Nos últimos períodos do meu curso na universidade, fui meio que obrigado a escrever um roteiro, e essa era a oportunidade que eu precisava. A princípio, tive algumas dificuldades de criar uma estória, mas quando comecei e peguei a ‘manha’, a coisa foi dando certo. E aqui estou, terminei de escrever meu primeiro roteiro de cinema, intitulado “Imagens de uma Família Sem Retrato”.A estória narra as dificuldades de uma família que teve uma perda inconfortável do pai, enquanto Dona Dina, a viúva, sofre depressivamente a falta da imagem do marido. Após o roubo que Pedro faz de uma câmera digital, Josiel tenta concertar a situação para que a mãe de ambos não sofra ainda mais. Josiel decide, então, dar a câmera à mãe, colocando Pedro em uma situação delicada, já que ele possuía misteriosos objetivos com o objeto.
Digamos que isso seja uma espécie de sinopse. Essa é uma estória que tenho o maior orgulho de ter escrito, por ser diferente, complexa, sincera e sensível. Talvez eu não esteja sendo nem um pouco modesto, mas gosto mesmo da estória.
Da experiência de escrever um roteiro, pude perceber algo muito estranho. Diferente das outras artes, o ato de escrever ou roteirizar não me pareceu e não me ocorreu como uma experiência que alimente o ego, como na maioria das outras artes. A sensação que tive, apesar de ter a plena noção de que fui o único e indiscutível autor da obra, foi a de que a estória e os personagens eram responsáveis por si próprios, como se a trama já existisse antes mesmo de ser escrita e os personagens donos de seus próprios destinos. Ou seja, é como se às vezes eu não me sintisse o inventor, o que confesso, é muito estranho.
Fiz um roteiro do jeito que eu gostaria de assistir e da maneira que julgo correto e interessante. Aprendi muita coisa escrevendo-o e pude, também, pôr muita teoria que defendo em prática. Descobri que personagens devem ser tratados com sinceridade, como se fossem reais, e que uma estória nem sempre está nas mãos do autor. Outro elemento importante que pude observar, é que pra se escrever uma estória complexa é preciso duas coisas: primeira, dois pontos distintos em uma mesma estória, como um início e um fim, de onde você possa partir à onde onde você possa chegar (digamos que seja uma técnica pessoal); com isso, percebi que às vezes é mais fácil encontrar motivos interessantes para um fim do que encontrar um fim interessante para motivos. Segunda e mais importante, seria a tão famosa motivação dos personagens - cada personagem têm a sua, com seu caminho, tomando decisões diferentes e agindo de formas distintas em uma mesma situação. Assim acontece na complexa vida real, cada um tem os seus objetivos e corre atrás deles da maneira como lhe cabe.
Relendo centenas de vezes o roteiro, eu me dei conta de que reproduzimos aquilo que vemos, não no sentido de ‘copiar’, mas no que diz respeito a estilo, criatividade e prioridades. Essa estória, portanto, é um reflexo de tudo que já assisti, e se alguém peceber elementos de ‘Lost’ nela, não se surpreenda.
Hoje nem consigo me imaginar criando-a, mesmo lembrando do momento em que as idéias vieram à minha cabeça. Mas isso não importa. Enquanto estórias surgirem e a imaginação fluir, está bom demais. Já tenho outras idéias pra serem desenvolvidas. Agora vou tentar filmar “Imagens de Uma Família Sem Retrato”. Um desafio maior, mais trabalhoso e não menos empolgante.
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