terça-feira, abril 01, 2008

Desabafo

Ao visitar o blog Calango Net News, li um post chamado O Circo dos Horrores que comentava sobre a situação deplorável do Congresso Nacional, com seus escândalos, baixarias e casos de corrupção que não acabam nunca. De alguma forma, o texto escrito pelo autor não-identificado me trouxe uma série de reflexões nada novas a respeito dessa situação. Quando decidi comentar, o que era pra ser uma breve opinião, tornou-se em um longo comentário escrito quase que ininterruptamente e como se fosse um desabafo. E sendo assim, nada mais justo que postá-lo no meu próprio blog. E a resposta ao post foi a seguinte:


Sério! Esse é um problema cultural diretamente relacionado à educação. O brasileiro sempre se viu na corda bamba, sempre se viu obrigado a achar o jeitinho brasileiro. E o que é o jeitinho brasileiro? Teoricamente, uma forma desrespeitosa de buscarmos um modo de sobreviver e ultrapassar as dificuldades, infringindo leis e trapaceando. O brasileiro, de romântico, não tem quase nada, mas de cínico, praticamente tudo. A convenção de que devemos driblar as regras para sobreviver é tão grande e cara de pau, que qualquer sinal de sentimentalismo, romantico ou não, nacionalista ou não, que possa nos fazer pensar no próximo ou no coletivo, parece vergonhoso.

O pobre se ver no direito de trapacear com seu jeitinho brasileiro. O rico se ver igualmente no direito de, às escondidas, infrigir leis. Por que seria diferente se a educação cultural no fim é praticamente a mesma? Ninguém é vilão... somos todos mal acostumados. Mal acostumados a morrer de fome enquanto buscamos uma forma justa de sobreviver. Sem romantismo, isso é impossível. Mal acostumados a pensar no próximo enquanto queremos acumular fortuna ou sentí-la mais sólida quando nossas inseguranças e neuroses sempre dizem que o que temos não é o suficiente ou quando somos seduzidos cada dia mais pelo "ter" e pela publicidade.

Quem é o vilão? O congresso, com seus exemplares de pessoas egoístas ou de mazelas brasileiras potencializadas pelo poder? Seria o pobre, que fura a fila do SUS ou burlar algum sistema pra sobreviver sem ao menos lembrar do outro pobre que ficou pra trás? Como brasileiros, somos todos egoístas. Mas você me pergunta: "Por que pensar no outro se, caso a situação fosse inversa, o outro não pensaria em mim?". Esse é o cúmulo de uma mizerável convenção.

Nosso tão estimado calor humano e abraço, em certos momentos, não passam de superficialidades. Nossa proximidade uns dos outros e facilidade de relacionar-se, à vezes, revela o elo fraco que temos entre nós, e quando caímos no mais puro individualismo, isso fica mais que comprovado. Poucos são os brasileiros que pensam em outros brasileiros, e esses, são românticos, idealistas e quase extintos. Se no mundo o homem passa por um processo de individualisação, no Brasil, então já somos individualistas, mas da forma tipicamente brasileira, ou seja, fingindo sermos próximos, achegados, caridosos e carinhosos. Pessimismo? Não. O que acontece no "circo dos horrores", o Congresso, é a maior prova da desventura do brasileiro enquanto cidadão, e esse é o reflexo ou a maior divulgação de nosso comportamentos.

Da mesma forma que o brasileiro baixinho e jogador de futebol se viu obrigado a desenvolver dribles mirabolantes para ultrapassar os altos jogadores europeus, fomos também educados pela nossa própria história a ser assim, "dribleiros", infratores de nossas próprias leis e, consequentemente, problemáticos com nossa baixa auto-estima, que está direta ou indiretamente ligada com as nossas atitudes, ou talvez seja resultado de um pouco de culpa que sentimos pelos nossos atos. A verdade é que, de modo geral, só a educação para nos salvar, não só o Brasil, mas o mundo que anda invertido em seus valores. Só a educação para nos tornar conscientes de nossas próprias mazelas, e para o Brasil falta muito. Muito além do consciente e inconsciente do brasileiro, a educação deve mudar o inconsciente coletivo, em um processo a longuíssimo prazo. Pena que não começamos ainda!


