domingo, junho 22, 2008

Sex and the City

Desde que passei a ter acesso a TV a cabo, à intenet ou a conversar com pessoas que acompanham um pouco da TV norte-americana, ouvi constantemente a respeito da fomosa série Sex and the City, e muito bem. Como alguém que desfruta um pouco dessa teledramaturgia, sempre tive um mínimo de curiosidade, mas não a suficiente para baixar a série pela internet, já que não possuia o canal ao qual era exibida. Com o lançamento do filme, foi mais que normal o retorno da velha curiosidade pela estória, agora mais forte por querer entender os motivos que levaram-na a ser adaptada para o cinema. Bom! Finalmente assisti, e vejo apenas um motivo para essa adaptação: bilheterias. Popular como foi enquanto série, e contendo uma estrutura e estória semelhante às bem-sucedidas comédias-românticas, Sex and the City sempre teve o potencial para torna-se um sucesso na telona. No entanto, a parte triste dessa história é que se o filme fosse uma espécie de episódio piloto da série, eu a esqueceria pouco tempo depois e viria a assistí-la apenas por acaso, em um desses tours pela TV a cabo. E tenho a plena certeza que as mulheres que estiverem lendo este texto estão argumentando que eu não entendo nada do universo feminino, e eu rebato: às vezes realmente não entendo as mulheres, mas se critico o filme, faço-o justamente para defender o universo feminino, pois sou convicto de que este seja mais rico que o mundo de Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha, ao qual pude visitar durante excecivas duas horas e meia.

Baseada no livro de Candace Bushnell e de mesmo nome, a série foi produzida entre 1998 e 2004 pela HBO e exibida no próprio canal (no Brasil, a série foi exibida pelos canais Multishow e Fox Life). A estória se passava em Nova Iorque e contava o dia-a-dia de quatro amigas através do olhar da simpática Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker), focando nas relações íntimas e nos problemas tipicamente femininos das quatro quase-coroas (uma já é!), com cada episódio tematicamente organizado segundo as matérias escritas por Carrie na sua coluna do jornal The New York Star. O filme, que mostra o pós-seriado, tem início com um reencontro das quatro amigas. A partir daí, acompanhamos novas aventuras amorosas, nas quais Carrie Bradshaw decide se casar, Charlotte York (Kristin Daves) tenta ter seu primeiro filho, Miranda Hobbes (Cythia Nixon) enfrenta problemas com o casamento que 'esfriou', enquanto que Samantha Jones (Kim Cattrall) parece cada dia mais desestimulada com o casamento e seduzida pelo vizinho.

É difícil encontrar o culpado pelos equívocos ideológico de um filme baseado em uma série de TV que é baseada em um livro, sem ter assistido ao segundo e lido o último; não seria justo, pois não sei que tipo de modificações foram feitas na adaptação de um livro para uma série. Mas como o produtor/direto/escritor da série assume as mesmas funções no filme e possuíndo este a capacidade de melhorar a obra, posso atribuir-lhe culpa parcial pelos erros e acertos de seu primeiro longa-metragem. Trantando o universo feminino como se este fosse resumido apenas a grifes, amor (diga-se "caça ao príncipe encantado") e mimos, Michael Patrick King desenvolve o filme aos moldes de uma comédia-romântica. Sex and the City, enquanto tal gênero, até diferencia-se por fugir dos clichês e estar mais centrado nas aventuras sexuais e românticas dessas mulheres, deixando o par romântico condutor da estória de lado e evitando o clímax típico que envolve o moço correndo atrás da moça, antes que esta fuja de vez da sua vida (ou de Estado, como elas costumam fazer).

