta e do tráfico. Quando vemos o B.O.P.E. agir na favela, matando sem remorso um traficante e em seguida agindo com violência contra universitários, logo o capitão Nascimento deixa claro sua atitude ao mostrar que essa violência promovida pelo B.O.P.E. é um ato “necessário”, conseqüente do tráfico e dos financiadores destes, ou seja, do universitário ou do indivíduo qualquer que usa de seu dinheiro para comprar drogas. E o “mal necessário” da violência pela policia é infelizmente inegável até em nossa própria realidade, quanto mais em uma cidade sitiada pelo tráfico, mostrando o quanto a situação do Brasil é problemática. Necessitar de um herói violento para que a sociedade permaneça em equilíbrio é, nada mais, nada menos do que uma grande corda bamba sobre a qual uma nação pode estar; e não podemos negar que são personagens como capitão Nascimento ou batalhões como o BOPE que estão mantendo o equilíbrio.
Ao mesmo tempo que vemos o Batalhão Especial agir contra o tráfico e a corrupção de maneira até romântica, estabelece-se um vínculo forte entre o público e o B.O.P.E., pois este passa a estar entre o bem e o mal, responsável por concertar uma situação que não pode ser feita senão através da violência e da guerra, e isso o batalhão faz com competência. E estabelecendo ainda mais essa relação com o público, o Batalhão ainda é contra a corrupção policial e também os maiores inimigos do tráfico.

2 comentários:

Polyana Amorim disse...

sabe o que mais me anima nessa safra de produções nacionais? é justamente a opção que eles dão ao espectador de decidir por si só o que é certo ou não...no Tropa de Elite, o Zé Padilha mostra a realidade sem puxar brasa pro lado do BOPE, por mais que aparente, dos universitários ou de quem quer que seja...ele fez um recorte de uma realidade muito mais complexa que envolve tbm outras esferas sociais...entretanto, era inevitável que o cap. Nascimento pagasse de herói...confesso que fiquei chocada qdo percebi que as pessoas riam das cenas de tortura no treinamento...gente, aquilo é desumano...me lembrou a época do treinamento espartano mostrado em 300...pra mim o Cap. Nascimento é o que temos, mas não deveríamos ter...ele é reflexo de uma má administração governamental [ e nós somos responsáveis por isso]que por segurança própria e de seus companheiros faz o que faz pra ver se está vivo no dia seguinte...mas, a solução para o tráfico e outra mazelas sociais não é um exército de capitães nascimento mal-humorados e perversos que mandam executar a sangue frio...violência só gera violência é um clichê mais que verdadeiro que deve ser entoado qtas vezes for necessário.

[gostei do texto, Caio!]

Rafael Carvalhêdo disse...

Valeu, Pol!

Pois é! E essa visão de Pdilha, de mostrar os vários âmbitos de um mesmo problema, que torna o filme tão bom.

E o mais incrível é que ele ainda tenta trabalhar, ou pelo ao menos sitar, um outro âmbito que não teve espaço no filme; naquela cena em que em off o Cap. Nascimento fala que ele não sabe qual foi o tipo de vida do Baiano, que ele pode ter sofrido muito e tal, mas que não ia "aliviar" por isso.

E de fato, esse foi um ângulo que não coube no filme. Interessante, mas não cabia mesmo mostrar o porquê de pessoas comuns se transformarem em bandidos.

Mas um filme só não tem a obrigação de trabalhar tudo, né. Cidade de Deus se encarrega muito bem de mostrar esse lado do favelado e dos traficantes. Afinal, um conjunto de filmes sobre uma mesma realidade é mais interessante do que um filme que tenta falar tudo, né.

Pol, e essa coisa das torturas mesmo, eu não entendi as rizadas... muita gente culpa Padilha, mas parece que as pessoas não pensam o mínimo a respeito do que vêem.