A estória de 10.000 A.C. se passa em uma época em que a vida nômade do homem está se encerrando. Na busca por alimento para sua tribo e de uma nova forma de viver em um período de escassez, um grande caçador deixa sua tribo e seu filho D'Leh (Steven Strait). O jovem cresce sofrendo discriminações e exclusão por ter um pai covarde que abandonou a tribo, sendo então criado por Tic'Tic (Cliff Curtis), o amigo de seu pai e que conhece os motivos da partida deste. Apaixonado por Evolet (Camilla Belle) e tendo o conhecimento que esta faz parte de uma profecia que diz que o primeiro jovem que derrotar um mamute será o novo líder e casará com a moça, D'Leh começa sua jornada épica ao ganhar a disputa pela liderança. No entanto, a tribo é invadida pelos "demônios sobre quatro patas" (diz-se cavaleiros) e Evolet é sequestrada junto a vários outros integrantes da tribo, restando a D'Leh, enquanto líder, resgatá-los.
O roteiro, assinado pelo roteirista Harald Kloser e também por Roland Emmerich, é a maior decepção (ou não, já esperava por algo do tipo) entre todas as outras baixas da produção, ao narrar com pobreza inacreditável a jornada épica de D'Leh e Tic'Tic. Esquecendo completamente de desenvolver as personagens, os roteiristas apenas se conformam em atribuir esteriótipos a estes logo no início do filme, seguindo toda a estória através de cenas vazias e maniqueístas em suas reviravoltas, mostrando o quanto a dupla não sabe desenvolver suas próprias idéias. Assim, em determinados momentos do filme, acompanhamos a jornada das personagens na tentativa de resgatar parte da tribo que fora sequestrada, porém, nada mais além do que caminhadas e momentos de risco às personagens nos é apresentado, nenhum conflito, nenhuma sub-trama, nada que acrescente e dê um mínimo de complexidade a trama, tornando o roteiro chato e completamente desestimulante. E se em alguns momentos os plano muito abertos nos mostravam toda a beleza das paisagens por quais os personagens passam, os planos fechados de nada acrescentam, já que, as personagens são apenas peças que se movem quando os roteiristas querem e nada de interessante acontece dentro do grupo quando estes não estão em perigo. O roteiro é tão fraco e pobre que poderia ser quase que inteiramente filmado em planos completamente abertos; seria como acompanhar de cima a jornada de um bando de pinguins. (Ué! Mas já vimos um documentário que possui um roteiro mais rico envolvendo pinguins.)
Todos esses defeitos não são nada em relação ao maior erro do roteiro: o de justificar toda a trama e seus absurdos através de profecias, que vez ou outra (sempre) se realizam. Que as tribos primitivas humanas possuiam suas crenças, ninguém pode negar, até hoje temos; mas tentar fazer o público acreditar na verdade das profecias, comprovando-as durante o filme, é tolo o suficiente e é a maior prova de mal gosto compartilhada pela dupla, que sem talento, viu nessa idéia a única alternativa de fazer de D'Leh um profeta e da sua viagem em uma jornada épica. Justificativas fraquíssimas que rendem cenas constrangedoras, como as duas convesas de D'Leh com um tigre-dente-de-sabre ou a milagrosa ressucitação de uma determinada personagem no final da estória (faltou apenas a lágrima milagrosa caindo no peito do falecido). Além disso, todo esse caráter fantástico é contraditório à proposta de se narrar uma estória em uma época véridica na história da humanidade.
