quarta-feira, setembro 29, 2010

Imagens do Exílio

Ao mesmo tempo em que o Brasil sofria com os traumas políticos do passado, o brasileiro sentia a decepção de sua primeira empreitada democrática ruir com o presidente Collor, e como consequência, sua auto-estima era cada vez mais afetada. O cinema nacional, intrinsecamente a esse contexto, se encontrava em uma profunda crise. Com a Embrafilmes fechada pelo então presidente, a quantidade de filmes produzidos por ano caiu a quase zero e projetos foram cancelados. O cinema nacional estava, assim como o país, completamente desacreditado em si próprio.

Refletindo a história que se escrevia, o cinema brasileiro veio a ter suas primeiras reações justamente com o impeachment de Collor e as primeiras políticas de Itamar Franco, continuadas no governo de FHC. Tem-se aí o início da Retomada. Quando os recursos da extinta Embrafilmes foram distribuídos, os projetos paralisados puderam ser retomados e os novos diretores, que só esperavam por fomento, tiveram espaço e oportunidade. Uma das primeiras produções - ou a primeira - a se destacar internacionalmente foi o filme Terra Estrangeira, de Walter Salles.

O filme tem início com o anúncio do confisco das poupanças dos brasileiros pelo governo de Collor, e segue mostrando personagens que, pela política vigente no país, se encontram completamente sem rumo. Paco (Fernando Alves Pinto) vai para Portugal após sua mãe ter morrido no momento em que soube dos confiscos das finanças dela. Lá, o personagem conhece e se envolve com Alex (Fernanda Torres), namorada de um traficante. Os dois brasileiros, sem perspectivas, flertam com o crime e não sabem qual rumo tomar. O filme deixa clara a sensação de desamparo dos personagens e trabalha, antes de tudo, as feridas do brasileiro daquela época, o luto e a descrença na própria nação, forçando o contato do telespectador com a realidade.

Todo em preto-e-branco, Terra Estrangeira nos apresenta ao Brasil da primeira metade dos anos 90 de forma melancólica, querendo falar do presente triste que abatia o país. Marcando por abordar personagens que não conseguem ver o futuro na própria nação, o filme de Salles mostra o retorno destes - que agora tinham a imagem da terra estrangeira como uma solução - à pátria mãe Portugal. Impedidos de voltar pelas reviravoltas da trama, a imagem mais marcante do filme é aquela em os dois protagonistas estão abraçados em uma praia com um navio encalhado à beira mar, impedido de retornar ao lugar de onde saíram. Essa foi a situação de muitos brasileiros como Paco e Alex, que não tinham mais perspectivas e esperanças no futuro do Brasil. Nas palavras do próprio Walter Salles, o que abatia o país naquela época era "não mais o exílio político dos anos da ditadura, mas um novo, econômico, que vem transformando o Brasil dos anos 90 num país de emigração, pela primeira vez em quinhentos anos".

Sou apaixonado por Terra Estrangeira. É um documento magnífico daquele período do Brasil, um filme que retrata com precisão a tristeza e falta de perspectiva do brasileiro já traumatizado da era Collor. A cena mais emblemática desse filme para mim é a final, ganhando até mesmo daquela do navio a beira mar. Embalada pela canção "Vapor Barato", de Gal Costa, a cena mostra o destino de Paco e Alex, que ainda tentam voltar para a nação deles, porém, mais cheios ainda de desesperança, perdidos e sem rumo. O momento final é perplexo quanto a realidade brasileira. Apesar de se passar em Portugual, o filme, ao meu ver, abre alí a Retomada do cinema nacional. Belíssima pela composição, a cena é pontuada por uma canção que faz jus a mensagem do filme e, incrivelmente, tem tudo a ver com a situação das personagens. Fiquei até a me questionar se aquilo que Gal canta, se a "minha grande, minha pequena, minha grande obsessão" fosse na realidade o Brasil. Fica aqui a questão.

Depois de uma grande indecisão, coloquei um vídeo da cena final de Terra Estrangeira. É um spoiler gravíssimo para quem nunca assistiu ao filme, mas vale a pena ser revisto por aqueles que já o assistiram.



sexta-feira, setembro 24, 2010

A Origem

Inception (EUA, 2010), escrito e dirigido por Christopher Nolan, com Leonardo DiCaprio, Ellen Page, Joseph Gordon-Levitt, Michael Caine, Ken Watanabe e Cillian Murphy.

