Quem é jovem nestas primeiras décadas do século XXI sabe: existe uma atenuada tendência por parte de indivíduos saudosistas em se criticar as novas gerações enquanto se exalta os magnificentes feitos do passado. Por intermédio desta perspectiva, a contemporaneidade é lamentável, os jovens são vazios e despolitizados, as artes estão sofrendo uma crise criativa e sucumbem completamente ao mercado, o jornalismo está desvirtuado pela demasiada efemeridade da informação, e a superficialidade reina num mundo cada vez mais fadado ao fracasso completo da intelectualidade humana. Tudo assim, em uma ótica profundamente radical e apocalíptica, de uma postura de inadaptação completa aos tempos modernos. Quem de nós, jovens ou não, nunca cruzamos com um argumento assim?
Compreensível pode até ser essa postura, pois não acredito que na história da humanidade passamos por mudanças tão profundas que envolvem um complexo de fatores em espaço tão limitado de tempo como as que acontecem desde o século XX. E essa geração que muito fez em nosso passado sofre inéditos choques culturais. Os meninos e meninas que no passado lutaram contra ditaduras, engajavam-se em movimentos sociais, viveram a efervescência do rock ou um dos melhores tempos do cinema, e tinham um forte interesse político, hoje têm de lidar com a atualidade branda, com outros valores, nova dinâmica de vida e enxergar os jovens atuais gostarem de um Restart, na música; ou Piratas do Caribe, no cinema; e nada de política, só redes sociais. Mas a realidade atual é realmente essa? Não existe uma simplificação excessiva? No calor do momento, há quem consiga enxergar com clareza a nossa atual circunstância sem sequer necessitar de um distanciamento histórico mínimo antes de um julgamento?
Já me deparei com pessoas assim, repletas dos seus discursos anacrônicos e generalistas, e o que me levou a escrever este post foi justamente o teor em geral cruel e acusatório das críticas a esta nova geração que, aos tracos e barrancos, sobrevive às transformações constantes e frenéticas. Falam dos jovens como se estes tivessem brotado da terra, já educados por seres inferiores do submundo, e dotados de uma genética defeituosa. Referem-se a contemporaneidade como se esta tivesse ocorrido por um acaso, de repente, como de um Big Bang ou de um estalar de dedos de um ser superior ao ordenar que haja as trevas. Para eles, o passado é tão glorioso que não deve ser relacionado com o presente infame, com esta Idade Média pós-moderna - muito menos em uma relação de causa e efeito. Nunca, isso é um absurdo! Os filhos da geração passada são o que são porque biologicamente falhos. Ninguém tem culpa senão o próprio jovem acerebrado que nasceu com massa encefálica a menos, e, por isso, deve ser condenado e relegado a críticas eternas - assim soa o arrogante discurso de quem critica radicalmente a juventude de hoje, discurso este que serve apenas para paralisar, evitar trabalhar as possibilidades desta geração, e expressar um sentimento que mais parece dor de cotovelo.