domingo, julho 06, 2008

Lost: Último Post do Ano

Antes de ser um fã de Lost, fui um telespectador atento como sempre procuro ser e que todas as terças-feiras, às 11 horas, estava presente no sofá a espera de mais um episódio. Foi justamente essa atenção e análise que me levaram a adimirar tanto essa série. Julguei por algum tempo que, por a trama ter cada vez mais espaço de si ocupado pelos mistérios e por todo aquele deslumbrante e criativo pano de fundo, a série esqueceria com o tempo de seus personagens e acabaria desenvolvendo sua estória de forma mais superficial, voltada para ação e mistérios. Eu via isso como um caminho natural, afinal, é fácil se perder em meio a uma estória tão complexa que terá 6 anos de duração.

No entanto, o caminho trilhado é completamente inverso. É adimirável como a série está cada vez mais voltada para os personagens e como tudo que ocorre ali está diretamente relacionado a vida destes, o que me certifica que Lost é de fato um sólido e bem-sucedido projeto. Mais impressionante ainda é ver a densidade com que a série vem se desenvolvendo; os novos, dramáticos e comoventes acontecimentos tem provado e aprovado a capacidade dos roteiristas e diretores de desenvolver essa estória com sensibilidade e delicadeza. Ver, por exemplo, os Oceanic's Six sair da ilha e tentarem seguir suas vidas guardando às duras penas os impactantes fatos do passado é comovente e emocionante, assim como o difícil percurso que estes personagens vêm trilhando.


There's no Place like Home - Parte I e II



Enquanto no momento final do último episódio da terceira temporada descobrimos que os flashbacks de Jack são na verdade flashforwards de seu futuro fora da ilha, no final dessa quarta temporada, a grande surpresa é substituída por uma eficiente ação e uma sequência de eventos impactantes durante todo o episódio.

Esta última parte de There's No Place Like Home tem início com a última cena da terceira temporada, revelando o que acontece após esse momento e mostrando mais uma vez a curiosa propriedade dessa série em resignificar suas cenas ao mostrá-las sobre nova perspectiva, seja por um olhar novo ou por apresentar pedaços a mais. Na ilha ou no tempo que julgamos ser o presente, os personagens estão frente a possibilidade de uma fuga da ilha, quando conseguem localizar o helicóptero para se locomoverem até o cargueiro. Jack e Sawier estão em busca de Hurley, o que ocasiona em mais um debate sobre Fé x Ciência entre Jack e Locke, mas agora com o primeiro levemente balançado em seu ceticismo. O médico, aliás, passa por uma mudança profunda nesse episódio, e o fato dele começar a "acreditar" somente ao ver uma ilha mover-se na sua frente soa bastante metafórico ao ditado "A fé remove montanhas", quando sabemos que parte da autoria do ato foi de John Locke. Descobrimos que Kate e Sayid desenvolvem um plano juntamente aos Outros para pegar Kiemy e sua tropa, além de resgatar Benjamin Linus. A cena da troca de tiros é bem atípica de Lost, mas muito bem colocada na trama; melhor mesmo é a briga "mata-ou-morre" entre os dois veteranos militares, Sayid e Kiemy, em uma cena muito bem editada, considerando o prazo mínimo de filmagem e as possíveis falhas decobertas apenas na pós-produção. Vale destacar também as ótimas inserções dos time-travelling bunnies, revelando rapidamente, em alguns eventos, a visão de outros personagens.

Mas como sempre, o melhor de Lost fica com o drama de seus personagens. Então, momentos como o de Sawier pulando do helicóptero para diminuir o peso deste e possibilitar o resgate, ou o descontrole de Sun ao ver a morte do próprio marido, são completamente dramáticos e comoventes. Não menos emocionante é a despedida de Benjamin Linus da própria ilha, já que este nunca mais poderá voltar ao lugar.

Concluindo a maioria dos arcos dramáticos abertos nessa quarta temporada, No Place Like Home é também um episódio que dá quase todas as respostas às questões abertas durante os últimos 12 episódios em relação ao resgate, fazendo a temporada fechar em si própria com solidez e coerência. Esse final de temporada marca também o momento em que quase não distinguimos o verdadeiro tempo presente, pela proximadidade temporal das cena na ilha com as das cenas dos flashforwards, chegando, ao fim do episódio, a nos fazer acreditar que a última cena, que é teoricamente um flashforward, seja na verdade uma cena do novo tempo presente que a série acompanhará nesta próxima temporada. Eu sei, é uma loucura!


