domingo, março 30, 2008

My Preciousss

Faz exato um ano que não assisto a minha trilogia preferida, O Senhor dos Anéis. Essa é a primeira vez que falo sobre os filmes aqui no Ponto-de-Vista, e não há nada mais motivador para isso que a falta que sinto daquela estória, da melancólica jornada de Frodo. Meus DVD's estão emprestados, minhas versões estendidas estão arranhadas (sou um dos poucos no Brasil que as têm), e a vontade de revê-los é grande.

Tenhos opiniões bem fortes a respeito da trilogia. Sendo ela uma produção muito mal compreendida e julgada por se tratar de um aparente blockbuster típico, vez ou outra travo alguns debates em defesa dos filmes, seja para ressaltar aquilo que o torna uma obra-prima, ou para explica que Senhor dos Anéis não é Harry Potter (Sério! Tem gente que confunde. Não há coisa pior). O que a maioria percebe não vai além das cenas de ação e dos grandes efeitos especiais que, de fato, são essenciais para a verocimilhança da estória, enquanto o desenvolvimento das personagens, a carga dramática atribuida aos eventos, os subtextos, tudo isso passa despercebido por um público que pouco sabe analisar o que assiste. Até elementos mais perceptíveis, como trilha sonora, fotografia, direção de arte e as atuações parecem não impactar por simplesmente serem parte de uma produção fantástica. Se por um lado há os que não conseguem ver além do superficial, de outro há os pseudo-intelectuais que cegam a si mesmos com seus pré-conceitos desmedidos e a arrogância de quem acha que uma super-produção nunca pode oferecer algo de bom, principalmente quando esta é fantástica, chegando a negar as genialidades de uma obra.

Em qualquer discussão que eu trave a respeito de O Senhor dos Anéis, ao fim ou para finalizar, pergunto: "Por que Frodo ofereceu o Um Anel para Galadriel?". Se a resposta for boba e equivocada como: "Porque ele quis se livrar do fardo.", encerro a discussão ali mesmo tendo a plena certeza de que a maior parte dos argumentos dessa pessoa não são plausíveis. Pode paracer arrogância de minha parte, mas afinal, como pode uma pessoa julgar mal uma obra se ela nem a entedeu? Talvez seja uma defesa contra certos pré-conceitos artísticos, algo que muito me incomoda.

sexta-feira, março 28, 2008

10.000 A.C.

É incrível como os anos passam, as experiências acumulam, as críticas negativas também e Roland Emmerich não consegue amadurecer absolutamente nada como diretor. Em seu mais recente trabalho, 10.000 A.C., Emmerich mostra como seu mau gosto prevalece, estragando qualquer chance de qualquer idéia embrionária e boba sua de dirigir o longa com um mínimo de bom senso artístico. Após O Dia Depois de Amanhã, pensei sinceramente que o diretor estivesse "melhorando" em suas "alucinações" enquanto cineasta, buscando não apenas destruir cidades e narrar catastróficas invasões alienígenas, mas desenvolvendo idéias mais elaboradas em gêneros (épico ou catástrofe) mal aproveitados ultimamente. E pelo jeito, vejo que seus acertos não passaram de pequenos erros de um percurso artistico lastimável. Ao que parece, em 10.000 A.C., nada é mais importante que excitar o público através de barulhos e efeitos visuais, enquanto seu filme bate recordes de bilheteria - uma fórmula sempre apelativa de ganhar o público, que não exita em assistir a filmes desse tipo. No entanto, entrar no mérito de tal questão levaria tempo e algumas reflexões, pois, mesmo que o público se disponibilize a ver tais filmes, nem todos procuram saber quem é o diretor desse ou daquele filme, o que dificulta a diferenciação prévia de filmes tão diferentes como Godzilla e Cloverfield.

A estória de 10.000 A.C. se passa em uma época em que a vida nômade do homem está se encerrando. Na busca por alimento para sua tribo e de uma nova forma de viver em um período de escassez, um grande caçador deixa sua tribo e seu filho D'Leh (Steven Strait). O jovem cresce sofrendo discriminações e exclusão por ter um pai covarde que abandonou a tribo, sendo então criado por Tic'Tic (Cliff Curtis), o amigo de seu pai e que conhece os motivos da partida deste. Apaixonado por Evolet (Camilla Belle) e tendo o conhecimento que esta faz parte de uma profecia que diz que o primeiro jovem que derrotar um mamute será o novo líder e casará com a moça, D'Leh começa sua jornada épica ao ganhar a disputa pela liderança. No entanto, a tribo é invadida pelos "demônios sobre quatro patas" (diz-se cavaleiros) e Evolet é sequestrada junto a vários outros integrantes da tribo, restando a D'Leh, enquanto líder, resgatá-los.