Christopher Nolan é um cineasta que, em praticamente toda a sua trajetória, tentou fugir do básico, do simples e do convencional. A inversão ou experimentação em estruturas narrativas e o desenvolvimento ao extremo dos conceitos elaborados em cada filme comprovam a inquietação e as grandes intenções de um diretor que busca unir o entretenimento a um conteúdo cinematográfico de grande qualidade, e um produto industrial a idéias mais autorais, sempre tendo como ponto central a figura humana. Dessa vez, em A Origem, Nolan explora o fascinante e misterioso mundo dos sonhos, e consequentemente, do subconsciente humano, em uma trama inventiva e frenética, que evolui até o máximo e além daquilo que se espera para um único filme.

A frente de uma equipe de espiões industriais, Dom Cobb (DiCaprio) é um dos melhores no que faz, ele rouba segredos da mente das pessoas através de uma tecnologia que permite a invasão dos sonhos alheios. Uma vez dentro do sonho da vítima, a equipe tenta encontrar as informações secretas desejadas, ou então, a fim de manipulá-la, leva-a a ter outro sonho dentro do sonho no qual já se encontra, criando níveis diferentes capazes de confundi-la. Fugitivo da justiça americana, Cobb aceita a proposta do grande empresário Saito (Watanabe) de invadir os sonhos do herdeiro bilionário Robert Fisher (Murphy) da indústria concorrente para "instaurar" uma idéia, uma tarefa inédita e de extremo risco para a Cobb, seu parceiro Arthur (Gordon-Levitt) e o resto da equipe. Em troca, Cobb conquistaria a entrada livre nos EUA e reencontraria seus filhos.

Impressionando por transcender, em poucos minutos de filme, os próprios conceitos recém apresentados na trama sobre a capacidade de invadir sonhos e roubar idéias, Norlan faz questão de tornar a trama - em seu roteiro escrito de forma fenomenal - mais complexa através da inversão do principal objetivo da invasão. Invés de entrar na mente de alguém para adquirir as informações mais secretas, a equipe de Cobb passa a ser incumbida de implantar uma idéia na mente de Fisher. Esse tipo de inversão de lógica, que normalmente esperaria um segundo filme para ser explorada, torna a história infinitamente mais complexa, ao mesmo tempo em que possibilita um desenvolvimento muito mais profundo e criativo das idéias elaboradas por Norlan, assim como do modo de funcionamento do subconsciente em seu estado mais dominante. Imergindo no universo dos sonhos, Norlan cria leis para os sonhos em A Origem que não se difere muito dos nossos mais cotidianos "passeios" noturnos. Logo, fatos que ocorrem no exterior de quem sonha, e que podem ser captados pelos seus sentidos, são completamente capazes de interferir nos sonhos. Então, chove torrencialmente enquanto um personagem dorme com vontade de urinar ou sons externos são absorvidos, configurando-se como parte integrante daquela "realidade". Outra lei de igual fascínio reside na diferença temporal que existe entre o mundo real e um sonho, sendo cinco segundo no primeiro equivalente a um minuto no segundo. Um sono de dez horas, então, implica em uma semana para quem está dormindo. Se essas leis por si só tornam esse universo impressionante e cheio de possibilidades, quando inserido o conceito dos sonhos dentro de outros sonhos a história ganha complexidade, reviravoltas e um ritmo que exigem o máximo de atenção e concentração possíveis do espectador. E mesmo assim, Christopher Nolan não faz questão de se prender a explicações repetitivas, confiando na inteligência e perspicácia de seu público.

Retratando os cenários das imagens oníricas com relativa lucidez, o incrível design de produção parece fugir da tentadora possibilidade de construir cenários surrealistas ou irreais, comuns a obras que retratam os sonhos e inconsciente humano. Focando-se mais no processo de manipulação da equipe de Codd a Robert Fisher, Norlan evita devaneios e imagens confusas que possam complicar mais ainda a vida do espectador. É possível perceber, também, que a concepção dos cenários de cada um dos sonhos muito tem a ver com a subjetividade e experiências de vida de cada um. Em maior ou menor grau, isso pode ser percebido. A aparência dos sonhos arquitetados pela equipe de Cobb (isso mesmo, em cada sonho existe um arquiteto, e a esse, outros sonhadores podem ser "ligados") é diferente daquelas em que outros personagens são arquitetos.