Jack Shephard, o Herói Desgraçado

A princípio, pensei em usar como título "Jack Shephard, o Herói Trágico", porém de trágico Jack não tem nada. O destina não lhe pregou nenhuma peça e nem agiu de modo inexorável na sua vida; ao contrário, o médico cirurgião espinhal sempre teve o poder de decisão e foram justamente as suas escolhas que levaram-no ao seu atual fundo do poço. Três anos após o resgate, Jack se tornou um alcoolátra, depressivo, que se empanturra com os remédios que receita aos seus pacientes. Consumido pela mentira que ele mesmo criou após o resgate e que foi o principal conservador dela, no atual momento da série, Jack faz constantes viagens aéreas de Los Angeles à Sidney esperando que o avião caia no Pacífico. O herói enérgico, obsecado e controlador de um dia, em uma reviravolta enauseante, passou a ser a imagem do descontrole e arrependimento, sofrendo por sua fé tardia e não-cultuada.

Uma das maiores criações dos idealizadores de Lost foi com certeza a de um herói coerente à nossa época. Diferente do herói épico, que com toda a sua nobreza, honra e bravura, praticava seus heroísmos, Jack é apenas um médico que tem a função de salvar pessoas inerente a profissão. Mas não bastava apenas fazer do personagem um médico para transformá-lo em herói, era preciso criar nele motivações íntimas que o fizesse tomar, mesmo que superficialmente, atitudes heróicas e nobres em uma época de cinismo, em que essas palavras soam piegas.

Essas motivações estavam, então, na relação que Jack tinha com seu pai desde a infância, até a morte deste último. Criando sempre uma imagem paterna e inalcançavel de si para o filho, Christian Shephard mexeu e remexeu na auto-estima de Jack, tornando-o num eterno perseguidor da imagem inalcançavel e irreprodutível do próprio pai. Naturalmente, todo filho busca no pai o referencial, e a competitividade na relação paterna é algo comum; no entanto, a imagem denegrida de si e a postura de Christian potencializaram a busca de Jack à uma verdadeira obsessão. Crescendo nessa relação conturbada com o pai, Jack, na primeira oportunidade, toma dele o posto de cirurgião-chefe ao denunciá-lo por alcoolismo no ambiente hospitalar, e indiretamente acaba sendo o principal culpado pela morte do pai. Todas essas atitudes de Jack foram cometidas, não com maquiavelismo e racionalmente, mas quase que inconsientemente, como um Complexo de Édipo da fase adulta, em que o filho tenta tomar o lugar admirável e "intocável" do pai.

Mesmo conseguindo assumir esse lugar, Jack continua insistentemente correndo atrás de preencher o seu vazio, ainda precisa tomar decisões, salvar, concertar coisas, estar certo, ser o médico perfeito, igual a tudo o que Christian se mostrou ser na infância de Jack e o fez pensar que ele não era e nem poderia um dia ser. Para o médico, a situação de um acidente aéreo com muitos sobreviventes era perfeita, já para os autores, esse era o personagem perfeito que puderia assumir coerentemente a postura de herói. Mas talvez, no fundo, Jack não seja um herói honrado e corajoso, mas uma personalidade dilacerada que busca preencher a si mesmo. Uma busca que o leva a ignorar opiniões de outrem, a possuir uma relação quase doentia com seus pacientes e a querer concertar qualquer situação errada, mesmo que estas devam permanecer assim.

Completamente cético e entregue à respostas científicas, estar na ilha passou ser a fonte de outro conflito para Jack: acreditar ou não nos constantes indícios sobrenaturais. O percurso do médico passa a ser marcado pela ignorância desses fatos inexplicáveis e, unindo isso à luta para conseguir um resgate a todos, o personagem comete erros constantes e toma decisões equívocas, culminando em um resgate trágico ao qual ele foi responsável e que apenas 8 pessoas puderam sair, todas com a consciência doente por saberem que uma maioria ficou e por sustentarem uma grande mentira que, automaticamente, torna a vida pós-resgate pior do que a vida de náufrago. No último episódio da 4ª temporada, vemos esse Jack completamente perturbado, consciente de todos os seus erros, e agora, com uma nova chance de concertá-los. O personagem que antes era odiado por uma metade, apenas aceito por outra e que tinha seu brilho resumido apenas no fato de ser o protagonista, agora revela-se, ao meu ver, um dos mais coerentes e intrigantes da trama, alcançando Jonh Locke e Benjamin Linus, mas nem por isso um dos mais aceitos. E essa característica - possuir um protagonista não tão simpático - faz de Lost uma série um pouco mais incomum.

Um comentário:

Natália Dalbem disse...

mt legal esse postttttt
eu amo lostttttt
confesso
que não li toooodo
mas li um pedação
é legal sei blog
vc escreve bem
parabéns
bjooo