sexta-feira, abril 08, 2011

A Chacina no Rio Não é uma Questão Sem Resposta


Não damos ainda a devida atenção à saúde mental. Falamos muito de ir ao médico, prevenir-se, cuidar da saúde física, mas muito pouco sobre a importância da saúde mental, da análise, do autoconhecimento, e de uma espiritualidade. E quando falo de espiritualidade não me refiro a religião, até porque considero as religiões, ao contrário da fé, um malefício a mente de qualquer pessoa. Trato aqui sobre o que para uns se chama evolução espiritual, e para outros, uma vida psíquica mais saudável. Para mim, saúde mental mesmo.

Em geral, a primeira vez que um indivíduo visita um psicólogo na vida é quando sofre algum problema de depressão, ansiedade e, em raros casos, na infância, quando de algum comportamento estranho. Saúde mental, na mente atrofiada de muitos indivíduos, é coisa para doido, drogados, traumatizados e desequilibrados. O senso comum e o preconceito ridículo que existe contra deficientes mentais, psicóticos e indivíduos viciados se estendem para além dos pacientes e atinge o próprio segmento da saúde, a psicologia e as instituições psiquiátricas, que geralmente são associadas aos casos mais graves de deficiência ou transtornos mentais. Seguindo essa linha de raciocínio comum, ligar saúde mental a loucura grave e irreversível seria o mesmo que achar que hospital é lugar de pessoas em fase terminal.

Há aquelas pessoas que nunca foram sequer a um psicólogo, a maioria. Estes nunca passaram por uma avaliação da mais básica, mesmo que em sua vida pessoal tenham sofrido as situações mais trágicas, tenham seqüelas que nem sabem que possuem, tenham sofrido pressões horríveis durante a vida, sejam acometidas por uma idéia preconceituosa ou fóbica. O primeiro empecilho é o difícil acesso ao serviço, pois tanto é caro como a população não tem condições financeiras de usufruí-lo. O segundo problema reside na falta de políticas públicas que aumentem a quantidade de serviços gratuitos ou públicos de boa qualidade. E por último, temos o preconceito e o senso comum que está mais atrelado ao medo e ao receio do indivíduo em se associar, mesmo que distantemente, a um doente mental do que a uma simples falta de informação.

Não existe uma educação que ensine qualquer pessoa a viver bem, mas existe o autoconhecimento, o aconselhamento, a prevenção, o desabafo, a superação, mecanismos que, pelos quais, podemos transcender questões que, na maioria das vezes, não conseguiríamos fazer sozinhos. Existem muitos potenciais psicopatas e sociopatas por aí, assim como existem psicóticos e neuróticos aos montes. De acordo com a psicanálise (e me corrija algum psicanalista, caso eu esteja errado), somos constituídos de uma dessas três estruturas: neuróticos, psicóticos e perversos. De pelo menos uma você não escapa.  Quando inconscientes de nossas próprias questões, somos todos uma bomba-relógio, seja para cometer uma simples e singela auto-sabotagem ou para entrar numa escola matando crianças. Isso, claro, considerando as idiossincrasias, o universo de cada pessoa e até as suas heranças genéticas.

Portanto, não acho essa tragédia ocorrida ontem no Rio um simples fato aleatório, uma questão sem resposta, um acontecimento sem explicação, como muitos pregam perplexos. O assassino teve uma história, é filho de uma mulher esquizofrênica, carregou essa herança genética e não possuía um acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Vinte e três anos é  um tempo mais que suficiente para se descobrir um caso de esquizofrenia previsível e mantê-lo sobre controle.

Penso que, assim como não temos a educação ambiental ainda como um eixo na nossa educação - o que é uma prova grandiosa da nossa falibilidade -, ainda somos ignorantes o suficiente para, óbvio, ignorarmos a necessidade de um acompanhamento psicológico a todo e qualquer cidadão. É uma questão de saúde! Isso não acabaria com os atos violentos contra o próximo ou contra si mesmo, mas diminuiria, e muito, esses casos, além de contribuir consideravelmente pra qualidade de vida. Mas entramos aqui em outra questão: como podemos ter uma tão comumente desprezada saúde mental se nem temos ainda um sistema de saúde que cuide razoavelmente ao menos do nosso bem mais valorizado, o corpo? Mas o intuito desse texto, acredito, concluí: o que ocorreu ontem no Rio de Janeiro tem sim uma resposta, e é a que a maioria não quer enxergar.

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