Mesmo tendo que lidar com tamanha complexidade narrativa, o elenco de um modo geral faz um excelente trabalho. DiCaprio surge tão intenso como nas produções anteriores, e faz de Cobb um homem misterioso e complexo, quase que no limite de sua sanidade; a exemplo, a cena em que Cobb fica em dúvida se atira ou não em uma imagem de sua falecida esposa, fruto de uma projeção mental dele mesmo. A introdução de projeções da falecida esposa de Cobb logo no início do filme serve como as primeiras pistas para o misterioso passado do personagem, que vai sendo revelado em perfeita sincronia com a trama.

Mas é possível que o trabalho mais fenomenal desta produção esteja na montagem. Lee Smith teve o desafio de tornar clara a velocidade do tempo em cada um dos níveis de sonho, pois em cada sonho que os personagens se submetem, em cada nível mais profundo de sonho, o tempo passa de forma diferente do nível anterior (seguindo a escala que já citei aqui). O montador, portanto, tem completo êxito em sua montagem, pois todos os níveis de sonhos aparentaram ser dotados de uma sincronia particular graças a uma montagem inteligente e criativa. Assim, perto do clímax da ação, foi utilizado um slow motion no nível um de sonho, enquanto a urgência e caos cresciam gradativamente de nível para nível, até àquele que Cobb denomina como limbo.

Explorando ao máximo o universo criado, Christopher Nolan faz de A Origem um exemplar do gênero ficção científica, respeitando as regras estabelecidas e indo muito além do que o próprio espectador pode imagina, às últimas consequência. O desfecho, por mais confuso que seja, segue toda a lógica estabelecida desde o início e - espero que eu esteja errado - é possível que algumas pessoas acreditem ver incoerências.

Cotação: Excelente

segunda-feira, setembro 20, 2010

2019 - O Ano da Extinção

Daybreaker (AUT/EUA, 2009), escrito e dirigido por Micheal Spierig e Peter Spierig, com Willen Dafoe, Ethan Hawke, Sam Niel e Claudia Karven.

Os irmãos Michael e Peter Spierig possuem uma experiência cinematográfica relativamente pequena e pouquíssima expressiva, ambos dirigiram e escreveram apenas três filmes, entre eles, este 2019 - O Ano da Extinção, o primeiro a ter uma estrutura e repercussão de um filme A. Esta foi a primeira película que pude assistir da dupla e, à primeira impressão, pude constatar que se tratam de diretores que arriscam investir nas próprias inventividades e que são dotados de uma preciosa intenção, a de desenvolver seus personagens dentro das situações criadas. Infelizmente, eles ficam apenas na intenção e pouco conseguem fazer no desenrolar da história. Tratando de uma das criaturas mais famosas e fascinantes do cinema e da literatura, a dupla nos apresenta a vampiros que vivem em uma realidade completamente diferente daquelas já vistas em outras histórias.

Em 2019, após uma pandemia de um misterioso vírus, quase toda a população é composta por vampiros que passaram a viver de uma forma semelhante àquela dos humanos, mas ainda dependentes do sangue e sob extrema intolerância a raios ultravioletas. Praticamente dizimada, o resto da raça humana é caçada e seu sangue comercializado como alimento. Com a escassez cada vez maior do sangue humano, o governo decide criar um substituto do alimento dos vampiros. O cientista Edward Dalton (Hawke), um vampiro que não aceita a própria natureza e luta pela conservação da raça humana é um dos encarregados de projetar a substância, mas em meio a fracassos e ao caos da falta de sangue, ele acaba se juntando a um grupo de humanos que poderão ajudá-lo a salvar a humanidade.

Iniciando de forma promissora, a primeira cena de 2019 mostra uma vampira adolescente se suicidando por não conseguir aceitar as condições as quais vive, como a eterna aparência juvenil, devido a sua natureza vampiresca. O que pode parecer incoerente, na verdade, trabalha a complexidade de sentimentos existentes em um indivíduo que não morre e nem pode amadurecer. A imortalidade, geralmente tratada de forma positiva nas histórias de vampiros, logo na abertura é representada como uma característica negativa através do ponto de vista de uma pessoa. Porém, o elemento inovador desta história de vampiros se trata da premissa em que estas criaturas substituíram os humanos em seu habitat, passando a caçá-los. Essa idéia, por si só, é atraente e cheia de possibilidades, o que já conta de forma positiva para o roteiro. Além disso, os irmão Spierig nos apresenta à curiosa adaptação dessa nova sociedade formada por vampiros, onde carros bloqueiam a luz solar, vias subterrâneas possibilita o trânsito de vampiros pelas cidades e o sangue humano é extraído como uma fonte não renovável prestes a acabar.

