Entrei com muita expectativa na sala de cinema. A gente sempre espera ver algo surpreendente quando se trata de Caetano Veloso. A sinopse do filme Coração Vagabundo não dizia muita coisa, apenas ressaltava a presença de Paula Lavigne, Pedro Almodóvar, Michelangelo Antonioni, Gisele Bündehen, David Byrne e que o diretor Fernando Andrade "deixou o musico livre para dissertar sobre a saída de sua cidade natal, o sucesso no Exterior, a relação com Almodóvar e a separação de Paula Lavigne".
Algumas matérias de sites e jornais forma além: a atenção sobre a nudez de Caetano na cena inicial indicando a intimidade a qual o filme se propõe, a tentativa do diretor em apresentar o artista como um cara simpático e bem humorado às novas gerações, o medo de Caetano em envelhecer à preocupação em ser maquiado, as opiniões sobre quase tudo e a contestação da afirmação de Hermeto que o considerou um "musiquinho" afirmando ser a música americana a melhor do mundo.
Tudo isso está mesmo no filme, mas sem uma narrativa que nos atraia. Quem não gosta de Caetano poderá odiar o filme e mais ainda o artista. Então, melhor do que ver o filme é ouvi-lo. E como é bom ouvir Caetano no cinema! Sua voz fraca e violão primitivo crescem embalados com os arranjos modernos apresentados no álbum "A Foreing Sound" e a guitarra jovial de Pedro Sá.
O simpático Caetano que pretendeu ser apresentado a mim soou o mesmo Caetano com sua falsa-modéstia de sempre, do tipo que diz "eu não sou tão bom assim" quando quer afirmar o contrário, quando diz que não fala tão bem inglês mesmo tendo feito composições na língua britânica e ter gravado um álbum cantando em português/inglês como foi "Transa".
A transgressão de Caetano no filme ou "intimidade" não está na cena em que ele aparece nu. Aliás, não se vê quase nada. O que choca mesmo é o discurso sobre a velhice a partir de um homem velho que não se considera pejorativamente velho e que nunca se imaginou envelhecer como está hoje. Caetano nos ensino que o tempo dele é outro: o tempo de quem aprendeu a desacelerar e aprendeu que sempre há tempo sobretudo quando tem-se a idéia de que ele vai acabar num instante. Há mais vida, vontade e entusiasmo no Caetano de hoje, aos sessenta e tantos anos, do que naquele dos anos sessenta que gritava com impaciência e pressa: "É proibido proibir".
Em tempo: Paula Lavigne aparece estereotipada como chata no filme, Gisele Bündehen é absurdamente desnecessária na estória, Antonioni não diz muita coisa, Almodóvar podia ter dado um beijo na boca de Caetano que chocaria mais que o nu, e Pedro Sá não abre a boca. Mas o filme é bom? Não e eu gostei. Porque me fez refletir sobre o medo de envelhecer, porque é linda a cena do passarinho que pousa no ombro do companheiro de Caetano no Japão, porque Caetano continua sendo para mim uma referência estética artística e deu mais vontade de curtir o show dele aqui em São Luís, no dia 14.
"Os filhos, filmes, ditos, livros como um vendaval. Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal. Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual. Já tem coragem de saber que é imortal" (O Homem Velho. Caetano Veloso)
Texto escrito por meu amigo desblogado Alberto Junior.
Ótimo texto, Alberto; e interessante análise. Atrevi-me a por umas ilustrações, mania minha! Obrigado pela contribuição ao blog.
3 comentários:
Hunf, nem vou mais assistir. Vou esperar passar na Globo. =]
absolutamente a cara de alberto e muito bom. Bo pedida, feeling!
saudades d ti!
cheiro
Olá Rafael! Escrevi uma resposta ao seu comentário lá no meu blog! Um abraço!
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