sexta-feira, julho 18, 2008

O Gozo Espetacular da Violência

Tenho estudado e pesquisado mais intensivamente meu tema de monografia, que trata diretamente sobre cinema e violência, o que tem sido revelador em alguns aspectos, incitando-me a refletir sobre certos assuntos. Ao ler o artigo Estéticas da Violência no Cinema, de autoria da Doutora em Comunicação, Ivana Bentes, senti um forte incômodo diante do seguinte trecho:

"Para além do discurso midiático do medo difuso e demanda de repressão encontramos ainda outras diferentes formas de consumir a pobreza, ligadas ao circuito do turismo e das trocas culturais. A menos perversa, e mais antiga, faz pensar na pobreza e miséria como uma espécie de 'museu da humanidade', em que as favelas 'tombadas' (uma tendência inclusive urbanística, com o descarte, cada vez mais claro de qualquer idéia de 'remoção') são pontos turísticos com seu primitivismo-exótico, multiculturalismo e modos de vida em 'extinção'. A cena é comum em Copacabana. Um imenso jipe verde-oliva, apinhado de turista vestidos como se partissem para um safári africano, cruza a Avenida Atlântica saindo do Copacabana Palace. O Jeep Tour leva gente de todas as nacionalidades para ver de 'perto', ou do alto do jipe esse 'habitat natural' de uma pobreza ironicamente incorporada à imagem turística e folclórica do Rio de Janeiro.

[...]

A favela é o cartão-postal às avessas, uma espécie de museu da miséria, etapa histórica, não-superada, do capitalismo e os pobres, que deveriam, dada toda produção de riquezas do mundo, estar entrando em extinção, são parte dessa estranha 'reserva', 'preservada' e que a qualquer momento sai do controle do Estado e explode, 'ameaçando' a cidade."

É claro que chegamos ao ponto em que a violência e a miséria brasileira estão sendo encaradas como espetáculos. Não sei bem se o cinema tem a culpa nesse embelezamento da pobreza ou se somos nós que estamos um tanto incapazes de perceber a realidade, pois, mesmo que esses filmes possuam uma estética que traduz em belo uma difícil realidade, os mesmos são marcados por um realismo visceral que deveria nos chocar. Acredito que o problema esteja mesmo na forma como nos posicionamos quando estamos frente a telona; às vezes, parece que somos turistas visitando o nosso próprio país, tal qual, aqueles do jipe verde-oliva, citado por Ivana Bentes.

7 comentários:

"O Autor", disse...

O cinema, como toda fonte gigante de renda, apenas aproveita!

Rafael Carvalhêdo disse...

Não é assim tão simples, mas aproveita! A questão aqui é mesmo as consequências...

iti disse...

putz, levar a pobreza e a desproteção dos povos como espetáculos é bem forte, hen?!
Falta um pouco de respeito em tudo isso.
Isso deveria ser levado é com uma guerra urbana. que é de se conformar que não tem fim...


http://lhmartins.blogspot.com/

Valfredo Mateus disse...

Pra ser sincero, não é que somos turistas. O problema é que somos indiferente ateh que uma tragédia dessas muitas vezes romantizadas por ALGUMAS mídias de massa atinja alguém de nossa família ou no mínimo próxima. O brasileiro enquanto membro de uma nação terceiro mundista, se é que essa expressão ainda existe, dada as condições em que vive preocupa-se mais com a propria sobrevivencia que com o próximo. Daí o fato de explorar ateh mesmo a favela como ponto turístico e recurso fácil de se garantir o sustento no fim do mês. Creio que a culpa não é do cinema. Ele, sim, cumpre seu papel de criticar. É uma pena que o povo reaja diferentemente.

Brigadão pela visita e pelos elogios, cara! Volte mais vezes, ficarei feliz!
Abraço!

Cayo Nauan Siqueira disse...

Ver o que fazer pra ver se muda pq apontar problemas não vai resolver nada.

Rafael Carvalhêdo disse...

Cayo, depende dos problemas que você aponta. Muita gente nem isso faz, quanto mais analisar a própria realidade.

A reflexão seria uma boa forma de buscar uma solução e não ignorar tomada de consciência a cerca dos problemas.

Então, prefiro apontar sim. Não posso ter uma solução sem, primeiro, encontrar um problema.

Ramon Assis disse...

"O povo gosta de ver miséria"

Acho q os turistas seguem essa linha de pensamento.
A mídia ajuda muito nisso, já que é ela que divulga o fato.

Obrigado pelo seu comentário.
Talvez, quando me formar, eu opite por jornalismo.

Abraços, e seu blog está ótimo.