7 comentários:

Juliana Lourenço disse...

Ahhhhh eu já cansei de dizer que perdi as esperanças num mundo e país melhor.... entramos num círculo vicioso que ao meu ver não tem mais saída.... não temos exemplos, governo e muito menos compaixão pelos outros....

pra mim essa é a realidade!

www.jlouthings.blogspot.com

Davi Arloy disse...

Wol! Alguem ai se empolgou né?! rs
Tipo a J aqui em cima, eu tambem já perdi a esperança na nossa geraçao. Talvez SE QUISERMOS podemos mudar isso com nossas crianças e futuras geraçoes mas, a nossa...

Luana! disse...

Racaiel, vc está sabendo de alguma vaga (de estágio) na Gróbu pra mim? Se souberes, me avise logo, pq quero aproveitar a sorte que tanto desejas a mim.
xD

E outra: a educação não salva ngm; queiramos ou não, há muitas pessoas 'educadas' no mundo, nem por isso ele está sendo tirado do buraco.

E tenho dito!

Marcos Costa Melo disse...

Rafael, concordo em parte. Não vou me alongar muito, porque tenho pensado justamente em escrever um post sobre esta questão da educação.

Acho que há um pouco de folclore em torno disso, como a educação para a solução dos problemas. E olha que falo disso como alguém que vive há 10 anos dela.

Como a Luca citou aqui em cima, o mundo está cheio de pessoas educadas. O Congresso Nacional, por exemplo, está abarrotado delas.

Em relação ao texto, como disse, concordo com boa parte, mas lembro que é sempre perigoso quando partimos para generalizações, como "o brasileiro é isso" ou o "brasileiro é aquilo", porque elas são sempre incompletas, já que, obviamente, não há um "brasileiro típico" e existem muitos "Brasiz" (sic) dentro deste país.

abraços

Euzer Lopes disse...

Felizmente há brasileiros como você.
Nem tudo está perdido.

alex disse...

Eu vi uma entrevista com Bill Gates uma vez em que o repórter perguntou - O que o senhor acha do Brasil de modo geral? - E ele respondeu sinceramente - Para um país funcionar, três profissionais precisam ser valorizados, o da saúde (Médicos), o da educação (PROFESSORES), e o da segurança (POLICIAIS). No Brasil apenas um desses três pilares se sustenta (Médicos, que na opnião de Bill estão entre os melhores do mundo), e isso faz com que o país não saia do lurgar, porque não há respeito e valorização nas outras áreas...

Eu também acho que é bem por aí o problema... principalmente na EDUCAÇãO. Mas o que manda é a velha regra né... "povo ignorante, manipulação constante"


falows abraço

Alexander Bastos (moderador)
www.blogdospiratas.org

Polyana Amorim disse...

esse tema é bem cascudo...a educação no Brasil deve melhorar e muito...mas a própria 'educação' é algo que tenho questionado..luana disse e o marcos apoiou que educação não salva ngm...isto pq a educação está dentro de um sistema já estabelecido a gerações...é uma educação que se resume a saber ler e escrever, ter 'consciência crítica', saber interpretar fatos, não ser manipulado...parece satisfatório, o 'muito bem educado' pode fazer tudo isso, mas não põe me prática, não atua, acomoda-se com o seu intelecto...na verdade se sentem superiores, são egoístas...sendo bem realista, acho que a educação não vai solucionar todos os problemas, a raíz não é essa...até mesmo pq os principais culpados por isso, são os educados que governam as nações, certo?!

sei lá, talvez um outro bigbang dê um jeito nisso.