domingo, agosto 17, 2008

Sobre Esquinas, Biografias e Ansiedade

Sou um cara essencialmente ansioso, sempre fui. Minha primeira tomada de consciência a respeito dessa minha característica ocorreu quando possuia 7 anos e mal conseguia esperar um dia para assistir ao recém-lançado VHS de Parque dos Dinossauros - e sabe lá Deus o porquê de meu facínio por dinossauros e paleontologia durante minha infância. Mas também sempre tive uma tendência satisfatória a racionalizar as coisas e talvez tenha sido por ela que me certifiquei tão cedo de como gosto de passar em alta velocidade nos cruzamentos. Uma tendência que chega a ser contraditória ao meu desejo de olhar cada esquina cuidadosamente.

Sou muito sonhador. Penso alto, até demais, e isso me predispõe a ansiedade e a pressa. No entanto, algo bacana me ocorreu logo em minha adolescência: eu queria ter uma história! Sempre gostei de assistir a biografias, de olhar como a vida de cada pessoa evolui e se transforma; e se pudesse, extrairia sempre uma equação ou cálculo probabilístico que garantísse o sucesso e indicasse o fracasso na vida daquelas pessoas. Adorava, também, ver como existem passos, partes e pedaços em cada história. São degraus que as pessoas sobem, ou descem, e isso sempre me facinou. A vida, definitivamente, é feita em vários atos.

Adoro cinema, e como tal, adoro estórias. Toda boa estória é contada em atos, passos e degraus. Graças a esse meu facínio pela história que se cria e se desenvolve, pela vida que as outros viveram, percebi que queria a minha história: lenta, processual e vivida. Abidiquei da pressa e decidi acompanhar cada passo de minha vida como quem assiste a uma biografia, como quem descobre e destricha a própria vida. Se sonhava alto, queria que cada metro da subida ou declínio fosse bem aproveitado; se a avenida era longa, não podia perder os atrativos de nenhuma esquina, e não estou falando de prostitutas.

Chegou um tempo que se me perguntassem se eu gostaria de ganhar na Loteria, eu diria que não. Acharia isso um salto anti-climático desinteressante e nada processual. Preferiria lutar aos poucos pelos meus sonhos, encarando o risco de não conquitá-los e sentindo o prazer de estar conciente e monitorando minha própria história. Assim como nas boas biografias.

Acontece que, mesmo sentindo a necessidade de presenciar cada passo, aos poucos, fui sentindo que estes estavam muito lentos e a torcida para que um novo passo fosse dado aumentava disfarçadamente. O mundo pedia um novo passo meu. Sempre pede! Que se danasse a biografia, ela era tão sonho quanto os sonhos que eu tentava alcançar. E entre a biografia e os outros sonhos, prefiro os últimos, sejam tarde, sejam cedo, sejam anticlimáticos. Ter pressa voltou a ser a ser uma opção, mesmo que não adiantasse tê-la. De repente, já nem conseguia mais não jogar na loteria. Isso, porque nem jogo.

A saudável conformação de que minha vida tinha um ritmo próprio e que cada passo dado para frente ou para trás era um novo fato de minha ilusória biografia de sucesso pessoal se transformou na ansia intensa e uma pressão de realizar cada um dos meus objetivos, e os dos outros para mim também. Não sei se a certeza de que minha história se escrevia prognosticando uma biografia idêntica as de personalidades chegava a ser pior que a necessidade que sinto hoje de correr; pelo menos, na primeira opção, a calmaria reinava. Por mais que tentemos, mesmo através de objetivos particulares como o meu, a lentidão não faz parte de nossa vida. Não a de hoje. Só nos resta, então, prestar atenção nas esquinas as quais passamos rapidamente para ver o que tinha lá, e imaginar o que não deu pra ver, o que vivemos.

5 comentários:

Luana! disse...

Ai, meldells!!!

Efeitos da monografia, só pode!

Huahuahau...este sim foi um post com pressa. Li as tuas palavras, como quem as escreve ansioso por chegar a uma conclusão, a uma esquina.

Pois sim. Eu também não lembro de desejar ganhar na loteria, tanto que nnca me atrevi a jogar. Não porque seja ruim ter tudo à mão, mas pq tb tenho uma visão igualmente romântica e, admito, idiota de que devamos lutar e lutar.

Ai, ai...estou um porre! Ando cansada e só quero alcançar meus objetivos de hoje.

Beijooooooooos, Racandro!

"O Autor", disse...

A vida - e minha própria vida - exige um passo.

Jornalismo?

Credo!

íriaacosta disse...

vida imprópria como toda vida.. definida. bah! auto-conhecimento é o primeiro degrau, sem ele.. me diz como subir a escada!?

Anônimo disse...

Realmente, post incoerente com a proposta do blog, mas que me deu vontade de comentar. por quê?
porque adoro biografias e quero ser biógrafo quando crescer.
Vá produzindo boas estória em tua vida que eu me predisponho a ser teu biógrafo em breve, tá!

Rafael Carvalhêdo disse...

Engraçado! Os comentários estão tão loucos e estranhos quanto o meu post.