No entanto, o filme passa maior parte de seu tempo preocupado em nos mostrar o cotidiano consumista das personagens, que estão sempre preocupadas com suas roupas, jóias e homens. Como se estes fossem as maiores motivações de suas vidas, nem sequer somos bem apresentados às profissões de cada uma, tornando-as, a princípio, em figuras bobas e superficiais. A personagem de Parker, em especial, parece estar sempre preocupada em ter um belo e grande guarda-roupas para colocar suas infinitas vestimentas. Dessa forma, com quase meia hora de projeção, nenhum conflito é estabelecido, a não ser a disputa das personagens por uma jóia em um leilão ou a procura de Carrier e seu noivo por um grande apartamento em Nova Iorque. E não bastasse o "cotidianísmo" fútil da trama, somos obrigados a encarar toda aquele estilo de vida como se fosse o ideal de vida femino, como se todas as mulheres que se prezem tivessem que ser caçadoras do homem perfeito e loucas por roupas de grifes.

Até este ponto, está tudo bem, existem muitos filmes que pregam ideologias e modos de vida um tanto acefálicos. Mas o que há de mais ofensiva e nociva é a pretensa imagem do filme como se este fosse um produto que tratasse transparente e prioritariamente da vida feminina: seus problemas e conflitos; enquanto, na verdade, o faz em apenas alguns momentos pontuais do longa. Essa pseudo imagem atrelada aos valores deturpados que o filme prega, como consumismo exacerbado, um romantismo cego e a idéia errônea de sucesso, são capazes de confundir o telespectador menos desinformado. Admiro-me que, mesmo no atual contexto, em que as mulheres buscam sua liberdade e respeito, uma série com esse conteúdo (caso seja igual ao filme), que limita tanto as mulheres a escravas da necessidade de um homem e a pessoas inúteis que em nada se interessam pela realidade - a não ser, por modas e grifes - tenha feito tamanho sucesso.

A verdade é que, por trás da suposta mulher moderna de Sex and the City (refiro-me apenas ao filme), que fala livremente sobre sexo e aparenta ser mais independente do que nunca, há mulheres mimadas e imaturas, que não conseguem visualizar seu sucesso senão estando ao lado de um bom-partido (e que tenha um bom dote - interprete como quiser), que vivem frustradas e são incapazes de encarar situações difíceis com o mínimo de inteligência, sempre dramatizando excessivamente. Então, quando por acaso alguma dessas é traída ou abandonada no altar, a única atitude cabível na mente miúda dessas personagens é ignorar completamente o companheiro, como se este não merecesse expor o seu lado ou parecer para elas como uma pessoa que possue fraquezas - Claro! O homem têm que ser perfeito na lógica dessas quarentonas. Mais absurdo ainda é a definição entre homens bons e homens maus que rodeia a cabeça das personagens, reduzindo estes a uma simples dicotomia, assim como a vida destas a algo semelhante a um conto de fadas, quando acreditam que o homem bom e perfeito vai aparecer um dia.

Há no filme, porém, qualidades inquestionáveis, como o humor constante e bem elaborado, extraído de situações simples e geralmente beneficiadas pelas boas atuações. Há cenas hilárias, como a de Carrier que, ao descobrir algo desagradável em uma festa de dia dos namorados, tem sua saída dramática dificultada pelos enfeites da festa; ou então, o momento em que a mesma personagem, necessitando urgentemente de um celular e recebendo um I-Fone no lugar, descobre não saber usar o aparelho. Novamente "porém", as tiradas cômicas em certos momentos ultrapassam o limite do bom senso e caem em piadas bobas como as personagens; então, situações como a de Charlotte York (Daves), passando por séria crise intestinal, soam fortemente forçadas.

Com poucos momentos dedicados a Charlotte York durante o filme, Kristin Daves pouco pode fazer, e sua personagem, que a princípio parecia-nos expontânea e simpática, aos poucos soa irritante e artificial, protagonizando alguns dos momentos mais constrangedores do filme - em algumas cenas, a atuação de Daves pouco condiz com o clima da situação proposta. Já Sarah Jessica Parker, parece a vontade com sua personagem, sabendo lidar muito bem com as cenas cômicas; enquanto isso, Kim Cattrall toma, com sua personagem Samantha Jones, o posto abandonado por Kristian Daves; e Cythia Nixon faz de Miranda Hobbes a personagem mais complexa do grupo, pois, aparentando, a princípio, ser a mais séria e racional, aos poucos presenciamos as atitudes mais imaturas e impulsivas da personagem, o que não deixa de ser uma curiosa contradição. Quanto ao elenco secundário, o ator David Eigenberg faz um ótimo trabalho com seu carismático Steve Brady, enquanto Evan Handler, interpretando Harry, é insistentemente ignorado pela câmera, como se esta estivesse evitando revelar a limitada beleza do ator, chegando a constranger com alguns cortes de fuga.