Explorar a natureza vampírica sob a ótica da não aceitação desse mal e da culpa, remete, de certa forma, a série X-Men, em que mutantes tentam lidar com os próprios poderes especiais enquanto são discriminados socialmente. A diferença é que, enquanto a mutação é um dado natural em X-Men, o vampirismo em 2019 é decorrente de uma infecção, o que nos faz traçar um paralelo imediato dos vampiros com doentes e do vampirismo como um sintoma. Dessa forma, é louvável a intenção dos diretores em retratar o conflito de alguns personagens com a natureza vampírica, como a auto repressão de Edward Dalton aos seus instintos vampiresco, que, evitando ingerir sangue humano e não se conformando com a dizimação da humanidade, não hesita em tentar se transformar novamente em humano quando se ver frente a essa possibilidade.

Coerente a realidade de uma civilização dominada por vampiros, o diretor de arte Bill Booth faz um bom trabalho ao usar arquiteturas e designers sofisticados e elegantes, sempre com tons escuros, luzes que variam do branco ao vermelho, refletindo bem as características desse famosos personagens. O mesmo pode ser percebido nos figurinos compostos quase que predominantemente por cores neutras, mas com uma estilização meio retrô, tentando remeter ao estilo mais tradicional dos vampiros. A fotografia, no entanto, é decepcionante pelo exagero nos tons de azul escuro, quando não, num sépia forçado em imagens que mostram a luz do dia, o que entrega a imaturidade do fotógrafo Ben Nott, que tenta criar uma atmosfera mais envolvente sem sucesso.

Evitando a artificialidade vista na maquiagem dos vampiros da saga Crepúsculo, a equipe de maquiagem de 2019 se sai muito bem ao dar o tom branco pálido à pele dos atores, assim como dá a aparência realista e impressionante às criaturas chamadas de subespécies, uma evolução dos vampiros que sofrem abstinência de sangue humano. Os efeitos especiais, impressionantemente, cumprem muito bem o seu papel, desde o aspecto pastoso do sangue humano coagulado, até as sequências de ação, falhando apenas em alguns detalhes, como a aparência das pupilas dos vampiros que aparentam terem sido criadas digitalmente. As cenas de ação, como aquela em que uma subespécie invade a casa de Edward e ataca a ele e seu irmão, são eficientes e causam a tensão e impacto necessários aos espectador.

No entanto, as maiores falhas de 2019 residem no seu roteiro. Justamente por abordar uma proposta promissora, o roteiro deixa a muito a desejar por não desenvolver os conflitos possíveis. A relação de Edward e com o seu irmão Frankie - que gosta de ser vampiro - pouco acrescenta a trama, já que a diferença ideológica de ambos não serve nem para esclarecer os motivos que levam alguns indivíduos a gostar de ser vampiro (algo do qual ainda falarei). Já Charles Bromley (Niel), o homem a frente do laboratório de hematologia responsável por desenvolver o substituto do sangue, surge como um "vilão" bidimensional que, mesmo demonstrando se importar com a filha, não hesita em transformá-la em uma vampira contra a própria vontade dela. É mais um daqueles que parecem gostar muito de ser vampiro.

Ao contrário de X-men, 2019 esquece de desenvolver os motivos que levam alguns vampiros gostarem de serem vampiros. Se na série dos mutantes vemos o orgulho que o vilão Magneto sente de seus poderes, tudo o que este sofreu e que o levou a se voltar contra a humanidade (Magneto acreditava que um novo holocausto aconteceria com os mutantes); em 2019, aqueles que se orgulham de ser vampiro têm sua postura fracamente justificada. Frankie, o irmão de Edward, dá uma justificativa pedestre de gostar de ser vampiro porque nunca conseguiu ser um bom humano, enquanto Charles Bromley parece não sentir o menos remorso de extinguir os últimos integrantes da humanidade, o que uma falha significativa, pois nas primeiras cenas do filme já fica estabelecida a proposta de vampiros com certos comportamentos e consciência humanas.

