Intrigado, cansado e feliz. Há cerca de uma hora, eu estava saindo da sala de cinema na qual assistia a Batman - O Cavaleiro das Trevas, e ainda sinto um pouco do peso que o filme deixou sobre minha mente.
Frenético em seu ritmo e realista em seu tratamento, essa continuação segue a mesma lógica do primeiro, mas desenvolvendo-se com uma intensidade tão forte que o diferencia de qualquer outro filme de super-herói. Impregnado por um pessimismo que não via desde O Senhor dos Anéis, o filme pouco nos dá a chance de acreditar em algum sucesso para os conflitos dos personagens, transformando a sessão de mais de duas horas e meia em uma experiência realmente cansativa e difícil, o que é certamente positivo por, de certa forma, essas sensações serem resultantes da carga dramática e da fácil correlação que fazemos da vida em Gothan City com a típica situação de medo e insegurança a qual vivemos nas metrópoles. Essa nova série, arrisco-me dizer, trata-se sobre a cidade, seu caos, sua moral frágil, seus bandidos e heróis, e bem mais a dicotomia destes.
Como uma grandiosa promessa que já sentia medo de não ser cumprida a altura, o Coringa revelou-se um indivíduo completamente sem senso, um anárquico. Eu sinto, mas muito mesmo pela morte de Heath Ledger, muito mais após este filme, que deixou marcado e comprovado como em nenhum outro o talento do ator. Intenso, visceral, intuitivo e dominante da técnica, Ledger assusta em cada momento de sua aparição, e de sua ausência também, que através de uma sádica mistura de humor e horror, me causava vários sorrisos nervosos durante a projeção. Com um vilão desses foi realmente difícil permanecer calmo.
Confesso que, mesmo lembrando bem o que foi o Batman Begins, ainda fiquei completamente abismado com a visão que Chritopher Norlan possui da estória do herói e com tudo que reproduziu neste filme. Penso, aliás, que o objetivo do diretor seja realmente nobre no que diz respeito a qualidade, seja na estética, seja no conteúdo; são filmes como esse, possuidores de uma natural tendência industrial mas que trazem consigo um trabalho artístico profundo, que pegam desprevenidamente uma distraída ou ignorante massa, como se fossem armadilhas para o bom gosto. São iscas que levam, aos poucos, um público a refinar seu paladar e torná-lo mais exigente. Ah! E como é bom ver milhares de pessoas correndo para os cinemas jurando que irão assistir a um divertido filme de super-herói, quando na verdade estão experimentando um denso e bem desenvolvido drama policial, que não arrastaria um-quarto desse público. Nesse sentido, adoro cineastas sagazes e propagandas enganosas de estúdios gananciosos. Como é dito em Batman - O Cavaleiro das Trevas: "Às vezes as pessoas merecem algo melhor que a verdade."
Ainda vou postar aqui uma análise mais crítica do filme, mas sinceramente, antes vou assisti-lo mais uma vez. Acho que não estava preparado para o excesso de informação. Deveria sempre estar!
15 comentários:
Não posso mentir: reluto um tanto para assistir filmes como estes e admito ter tido um certo preconceito com relação a Matrix, dissipado quando descobri que o tal Neo era metáfora para o Sócrates pós-moderno. Essas produções atuais são deveras de uma genialidade imensurável, capaz de suplantar todas as posssibilidades de interpretação a respeito, a menos que pegue um espectador desinteressado e, portanto, desatento. Passou-se o tempo em que os filmes são meras formas de entretenimento. Por causa da citação "às vezes as pessoas merecem algo melhor que a verdade" e sua resenha, fiquei até com uma vontade tremenda de ir agora mesmo assistir "O cavaleiro das Trevas". Ademais, pelo que tenho lido nos diversos blogs, o destaque mesmo é para o tal Coringa, que supera até mesmo a interpretação de "Batman". Espero não me decepcionar...
Abração, cara!!
Inté!
Olha camará, acho o cinema atual decadente... perdeu-se a cultura, onde fica os "felinni" "passolini" da vida?
Prefiro ler os gibis do batman do que ficar vendo todo ano um filme diferente.
Bem legal seu blog, e algumas criticas "boas", no mais"
Evoé camará!
Ja se passaram 24 horas de que eu assisti Batman - O Cavaleiro das Trevas e ainda estou meio em extase,nao paro de pensar naquela cena do hospital com o Coringa saindo com roupa de enfermeira,era tão apavorante mas da mesma forma comico,concordo em numero genero e grau com o que vc falou do filme,se não o melhor do ano está sem sombra de duvida entre os melhores.Tbm estou afim de ver ele de novo.
ainda nao vii ;/
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Vou ser sincero: talvez eu assista a este filme mais pelo fato de n�o ficar "fora do assunto" do que qualquer outra coisa.
Est�o falando demais dele e, mais, falando de Heath Ledger (seria s� por que ele morreu?).
Mas, sinceramente, n�o � um filme que me atraia n�o. N�o vi nenhum dos anteriores.
Batman nunca foi meu herói preferido. Mas estou louco por esse filme!
Eu quero muito assistir!!! rs
Parabens pelo blog!!!