O roteiro, assinado pelo roteirista Harald Kloser e também por Roland Emmerich, é a maior decepção (ou não, já esperava por algo do tipo) entre todas as outras baixas da produção, ao narrar com pobreza inacreditável a jornada épica de D'Leh e Tic'Tic. Esquecendo completamente de desenvolver as personagens, os roteiristas apenas se conformam em atribuir esteriótipos a estes logo no início do filme, seguindo toda a estória através de cenas vazias e maniqueístas em suas reviravoltas, mostrando o quanto a dupla não sabe desenvolver suas próprias idéias. Assim, em determinados momentos do filme, acompanhamos a jornada das personagens na tentativa de resgatar parte da tribo que fora sequestrada, porém, nada mais além do que caminhadas e momentos de risco às personagens nos é apresentado, nenhum conflito, nenhuma sub-trama, nada que acrescente e dê um mínimo de complexidade a trama, tornando o roteiro chato e completamente desestimulante. E se em alguns momentos os plano muito abertos nos mostravam toda a beleza das paisagens por quais os personagens passam, os planos fechados de nada acrescentam, já que, as personagens são apenas peças que se movem quando os roteiristas querem e nada de interessante acontece dentro do grupo quando estes não estão em perigo. O roteiro é tão fraco e pobre que poderia ser quase que inteiramente filmado em planos completamente abertos; seria como acompanhar de cima a jornada de um bando de pinguins. (Ué! Mas já vimos um documentário que possui um roteiro mais rico envolvendo pinguins.)

Todos esses defeitos não são nada em relação ao maior erro do roteiro: o de justificar toda a trama e seus absurdos através de profecias, que vez ou outra (sempre) se realizam. Que as tribos primitivas humanas possuiam suas crenças, ninguém pode negar, até hoje temos; mas tentar fazer o público acreditar na verdade das profecias, comprovando-as durante o filme, é tolo o suficiente e é a maior prova de mal gosto compartilhada pela dupla, que sem talento, viu nessa idéia a única alternativa de fazer de D'Leh um profeta e da sua viagem em uma jornada épica. Justificativas fraquíssimas que rendem cenas constrangedoras, como as duas convesas de D'Leh com um tigre-dente-de-sabre ou a milagrosa ressucitação de uma determinada personagem no final da estória (faltou apenas a lágrima milagrosa caindo no peito do falecido). Além disso, todo esse caráter fantástico é contraditório à proposta de se narrar uma estória em uma época véridica na história da humanidade.

Ao contrário do roteiro, os efeitos visuais não decepcionam, criando Mamutes incrivelmente convincentes e atendo-se a detalhes importantes, como os traços de velhice em um dos Mamutes ou à complexidade da arquitetura da pirâmide erguida pela civilização mostrada no filme. Nesse sentido, a Direção de Arte é competente ao recriar convincentemente os grandes cenários; da mesma forma, os figurinos são peças de aparência completamente rústicas e primitivas, enriquecendo culturalmente as tribos e civilizações, mesmo que o roteiro às vezes desconsidere alguns aspectos referentes às limitações culturais desses povos tão primitivos. Envolvente no que se refere à ação, 10.000 A.C. só se beneficia nesse aspecto, que aliás, Emmerich sabe como fazer. Afinal, parte de suas estratégias para atrair o público residem nesses momentos do roteiro. No entanto, a coreografia do importante duelo entre D'Leh e o Mamute no início do filme deixa a desejar pela falta de criatividade. Se o clichê do "pé preso" em algum lugar já é íncomodo para o espectador mais desligado, repetí-lo duas vezes na mesma cena já deixa qualquer público com o "pé atrás".

E para não culpar inteiramente a dupla de roteiristas, parte da responsabilidades (ou a maior parte) pelos problemas do filme são, claro, do diretor (ou seja, duas culpas para Emmerich!) que tem, desde o momento que aceita o roteiro até o momento das filmagens, a capacidade de evitar algumas dessas falhas e enriquecer mais o filme. E, definitivamente, não é o que Emmerich faz nesse caso. Dessa forma, os atores, que dependem diretamente do diretor, e em 10.000, sem ter o que fazer, nada mais representam do que o personagem físicamente e a fraca idéia que os roteirstas desenvolveram destes. No entanto, nem uma boa direção e roteiro salvaria a inexpressividade da atriz mezzo brasileira, mezzo americana, Camilla Belle, que com seus olhos azuis e uma grande beleza, pouco parece ser uma parente mais próximo de um Neandertal do que eu ou você somos.