Ao contrário do roteiro, os efeitos visuais não decepcionam, criando Mamutes incrivelmente convincentes e atendo-se a detalhes importantes, como os traços de velhice em um dos Mamutes ou à complexidade da arquitetura da pirâmide erguida pela civilização mostrada no filme. Nesse sentido, a Direção de Arte é competente ao recriar convincentemente os grandes cenários; da mesma forma, os figurinos são peças de aparência completamente rústicas e primitivas, enriquecendo culturalmente as tribos e civilizações, mesmo que o roteiro às vezes desconsidere alguns aspectos referentes às limitações culturais desses povos tão primitivos. Envolvente no que se refere à ação, 10.000 A.C. só se beneficia nesse aspecto, que aliás, Emmerich sabe como fazer. Afinal, parte de suas estratégias para atrair o público residem nesses momentos do roteiro. No entanto, a coreografia do importante duelo entre D'Leh e o Mamute no início do filme deixa a desejar pela falta de criatividade. Se o clichê do "pé preso" em algum lugar já é íncomodo para o espectador mais desligado, repetí-lo duas vezes na mesma cena já deixa qualquer público com o "pé atrás".
E para não culpar inteiramente a dupla de roteiristas, parte da responsabilidades (ou a maior parte) pelos problemas do filme são, claro, do diretor (ou seja, duas culpas para Emmerich!) que tem, desde o momento que aceita o roteiro até o momento das filmagens, a capacidade de evitar algumas dessas falhas e enriquecer mais o filme. E, definitivamente, não é o que Emmerich faz nesse caso. Dessa forma, os atores, que dependem diretamente do diretor, e em 10.000, sem ter o que fazer, nada mais representam do que o personagem físicamente e a fraca idéia que os roteirstas desenvolveram destes. No entanto, nem uma boa direção e roteiro salvaria a inexpressividade da atriz mezzo brasileira, mezzo americana, Camilla Belle, que com seus olhos azuis e uma grande beleza, pouco parece ser uma parente mais próximo de um Neandertal do que eu ou você somos.
Retomando vez ou outra a atenção do espectador para a vidente da tribo de D'Leh nos momentos em que este sofre qualquer dificuldade, através uma espécie de raccord somos levados a uns dos momentos mais contrangedores e que representam a falta de fundamentação para às idéias que o diretor em alguns momentos pretende passar, pois, a vidente, que não representa absolutamente nada para o espectador durante todo o filme, não deveria ser mostrada pela simples falta de uma importância de sua aparição para a narrativa. A surpresa de 10.000 A.C. reside apenas no fato de ser pior do que eu já imaginava. Uma produção, que segundo Roland Emmerich, investiu 15 anos em pesquisas históricas, que no fim comprometeu tudo incluindo na estória profecias bobas pra justificar os fatos, além de desenvolver um roteiro paupérrimas, não poderia render um bom filme - apenas barulho, efeito pelo qual o diretor já é reconhecido.
10.000 B.C.
EUA, 2008 - 109 min
Aventura / Ação
7 comentários:
Estou me dedicando a ver produções não tão famosas como essas, mas preciso ver esse filme urgente. Muitos falaram que é bom e outros não gostaram, mas como sempre a questão do gosto entra em ação. Pelo trailer, imagino que deve ser um filme muito bom, mas com um roteiro fraco.
Vamos ver.
Abs
como assim??? e eu q nem tava sabendo disso!
adorei o blooog. ;*
affs...
que saudades de ir ao cinema
tô doido pra ver este filme.
Abraços
Excelente filme.
Infelizmente no Irão a lapidação de mulheres não é filme, como mostro num post Tolerância Islãmica.
filmes de "apenas sons e imagens" mirabolantes são válidos se o único motivo do filme existir for a diversão do público.
Nesse sentindo, eu concordo: Filmes que se comprometem em apenas divertir são válidos, sim. Porém, existem formas mais elegantes de divertir um público e 10.000 passa longe de ser elegante e interessante. Existem diversões no cinema que valem mais o preço que pagamos hj pra frequentarmos as salas.
Alguns exemplos:
Piratas do Caribe (todos valeram)
Homem-Aranha (o 1º)
As animações da Pixar
etc...
Não é pq o compromisso é diversão que deve ser mal feito, ou duvidar da inteligência do público, assim penso.
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