Interessante por estabelecer conceitos novos, 2019 - O Ano da Extinção decepciona por não respeitá-los e ao deixar escapar as diversas possibilidades de examinar o comportamento dessas criaturas fantásticas imersas em um contexto peculiar para elas.

Cotação: Regular

sábado, setembro 18, 2010

Pra Quem Acredita na Velha Mídia

A dita velha mídia perdeu mesmo a mão. Enquanto pesquisas afirmam que os formatos e veículos mais tradicionais de jornalismo no Brasil estão perdendo credibilidade, estes mesmos parecem não se dar conta dos fatos e divulgam informações que não possuem comprovação alguma em forma de denúncia. Depois que as acusações demonstraram não surtir o efeito desejado, apenas esquecem-se do assunto. Em tempos de eleição, a Veja, Folha, O Globo e tantos outros veículos vindos do mesmo saco favorecem indiscretamente a campanha do candidato do PSDB José Serra, seja através de "denúncias" que prejudiquem a campanha da candidata Dilma Rousseff, ou no simples favorecimento ao candidato "ocultamente" aliado.

Há alguns dias, a Veja divulgou que o filho de Erenice Guerra 'obteve R$ 5 milhões' na intermediação de uma empresa de transporte aéreo com os Correios. Já a Folha de São Paulo, dias depois, veiculou que um lobby opera dentro da Casa Civil da Presidência da República e acusa filho da ministra Erenice Guerra de cobrar dinheiro para obter liberação de empréstimo no BNDES para um empresário, fora as acusações
de que o comitê de Dilma Rousseff teria violado o sigilo fiscal de um grupo de pessoas ligadas ao PSDB e a seu candidato presidencial, José Serra. Esse mesmo jornal chegou a publicar na capa de uma edição do ano passado uma ficha falsa e incriminatória de Dilma Rousseff, e a própria Folha de São Paulo assumiu que essa ficha fora recebida por e-mail. Ou seja, uma informação completamente isenta de credibilidade e comprovação.

Interessante que essas acusações feitas através desses veículos são divulgadas em uma velocidade surpreendente por outros jornais, telejornais, revistas e programas radiofônicos da mesma velha estirpe. As denúncias são, na sua maioria, feitas sem uma prova concreta como base e de forma precipitada, ganhando espaço e importância desmesurados, em tons de escândalos já corriqueiros, mesmo que atentem contra a imagem e honra de alguém. Coincidência? Corrupção deve sim ser denunciada, mas o objetivo maior do jornalismo é informar trabalhando dentro de princípios éticos. A maior falha da Veja, Folha, grupo UOL, entre outras é de não assumir sua posição política, fingindo uma imparcialidade e compromisso com a verdade.

Por que o caso da mega quebra de sigilo promovida em 2001 pela filha de José Serra, Verônica Serra, e a irmã de Daniel Dantas, Verônica Dantas, não ganha igual repercussão? Por que essa
matéria da Carta Capital não teve igual repercussão? Nesse post, o cineasta Jorge Furtado mostra a ficha do consultor que a Folha de São Paulo usou para formular acusações contra a ex-ministra Erenice Guerra, e aqui, Luiz Carlos Azenha detalha o tendenciosismo do mesmo jornal na construção da reportagem.

terça-feira, setembro 14, 2010

Conheci São Paulo Dias Antes de Chegar Lá

Há quase duas semanas pude visitar pela primeira vez a cidade de São Paulo. Foi uma oportunidade única, pois na mesma viagem eu pude desfrutar de dois importantes eventos culturais da metrópole, a Bienal Internacional do Livro e o Festival de Curta metragem de São Paulo. E, de quebra, conhecer a cidade. Ao ter certeza que a viagem aconteceria, meu espírito explorador tomou as rédeas. Pouco conhecia sobre São Paulo, estávamos eu e mais duas primas queridas, e nenhum de nós havia ido lá antes. Sem guia, decidi fazer o meu próprio guia de viagem e foi nesse instante que a viagem começou. Participar dos eventos e conhecer essa cidade incrível em apenas cinco dias era meu objetivo, então diminuir trajetos e perdas de tempo era fundamental. Isso só se tornou possível graças a algumas ferramentas.