Retomando vez ou outra a atenção do espectador para a vidente da tribo de D'Leh nos momentos em que este sofre qualquer dificuldade, através uma espécie de raccord somos levados a uns dos momentos mais contrangedores e que representam a falta de fundamentação para às idéias que o diretor em alguns momentos pretende passar, pois, a vidente, que não representa absolutamente nada para o espectador durante todo o filme, não deveria ser mostrada pela simples falta de uma importância de sua aparição para a narrativa. A surpresa de 10.000 A.C. reside apenas no fato de ser pior do que eu já imaginava. Uma produção, que segundo Roland Emmerich, investiu 15 anos em pesquisas históricas, que no fim comprometeu tudo incluindo na estória profecias bobas pra justificar os fatos, além de desenvolver um roteiro paupérrimas, não poderia render um bom filme - apenas barulho, efeito pelo qual o diretor já é reconhecido.

10.000 B.C.
EUA, 2008 - 109 min
Aventura / Ação

Direção: Roland Emmerich
Roteiro: Roland Emmerich e Harald Kloser
Elenco: Steven Strait, Camilla Belle, Cliff Curtis, Joel Virgel, Affif Ben Badra, Mo Zinal

quinta-feira, março 27, 2008

Meu Memê

A melhor parte de ser um blogueiro é quando você descobre todo o mundo que existe através dos blog, a infinidade de informações e opiniões. Se a internet já é algo surpreendentemente imenso, os blogs tornam tudo isso muito maior. E em toda essa loucura de visitar blogs aqui, visitar blogs ali, li muita coisa bacana, muita coisa sensível, muitos textos refinados, outros bem humorados e verdadeiros diários nos quais seus autores relatavam suas vidas. É, de fato, um mundo facinante.

Há alguns dias, Euzer Lopez, um amigo virtual de um desses grandes blogs da rede, o Metendo o Bedelho, me "passou" o Memê. Não me perguntem o que significa, apenas vejam abaixo. Responderei algumas questões que só um autor de blog pode responder. Agora é a minha vez!

Então... bem-vindos ao Memê do .Ponto-de-Vista. :


1 - Por que resolveu criar o blog?
A princípio, minha idéia era a registrar minhas opiniões a respeito de qualquer assunto que estivesse em pauta ou não, e que fosse do meu interesse. Ocorreu que, com o tempo, meus textos foram tomando rumos próprios, encaminhando-se mais para o lado da crítica e da argumentação, e acabava comentando sobre os assunto que mais me interessavam, consequentemente, cinema e arte. Pode-se perceber uma diferença grande entre os temas do início e os atuais. Hoje estou mais voltado a crítica cinematográfica, algo que gosto e que resultou de uma necessidade de entender essa arte e de buscar um "bom-senso artistico", mas vez ou outra escrevo outros tipos de textos que não sejam críticas, sempre referentes à mídia, arte e cinema, principalmente.

2 - O que te dá mais prazer em blogar?
O meu maior prazer é em exercitar a prática da escrita e da análise, e assim, ver o quanto posso pensar a respeito de determinados assuntos. Sempre releio meus próprios textos, isso às vezes é uma experiência boa e em outras, nem tanto.

3 – Indique um blog bom e um do qual você não goste e por quê?
Existem vários blogs bons e falar apenas de um é muito difícil. Nem saberia escolher. Gosto dos blog que tenham uma idéia, que tenham um objetivo, que não sejam um espaço pra tudo. Acho que quanto mais sólida a idéia, melhor o blog. Então, um blog como o "Bia Black Roses" está com certeza entre os meus preferidos, pois seu obejtivo de refletir e viajar nas próprias emoções é completamente alcançado - muito sensível. Ou então o blog "Metendo o Bedelho" que é incrivelmente pessoal, fala de tudo, mas com a mesma idéia englobando todos os diferentes temas discutidos, a de relatar fatos pessoas sempre nos deixando na dúvida entre o fictício e o real. Já blogs mal delimitados em suas idéias (não em seus conteúdos) costumam não me agradar, pela falta de um objetivo fixo.

4 – Qual tipo de música e quais suas bandas favoritas?
Gosto de Música Eletrônica, Rock, Pop, MPB, Reggae, Jazz, Chorinho, Axé e outros tipo diferentes ou novos que me agradarem aos ouvidos. Quanto a banda, não tenho preferidas. Gosto da música que me agradar e dificilmente me ligo a uma banda. Sou louco por algumas músicas de R.E.M., mas não sou fã do grupo, assim como acho Britney Spears uma cantora duvidosa, mas gosto do remix de suas novas músicas. Não sei se os créditos nesse caso vão para o DJ compositor ou para a "cantora", mas não entrerei nessa questão.