Caro Carvalhêdo, primeiramente agradeço seu comentário sobre Nelson Rodrigues.
É sempre bom saber que há vida inteligente na blogosfera.
Em segundo lugar, estou levantando uma discussão acerca do personagem "Coringa", interpretado pelo finado Ledger.
Vc, que é ator, talvez tenha mais embasamento para falar, mas vc não acha que o papel do Gary Oldman é muito mais difícil que o do vilão?
Não quero afirmar - nem posso - que o papel do Coringa seja fácil de se fazer. Não é isso. De forma alguma questiono a capacidade dramática de H. Ledger, mas acho que o personagem que ele interpreta dá chances de o ator brilhar. As possibilidades dramáticas são praticamente ilimitadas (v. Nicholson no primeiro filme)
O papel do comissário Gordon, ao contrário, não.
O que vc pensa disso?
Abraço, camarada.
vou tentar assistir ao filme, por esses dias.
em tempo, ainda não compreendi pq ainda não envias tuas resenhas pra jornais.
e outra: p q trecos e coisas?
tá doido ou tá esculachando meu blog?
blé!
bjoooooo
é isso mesmo, caio. se as pessoas soubessem o que lhes esperava dentro das salas onde o filme vem sendo exibido, talvez menos de 1/4 teriam comparecido. não que elas não gostem do tipo de filme em que "cavaleiro das trevas" acabou se tornando, e que elas não tenham gostado do filme como obra. não isso. é da predisposição de sair de casa pra, conscientemente, assistir a algo "experimental" que até então não se tivesse idéia de como ficaria.
em termos de efeitos, a cena do caminhão virando é espetacular.
no aguardo do outro post
Luana, talvez eu não tenha enviado as minhas resenhas para jornais pq estou me formando Rádio e TV. rsrsrs... brincadeirinha! Na verdade, nunca vi essa oportunidade. Quando rolar, claro que vou colocar.
Ah! E trecos e coisas foi só outra brincadeirinha... teu blog tá massa demais! Vou lá de novo, depois.
Camarada Grijó,
Hum! Essa questão é bem interessante. As três atuações que vc citou são completamente diferentes. Realmente, o personagem do comissário Gordon é muito difícil. Sem um bom ator por trás, facilmente ele poderia cair na inexpressividade ou apatia, e ainda comprometeria o filme, já que a função do personagem poderia ficar meio comprometida.
Quanto a atuação de Nicholson, certemente ele foi incrível e intenso. Foi uma atuação bem mais simples na composição - caricato e unilateral - e poderia muito facilmente cair no ridículo. No entanto, Jack Nicholson não deixa de forma alguma e compõe a criatura com muito bom senso.
Já Ledger, teve a missão de construir um Coringa que coubesse no mundo de Norlan, o que eu acho extremamente difícil. O personagem naturalmente já não caberia dentro desse realismo pretendido pelo diretor, mas Ledger consegue com genialidade (sem exageiros) moldar um Coringa verossímel e real. Era de fato um marfioso, mas um marfioso excêntrico! Ledger usa, ao mesmo tempo, a profundidade dramática que Gary Oldman necessitou colocar no Gordon e o bom senso e criatividade de Nicholson com o seu Coringa.
Realmente é um personagem com possibilidades ilimitadas, concordo plenamente. Mas na prática, desenvolver um personagem com tanta criatividade e ao mesmo tempo buscando uma razão profunda que justifique emocionalmente tudo aquilo, é algo realmente difícil. Saca só aqueles tiques super sutis na expressão do ator, que na verdade revelam algum desequilíbrio emocional do personagem (e do ator também, já que ele sente pelo personagem). Tenho a impressão que compor esse personagem e interpretá-lo deva ter sido uma experiência extremamente exaustante pra Ledger. Tudo o que o ator faz está fortemente fundamentado em emoções, a verdade da atuação dele confirma isso.
Já o Coringa de Nicholson é menos intuitivo e mais racional; é uma criação "de fora pra dentro" muito bem elaborada.
Pela ordem de dificuldade, ordenaria assim:
Coringa de Ledger > comissário Gordon > Coringa de Nicholson
Heath Ledger merece qualquer homenagem que façam a ele por conta desse personagem. Toda a contenção e auto-repressão do tenso Earnie de Brockback foi invertida em uma exteriorização bizarra do Coringa. E tudo feito com uma profudidade tocante. Foram as melhores composições do ator.
Mas a verdade é que essa coisa de dificudades e facilidades também varia de ator pra ator, né! Acaba sendo relativo!
Bom! É isso camarada. Valeu a visita.
Abraço!
Acho que esse é o melhor filme que vi em muito tempo. Fiz uma resenha sobre ele no meu blog também. Fiquei chocado, impressionado e pasmando. Só de lembrar algumas cenas já tenho vontade de ver de novo xD
[]'s
http://www.musica-holic.blogspot.com/
Carvalhêdo,
acredito realmente na "entrega" de H. Ledger, ao mesmo tempo em que, caso minha memória não me engane, o Coringa de Nicholson é mais coerente com a concepção dos quadrinhos.
Mas agradeço sua resposta. Esclarecedora.
Valeu.
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