domingo, outubro 14, 2007

Debate Sobre 'Cidade de Deus'



Na quarta-feira, dia 3 de outubro, estive presente em um debate entre dois professore da UFMA sobre a estética do filme 'Cidade de Deus' que aconteceu no Anfiteatro do curso de Comunicação Social da universidade.

No debate foi discutida a estética imprimida por Fernando Meirelles ao seu filme Cidade de Deus. Os argumentos eram em sua maioria contra, para os dois debatedores, que tomavam como base de análise a comparação com a estética de outros filmes brasileiro e também com a dos filmes de Glauber Rocha.

Esse foi particularmente um debate importante. Nunca tinha refletido sobre a estética de Cidade de Deus e muito menos, feito uma comparação. Eu já havia assistido a um filme de Glauber Rocha e experimentado o choque daquele tipo de abordagem da realidade brasileira, que no debate intitulam de "estética da fome".

Os professores argumentaram insistentemente que Fernando Meirelles usou em Cidade de Deus um tom leve para a violência da favela, imprimindo um rítmo acelerado e uma edição frenética que pouco possibilita o espectador de experimentar e refletir, assim como a própria situação do roteiro de ser explorada. Esse tipo de estética foi comparada por eles como aquela usada em filmes Hollywoodianos; ou seja, Fernando Meirelles havia renegado tudo o que Glauber Rocha havia de forma genial e autêntica criado para o cinema brasileiro.

Assisti a Cidade de Deus ontem e confesso que realmente há uma leveza da violência, que mesmo possuíndo naturalmente em si própria um forte impacto, há um contraponto assumido pelo constante alívio cômico e pela forma com que os personagens e o ambiente da favela são trabalhados. Enquanto o filme poderia abordar a favela de uma forma mais dramática, centrando no sofrimentos dos que moram lá, na vitimização destes pela violência e mizéria, e no constante choque através de uma estética integralmente violenta; Cidade de Deus mostra em rítmo acelerado a vida dos favelado em um cotidiano entremeado de violência e de fatos positivos. Dessa forma, enquanto vemos Buscapé perder o irmão na violência, vemos também ele paquerar, fumar um baseado e divertir-se, ou então quando vemos a violência desmedida dos traficantes, vemos também a camaradagem entre eles.

Seguindo o mesmo raciocínio, os debatedores também afirmaram que Meirelles trabalha o ambiente da favela semelhante a um gueto. De certa forma a história da Cidade de Deus e de seus moradores realmente nos dá a entendê-los dessa forma. A favela foi criada pelo governo e inacabada no que se refere a saneamento básico, todos que não tinham moradia eram "jogados" no "bairro" e renegados. Se gueto trata-se de um grupo marginalizado pela sociedade, no caso da Cidade de Deus a favela deveria sim ser abordada como um gueto. É conveniente. A única diferença é que não se tratava de um grupo social específico, pois a única coisa em comum das pessoas que foram levadas para lá é que elas não possuíam moradia.

Ao mostrar os prós e contras do ambiente da favela, Meirelles consequentemente amenizou o impacto da violência e tornou a favela em um lugar de identificação ao espectador. É como se o drama da violência se transformasse em aventura e a miséria em estilo de vida, isso quando comparamos a estética de Meirelles com a "Estética da Fome".

No entanto, mesmo com essa amenização, a violência está lá, à mostra, e não se pode negar que Meirelle consegue criar cenas violentas eficazes sem apelos gráficos. E mesmo que o público se divirta ao assistir ao filme e concentre-se em outros aspectos da vida de um favelado, a violência não deixa de chocar em seus breves momentos de protagonização. E qualquer espectador em sã consciência consegue entender o quão violenta pode ser uma favela e perceber que qualquer um ali trocaria aquela vida por uma coisa melhor, de Buscapé a Bené.

Eu encaro essa amenização como uma forma de levar a realidade da favela para além das mentes intelectuais, uma forma de democratizar o conhecimento dessa realidade. E se a abordagem da favela feita por Meirelles ameniza a violência, ela mostra outros lados da favela que não se trata disso. Já no caso de uma abordagem feita dentro da estética da fome, talvez aspectos naturais da vida de um favelado não fossem abordados, e como diz Regina Case "A periferia não é só miséria e violência".

O que uma estética possibilita, a outra até certo ponto impede. No caso do ritmo acelerado, sou a favor porque acredito que isso reflita de certa forma algo da nossa vida moderna (não vou me aprofundar nesse aspecto, pois isso é uma outra questão, mas acredito que o ritmo empregado à maioria dos filmes hoje, um dia será um objeto de estudo da nossa atual civilização) e não sou contra o frenetismo, desde que o roteirista e o diretor sejam capazes de trabalhar suas personagens e as situações em curto espaço de tempo. Já vi muitos filmes lentos que perdem tempo com inutilidades, assim como já vi muitos filmes velozes que usam cada segundo e são um verdadeiro coquetel de sensações e choques. Cada filme com sua estética, cada estética com sua proposta e cada proposta com sua mensagem.

Por isso não sou a favor da defesa de um só tipo de tratamento dentro das artes. É verdade que no Cinema Novo o filme brasileiro segue mais a Cosmética da Fome" que a estética de Glauber Rocha, mas ao invés de esperarmos sempre obcecadamente e radicalmente uma "estética da fome", deveríamos esperar as mais variadas formas possíveis de se abordar um mesmo assunto. Isso sim seria mais lucrativo, pra todo mundo. Dentro de sua proposta, Fernando Meirelles faz bem e faz certo.

Um comentário:

Luana! disse...

realmente, tu tem q mudar o template!!
o texto tá longo demais para ler nesse fundo preto!
cuida, pikenu!deixa de ser preguiçoso!

rum...