domingo, outubro 21, 2007

Meu Primeiro Roteiro

Nos últimos períodos do meu curso na universidade, fui meio que obrigado a escrever um roteiro, e essa era a oportunidade que eu precisava. A princípio, tive algumas dificuldades de criar uma estória, mas quando comecei e peguei a ‘manha’, a coisa foi dando certo. E aqui estou, terminei de escrever meu primeiro roteiro de cinema, intitulado “Imagens de uma Família Sem Retrato”.

A estória narra as dificuldades de uma família que teve uma perda inconfortável do pai, enquanto Dona Dina, a viúva, sofre depressivamente a falta da imagem do marido. Após o roubo que Pedro faz de uma câmera digital, Josiel tenta concertar a situação para que a mãe de ambos não sofra ainda mais. Josiel decide, então, dar a câmera à mãe, colocando Pedro em uma situação delicada, já que ele possuía misteriosos objetivos com o objeto.

Digamos que isso seja uma espécie de sinopse. Essa é uma estória que tenho o maior orgulho de ter escrito, por ser diferente, complexa, sincera e sensível. Talvez eu não esteja sendo nem um pouco modesto, mas gosto mesmo da estória.

Da experiência de escrever um roteiro, pude perceber algo muito estranho. Diferente das outras artes, o ato de escrever ou roteirizar não me pareceu e não me ocorreu como uma experiência que alimente o ego, como na maioria das outras artes. A sensação que tive, apesar de ter a plena noção de que fui o único e indiscutível autor da obra, foi a de que a estória e os personagens eram responsáveis por si próprios, como se a trama já existisse antes mesmo de ser escrita e os personagens donos de seus próprios destinos. Ou seja, é como se às vezes eu não me sintisse o inventor, o que confesso, é muito estranho.

Fiz um roteiro do jeito que eu gostaria de assistir e da maneira que julgo correto e interessante. Aprendi muita coisa escrevendo-o e pude, também, pôr muita teoria que defendo em prática. Descobri que personagens devem ser tratados com sinceridade, como se fossem reais, e que uma estória nem sempre está nas mãos do autor. Outro elemento importante que pude observar, é que pra se escrever uma estória complexa é preciso duas coisas: primeira, dois pontos distintos em uma mesma estória, como um início e um fim, de onde você possa partir à onde onde você possa chegar (digamos que seja uma técnica pessoal); com isso, percebi que às vezes é mais fácil encontrar motivos interessantes para um fim do que encontrar um fim interessante para motivos. Segunda e mais importante, seria a tão famosa motivação dos personagens - cada personagem têm a sua, com seu caminho, tomando decisões diferentes e agindo de formas distintas em uma mesma situação. Assim acontece na complexa vida real, cada um tem os seus objetivos e corre atrás deles da maneira como lhe cabe.

Relendo centenas de vezes o roteiro, eu me dei conta de que reproduzimos aquilo que vemos, não no sentido de ‘copiar’, mas no que diz respeito a estilo, criatividade e prioridades. Essa estória, portanto, é um reflexo de tudo que já assisti, e se alguém peceber elementos de ‘Lost’ nela, não se surpreenda.

Hoje nem consigo me imaginar criando-a, mesmo lembrando do momento em que as idéias vieram à minha cabeça. Mas isso não importa. Enquanto estórias surgirem e a imaginação fluir, está bom demais. Já tenho outras idéias pra serem desenvolvidas. Agora vou tentar filmar “Imagens de Uma Família Sem Retrato”. Um desafio maior, mais trabalhoso e não menos empolgante.

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