5 – Qual o assunto que você mais gosta de postar?
Cinema.

6 -Seaquinevassevocêusariaesqui?
Sim. Iria de esqui para o cinema ou teatro!

7 – Você é: casado, solteiro, separado, enrolado, desquitado, chutado, viúvo ou outros?
Segundo um amigo meu, quando você diz na internet que você é solteiro, você está sendo um desesperado. Olha! Sou solteiro... mas não desesperado (risos). Não sei por que as pessoas tendem a relacionar o espaço virtual à sexualidade (sonso).

8 - Por que você deu esse nome ao seu blog?
Parece bem óbvio, mas pensei nesse nome justamente por que queria mostrar meus pontos de vista e deixar as pessoas a vontade para mostrarem o seu. Mas as pessoas ainda são tímidas na internet para comentar. Não, melhor! São preguiçosas. Geralmente comenta quem também tem um blog.

9 - Qual o último blog que você visitou?
Sabe! Não sei bem. Deve ter sido o "Metendo o Bedelho", mas hoje visitei também "Diário de Bordo" e " Vide-o-Verso".

10 - Por que resolveu participar deste Memê?
Ora! Por que queria mais uma vez dar meus pontos de vista a respeito de ser um blogueiro. Não sei o que as pessoas pensam a respeito das minhas motivação para escrever aqui. Essa foi uma ótima oportunidade para exclarece-las!


Como faz parte do ritual, abaixo a lista das 6 pessoas a quem passo o Memê:

1 - O Blog da Bia: Bia Black Roses
2 - O Blog da Mary: Outro Blog da Mary
3 - O Blog da Luana: Lunaticidades (Pra apoiar o retorno dela)
4 - O Blog de Pedro Canto: Vide-o-Verso
5 - O Blog de Ricardo Moreira: Simulacro
6 - O Blog de Marcelo: Saco de Filó (e sem fundo)

É isso! Quero agradecer a Euzer Lopes pela indicação de meu blog. Valeu, rapaz!

terça-feira, março 18, 2008

Crash - No Limite e os Clichês

Crash - No Limite é sem dúvida um dos meus filmes prediletos. Para alguns não passa de um filme formulaico e cheios de clichês, julgando-o apenas pela forma e estrutura, sem analisar a importância destas para a idéia do filme. O que não se percebe em Crash é que a sua forma, uma estrutura narrativa composta por várias estórias e personagens que se chocam, possibilita mostrar com maior eficiência e sensibilidade a complexidade da natureza humana.

Crash - No Limite conta a estória de diversos personagens em várias tramas que se cruzam, tendo como fundo a cidade de Los Angeles. O filme retrata nessas várias estórias a posição defensiva que tomamos constantemente em nosso atual contexto de violência e medo, mas principalmente, mostra o que ocorre quando essas pessoas se chocam, e as diferenças tornam-se, além de um ponto fraco, um motivo de desconfiança e um potencializador do medo. No decorrer do filme, vemos estórias como a da mimada esposa de um importante promotor que, após um assalto, teme que o chaveiro que concerta a porta de sua casa tenha planos de roubá-la; e de um chaveiro que após ter uma difícil conversa com um Persa, que pouco fala inglês, acaba sendo mal compreendido; e de um Persa que julga ter sofrido preconceito, porém acusando a pessoa errada. E assim segue um conjunto de estórias em que suas reviravoltas nos revelam as contradições típicas do ser humano em uma realidade violenta e de constante tensão entre indivíduos.

Crash tem seu roteiro baseado nesse tipo estrutura já bastante explorada, e encontra em certos clichês formas de surpreender o público. Devido essas características narrativas, o filme foi um tanto incompreendido e, consequentemente, subestimado por alguns críticos e parte do público. A princípio, sempre estamos tentados a julgar a utilização de clichês, e ocorre que poucos tem a percepção de que a utilização destes não é algo condenável se for feito com cuidado, sensibilidade e evitando o maniqueísmo.

