Tenho estudado e pesquisado mais intensivamente meu tema de monografia, que trata diretamente sobre cinema e violência, o que tem sido revelador em alguns aspectos, incitando-me a refletir sobre certos assuntos. Ao ler o artigo Estéticas da Violência no Cinema, de autoria da Doutora em Comunicação, Ivana Bentes, senti um forte incômodo diante do seguinte trecho:
"Para além do discurso midiático do medo difuso e demanda de repressão encontramos ainda outras diferentes formas de consumir a pobreza, ligadas ao circuito do turismo e das trocas culturais. A menos perversa, e mais antiga, faz pensar na pobreza e miséria como uma espécie de 'museu da humanidade', em que as favelas 'tombadas' (uma tendência inclusive urbanística, com o descarte, cada vez mais claro de qualquer idéia de 'remoção') são pontos turísticos com seu primitivismo-exótico, multiculturalismo e modos de vida em 'extinção'. A cena é comum em Copacabana. Um imenso jipe verde-oliva, apinhado de turista vestidos como se partissem para um safári africano, cruza a Avenida Atlântica saindo do Copacabana Palace. O Jeep Tour leva gente de todas as nacionalidades para ver de 'perto', ou do alto do jipe esse 'habitat natural' de uma pobreza ironicamente incorporada à imagem turística e folclórica do Rio de Janeiro.
[...]
A favela é o cartão-postal às avessas, uma espécie de museu da miséria, etapa histórica, não-superada, do capitalismo e os pobres, que deveriam, dada toda produção de riquezas do mundo, estar entrando em extinção, são parte dessa estranha 'reserva', 'preservada' e que a qualquer momento sai do controle do Estado e explode, 'ameaçando' a cidade."
É claro que chegamos ao ponto em que a violência e a miséria brasileira estão sendo encaradas como espetáculos. Não sei bem se o cinema tem a culpa nesse embelezamento da pobreza ou se somos nós que estamos um tanto incapazes de perceber a realidade, pois, mesmo que esses filmes possuam uma estética que traduz em belo uma difícil realidade, os mesmos são marcados por um realismo visceral que deveria nos chocar. Acredito que o problema esteja mesmo na forma como nos posicionamos quando estamos frente a telona; às vezes, parece que somos turistas visitando o nosso próprio país, tal qual, aqueles do jipe verde-oliva, citado por Ivana Bentes.
"Para além do discurso midiático do medo difuso e demanda de repressão encontramos ainda outras diferentes formas de consumir a pobreza, ligadas ao circuito do turismo e das trocas culturais. A menos perversa, e mais antiga, faz pensar na pobreza e miséria como uma espécie de 'museu da humanidade', em que as favelas 'tombadas' (uma tendência inclusive urbanística, com o descarte, cada vez mais claro de qualquer idéia de 'remoção') são pontos turísticos com seu primitivismo-exótico, multiculturalismo e modos de vida em 'extinção'. A cena é comum em Copacabana. Um imenso jipe verde-oliva, apinhado de turista vestidos como se partissem para um safári africano, cruza a Avenida Atlântica saindo do Copacabana Palace. O Jeep Tour leva gente de todas as nacionalidades para ver de 'perto', ou do alto do jipe esse 'habitat natural' de uma pobreza ironicamente incorporada à imagem turística e folclórica do Rio de Janeiro.
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A favela é o cartão-postal às avessas, uma espécie de museu da miséria, etapa histórica, não-superada, do capitalismo e os pobres, que deveriam, dada toda produção de riquezas do mundo, estar entrando em extinção, são parte dessa estranha 'reserva', 'preservada' e que a qualquer momento sai do controle do Estado e explode, 'ameaçando' a cidade."
É claro que chegamos ao ponto em que a violência e a miséria brasileira estão sendo encaradas como espetáculos. Não sei bem se o cinema tem a culpa nesse embelezamento da pobreza ou se somos nós que estamos um tanto incapazes de perceber a realidade, pois, mesmo que esses filmes possuam uma estética que traduz em belo uma difícil realidade, os mesmos são marcados por um realismo visceral que deveria nos chocar. Acredito que o problema esteja mesmo na forma como nos posicionamos quando estamos frente a telona; às vezes, parece que somos turistas visitando o nosso próprio país, tal qual, aqueles do jipe verde-oliva, citado por Ivana Bentes.
7 comentários:
O cinema, como toda fonte gigante de renda, apenas aproveita!
Não é assim tão simples, mas aproveita! A questão aqui é mesmo as consequências...
putz, levar a pobreza e a desproteção dos povos como espetáculos é bem forte, hen?!
Falta um pouco de respeito em tudo isso.
Isso deveria ser levado é com uma guerra urbana. que é de se conformar que não tem fim...
http://lhmartins.blogspot.com/
Pra ser sincero, não é que somos turistas. O problema é que somos indiferente ateh que uma tragédia dessas muitas vezes romantizadas por ALGUMAS mídias de massa atinja alguém de nossa família ou no mínimo próxima. O brasileiro enquanto membro de uma nação terceiro mundista, se é que essa expressão ainda existe, dada as condições em que vive preocupa-se mais com a propria sobrevivencia que com o próximo. Daí o fato de explorar ateh mesmo a favela como ponto turístico e recurso fácil de se garantir o sustento no fim do mês. Creio que a culpa não é do cinema. Ele, sim, cumpre seu papel de criticar. É uma pena que o povo reaja diferentemente.
Brigadão pela visita e pelos elogios, cara! Volte mais vezes, ficarei feliz!
Abraço!
Ver o que fazer pra ver se muda pq apontar problemas não vai resolver nada.
Cayo, depende dos problemas que você aponta. Muita gente nem isso faz, quanto mais analisar a própria realidade.
A reflexão seria uma boa forma de buscar uma solução e não ignorar tomada de consciência a cerca dos problemas.
Então, prefiro apontar sim. Não posso ter uma solução sem, primeiro, encontrar um problema.
"O povo gosta de ver miséria"
Acho q os turistas seguem essa linha de pensamento.
A mídia ajuda muito nisso, já que é ela que divulga o fato.
Obrigado pelo seu comentário.
Talvez, quando me formar, eu opite por jornalismo.
Abraços, e seu blog está ótimo.
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