Devo dizer que a maioria das pessoas tem uma imagem de São Paulo da qual não concordo, cheguei até a ouvir que "SP não tem nada para se fazer, a cidade não tem praia". No entanto, o simples fato de poder conhecer outra cidade, culturalmente rica, e também participar de dois eventos de interesse pessoal era o suficiente pra me deixar ansioso. Dominado pela curiosidade e por uma breve noção a respeito da noite paulistana e de alguns outros pontos turístico como o Parque Ibirapuera e a Vila Madalena, iniciei minha jornada virtual em busca do que seria interessante descobrir por lá.

Conhecer um pouco a cidade com antecedência foi até uma forma de me sentir seguro em um local estranho, e também de estar antenado, de estar consciente do que rolaria na cidade. A princípio, busquei sites de turismo de São Paulo, voltados a apresentar a cidade e os seus points culturais. Cada lugar me levava a uma rua, que me levava a um bairro, do qual eu teria que chegar por alguma avenida, que eu poderia ter acesso por alguma linha de metrô, e assim por diante. O mais importante, então, era saber de onde eu sempre partiria, o meu local de hospedagem. E minha mania de planejamento me levou até a buscar o melhor trajeto do aeroporto até o hotel.

Após os sites de turismo, fui em busca de compreender geograficamente a cidade, e passei a acessar o Google Maps, que destrinchava bairros, avenidas, ruas e lugares. Passei a ter um certo conhecimento "virtual" da cidade e a descobrir onde se localizava certos pontos. Confesso que achei isso muito divertido, me parece uma forma de não ter apenas uma noção superficial da cidade em uma "visitada" pouco informativa. Na verdade, bom mesmo é explorar e conhecer a fundo, tentar sair da visão turística, mesmo que isso seja quase impossível. E o Google Maps funciona perfeitamente para isso, pois, apesar de apresentar a cidade (o mundo) de forma mapeada, define trajetos pelas ruas da cidade, apresentando tempo e distância, e abre links para sites de determinados lugares identificados nos mapas, como shoppings, restaurantes, bares, casas noturnas, museus, estações de metrô e trem, hóteis, etc.



Se o Google Maps situa o usuário através de uma estrutura hipermidiática, o Google Earth impressiona pelas já habituais imagens de satélite, mas com as mesmas disponibilidades de links que no Maps. Funções como a definição de trajetos virtuais pela cidade também são disponíveis.



O diferencial está mesmo é na possibilidade do usuário de postar imagens reais de locais por onde passou, aproximando cada vez mais o software da Google a um passeio virtual pelo mundo. Enquanto o Maps me localizava geograficamente, o Earth me apresentava a cidade virtualmente. Funções como a flexibilidade do ângulo de visão do usuário (90º até quase 0º do chão) e as construções 3D de prédios e relevos dão o toque mais realista e são parte de uma evolução constante do software, que a Google já divulgou que, futuramente, será um passeio virtual pelo mundo com imagens reais e em 3D. A seguir, imagens de construções em 3D, uma do MASP, na av. Paulista; e a outra, da ponte Estaiada.



Ao chegarmos a Sampa, não deu outra. Mais reconheci do que conheci, e, de quebra, instrui o motorista do taxi que não sabia bem onde estava o hotel. O resultado foi uma viagem intensa, cansativa e proveitosa, sem perdas de tempo, sem muitos pedidos de informação, e poucos gastos com transporte. Participei razoavelmente dos eventos e pude ainda conhecer bem a cidade. Ah, eu com um GPS!

terça-feira, setembro 07, 2010

Novos Planos e Metas

Este blog, definitivamente, é um termômetro que mede o ritmo e o entusiasmo das minhas idéias. Não sei ao certo o que influencia o que primeiro, se o blog me leva a abrir reflexões e a ter visões mais entusiasmadas a respeito dos temas que aqui pontuo, ou se minhas postagens são reflexo de uma movimentação interior minha. Coincidentemente, o tempo que passei escrevendo para este blog, mesmo que esporadicamente, senti um progresso considerável tanto no consumo quanto na produção de informação e cultura. O contrário ocorreu enquanto me mantive distante daqui.