Mesmo que adiando excessivamente o reencontro entre o casal principal da trama e prolongando a estória, o filme possui um desfecho até interessante para alguns personagens, assumindo pelo menos por esses instantes aquilo a que se propõe sempre e quase nunca cumpre, ou seja, trabalhar o universo feminino. Lembro que pude ouvir um coro feminino suspirando um "ownnnnnnnnnn!" tipicamente americano, quando um personagem presenteia inesperadamente sua amada Carrie com a cobertura de um apartamento em Manhattan, logo no início do filme, revelando o envolvimento e a identificação do público com as personagens. Tenho certeza que a maioria das mulheres achará tudo isso muito lindo e aplaudirá o filme achando que este é sincero ao universo da mulher, não percebendo que, por trás da suposta mulher moderna de Sex and the City, há um estilo de vida, que se seguido por qualquer uma, nada mais serão do que mulheres com quadros de histeria, constantes frustrações, carência excessiva e comportamentos imaturos (tudo em grande estilo e elegância); e claro, não posso negar, um belo e cheio closet.

8 comentários:

Lucas Oliveira disse...

Ótima matéria sobre o filme "Sex and the City"... eu - com certeza - irei assistir ao filme.
Já li algumas análises referente ao filme - tema desta postagem -, que me despertaram o interesse e a curiosidade de assistir à essa 'bela' produção.
Muito bom o teu blog!

abçs


Lucas de Oliveira

Nandu disse...

Bem legal esse texto,eu não vi o filme e não assitia a série,mas sempre ouvi falar que se tratava de uma série para mulheres então nunca tive interesse.


>> www.topzet.com
(cinema,séries,música,livros...)

Murielle disse...

Nossa, estou bem desligada...
nunca ouvi falar dessa série, mas parece ser legal.

adorei o blog.
bj
;*

Anônimo disse...

sinceramente não gosto dessa série não, conseqüentemente não tenho muita curiosidade pelo filme, mas seu texto é muito bom!
:D

http://prixhoje.blogspot.com/

bejux

Dário Souza disse...

Pelo fato de vc nao ter visto a série,o fez axar que o filme é ruim,mas eu discordo o filme é muito bom,engraçado,e conseguiu fixar a essencia da serie,que era amizade entre elas.

Bora Rir disse...

Eu nao gostei =/! nada se parece com a série...

Abraços
Cisco
http://borarir.blogspot.com/

Euzer Lopes disse...

Se for fazer uma analogia à vida, posso dizer que todo esse planejamento que envolve a cerimônia do casamento fica um pouco superficial se for seguir regras rígidas de cerimoniais.
Casamento é apenas um acontecimento.
Sim, tem toda a magia da festa, da cerimônia, de todo aquele ritual único (pelo menos é o que espera quando se diz "SIM"). Mas não pode ser tratado com tanta rigidez. São seres humanos, não bonecos de corda ou movidos à pilha, com atos pré-definidos.
Isso assusta.
Por mais safado que tenha sido Mr. Big, ele apenas teve medo de ser um boneco de corda. Apenas quando foi "humano" é que ele mostrou a força do amor.
E para o amor, o "SIM" pode ser dito apenas com o olhar.

Jamille disse...

é, realmente o mais legal do post é O post!! sou fã incodicional da serie, acho q vi quase todos os episódios, através de locação dos dvd´s e não concordo com muitassssss coisas. tudo bem, q a maioria dos homens acha q filmes assim são "para mulheres" e os critica muito justamente por isso, mas falar que o filme exagera no consumismo isso é perfeitamente aceitável já que é uma ficção e produzida pra venda mesmo!normalmente é assim,não acha?!
engraçado,inteligente, romântico, divertido, isso no mínimo!!! rsrsrs
abraço.