Não é de hoje que acredito que este espaço possa influenciar radicalmente nos meus hábitos, idéias e paixões. O fato é que um breve post sobre Cinema 3D já foi o suficiente pra movimentar a minha cabeça e sentir a empolgação de fazer este blog funcionar como um processo de desenvolvimento pessoal e profissional.

Direto ao assunto. Pretendo assistir a um filme por dia e comentar o máximo possível todos eles. A vontade existe. Se vou conseguir, não sei. Tenho muitas tarefas, mas não deixa de ser uma meta interessante. Vamos lá!

domingo, setembro 05, 2010

Considerações sobre o Cinema 3D


www.cinemaadentro.tk
Um dos maiores equívocos em grande parte das propagandas de cinemas 3D e nos próprios filmes que hoje experimentam essa nova tecnologia é a promessa de transportar as imagens para fora da tela, como se essa impressão ótica fosse o grande trunfo dessa nova tecnologia. Foi por conta dessas propagandas enganosas que senti uma certa frustração ao assistir pela primeira vez a um filme em três dimensões, há quase dois anos. Tratava-se da segunda película projetada em 3D na cidade onde moro, o filme-concerto U2 3D, que mostrava vários trechos da turnê Vertigo Tour, da banda irlandesa. Lembro de ter percebido que essa tecnologia não apresentava tamanha liberdade aos objetos cênicos de um filme como sempre foi propagado por aí, o que havia era apenas uma percepção mais palpável e realista destes.

O mais interessante é que essas propagandas enganosas parecem ter sido disseminadas como consequência de uma grande incompreensão da própria tecnologia que estava (ainda está) sendo experimentada por parte dos produtores de cinema e dos exibidores. Dessa forma, o maior problema não reside nas já velhas e descredibilitadas propagandas de cinemas 3D, mas sim nas novas empreitadas cinematográficas com essa tecnologia. É visível que muitos produtores de cinema não entenderam ainda a essência e as verdadeiras potências da imagem em três dimensões. Muitos filmes 3D, ainda hoje, são feitos tendo como base a ingênua idéia de que a terceira dimensão da imagem pode proporcionar uma maior interatividade ou impressão de que os personagens ou objetos podem sair da tela, levando o espectador a sentir-se mais dentro daquela realidade fictícia.

www.cinemaadentro.tk
É fato que existe um sobressalto quando um objeto com aparentes três dimensões voa em direção ao público, a impressão de solidez e palpabilidade realmente existe, mesmo que mínima. Contudo, na tecnologia 3D todas as imagens estão presas a tela, nada dali sai, pois diferentemente de uma imagem holográfica a 3D não ocupa um lugar em um espaço real, mas sim simula este espaço. Em sua essência, o cinema em três dimensões não foi criado para transpor nada da tela, e nem para criar esta impressão; ao contrário, ele parte do princípio de criar a profundidade dos elementos na imagem, através de uma técnica chamada estereoscópia, que consiste em captar uma mesma imagem em dois ângulos diferentes alinhados de forma horizontal, como se fosse a imagem de dois olhos, um esquerdo e outro direito. Essa técnica permite que vejamos objetos em uma imagem dotados de profundidade e não chapados, como na imagem de duas dimensões. A terceira dimensão, aliás, é a própria profundidade.

Já a tentativa de provocar essa impressão de transposição da tela (ou parede) pode acabar resultando para o espectador em uma frustrante quebra da quarta parede, o que, consequentemente, destrói a ilusão quando este descobre que objeto nenhum sai da tela, pois claro, tudo aquilo é ficção. Indo na contramão de muitas produções, a recente animação Como Treinar o seu Dragão esquece de tentar impressionar o público com os já clichês de "atirar coisas contra a platéia" e passa a trabalhar com o que realmente importa na imagem tridimensional: o seu terceiro elemento, a profundidade. Dessa forma, assim como no recente e impressionante Avatar, o que está no fundo, a nova dimensão dessa realidade fictícia e as impressões que causam ao espectador ganham maior relevância e são melhor experimentadas.

O cinema 3D não veio pra confundir a realidade fictícia da tela com a nossa de espectador, nem para confundir os espectador com o personagem. O cinema 3D veio pra tornar aquela história fictícia mais verdadeira, pra trabalhar mais ainda a nossa fantasia e imersão. No dia que o cinema se transformar numa espécie de game holográfico aí sim transportar objetos e personagens para fora da tela pode passar a funcionar narrativamente.