Se pararmos para pensar, antes de uma determinada cena, trama, fala ou reviravolta tornar-se um clichê, esta foi usada uma primeira vez e, provavelmente, como um elemento coerente ou importante ao roteiro onde foi incluso. Dessa forma, assim como a primeira vez que aquilo que hoje caracterizamos como clichê foi usado, em uma suposta quadragésima vez esse mesmo elemento poderia ter a mesma eficácia se utilizado da mesma forma, ou com a mesma precisão e sinceridade. A fraqueza do clichê reside na pobreza da utilização deste como mera forma de incluir esse elemento -já convencionado como bom ou como um elemento que funciona perante o grande público - a outros roteiros ou produções. Ou seja, se soa como clichê a estória de um jovem digno, respeitoso e que nos impreciona ao matar outra pessoa, esta mesma não soaria assim se, com a sensibilidade da direção e do roteiro, nela for desenvolvida cuidadosamente a complexidade e contrariedade do comportamento da personagem. E mais, essa estória não soaria também como clichê quando considerarmos o contexto ideológico e conceitual em que ela foi desenvolvida.

É exatamente o que acontece em Crash. O novato policial, interpretado por Ryan Phillippe, que durantes boa parte do longa nos mostra um comportamento averso a qualquer preconceito, em outro instante age preconceituosamente, chegando a matar um negro por pura insegurança e pré-julgamento. Nesse caso, o clichê foi perfeitamente encaixado como forma de solidificar e dar mais complexidade à questão do racismo (nesse exemplo, não declarado, o que por si só sinaliza uma contradição curiosa) e da constante defenciva à violência a qual nos encontramos atualmente, fortificada pelos medos, e estes, potencializados pelo preconceito (como uma pessoa sã, sentimos medo e evitamos nos colocar em situações de risco ou ser assaltados, mas esse medo pode ser potencializado quando um negro mal vestido atravessa a rua). Além disso, a estória desse personagem marca um belo contraponto a estória do personagem de Matt Dilon, que em um primeiro momento, tem atitudes racistas, e em outro, arrisca a própria vida para salvar uma negra que havia submetido a uma cruel humilhação. As contradições ressaltadas pela cena em questão e a catárse promovida por esta só enriquecem o filme, que já nos apresenta diversas formas de se agir preconceituosamente e como esse sentimento pode se manifestar. No entanto, nada disso seria feito sem uma direção delicada e sensível, assim como um roteiro muito bem elaborado.

Outro exemplo marcante de clichê em Crash - No Limite é a repetição de determinado evento: uma batida de carro, no início e no fim do longa. Da mesma forma como o intercruzamento das estórias é utilizado como forma de ressaltar o impacto e choque entre as diferenças hoje, já que, estes promovem as oportunidades ideais para estes eventos; as batidas de carros que abrem e fecham o filme são, além de um forma dinâmica de abrir e fechar a estória, uma maneira de representar o choque entre as váriedades (no filme, raciais). Esse tipo de repetição poderia soar pobremente caso fosse usado sem um propósito sólido e coerente, no entanto, para Crash, é mais um exemplo em que a forma complementa o conteúdo.

Percebe-se que existe uma preponderância muito forte, por uma maioria, em julgar clichês antes mesmo de se entender o funcionamentos destes e a forma como foram utilizados. Não sou nenhum defensor dos clichês, na maioria das vezes empobrecem e são mal utilizados por cineastas e roteiristas sem um menor talento. Mas com um mínimo de sensibilidade e precisão, este pode se tornar um trunfo, e é isso que Crash - No Limite faz. Aliás, arrisco-me a dizer que em Crash não há clichês, pois como disse, clichês são as formas (ou fórmulas) degradadas de elementos já tão repetidos na história do cinema, e se revigorados ou resignificados, não seria justo denominá-los ainda dessa forma.

segunda-feira, março 17, 2008

Sete Homens e um Destino

Posso ser condenado por ser um cinéfilo que escreveu as palavras a seguir, mas não posso deixar de falar das minhas reais impressões e grandes frustrações a respeito do clássico Sete Homens e um Destino. Lançado a quase cinquenta anos, Sete Homens e um Destino revelou-se um grande sucesso e um exemplar do gênero Faroeste. De lá para cá, o filme solidificou-se e tornou-se um clássico adimirado, imitado e homenagiado. Vou ser bastante direto: não sei o que é visto em Sete Homens e um Destino que o faça digno de tamanhos e calorosos elogios.

O filme narra a invasão e sequestro dos habitantes de um vilarejo mexicano por um bando de pistoleiros liderados pelo temido Calvera (Eli Wallach). Alguns moradores do vilarejo buscam a ajuda de dois pistoleiros desempregados, Chris (Yul Brynner) e Vin (Steve McQueen), e mais cinco companheiros foras-da-lei para defendê-los de Calvera. Todos se dispões, na busca de aventura. A tentativa de solucionar a situação e libertar o povoado logo revela-se uma grande batalha pela salvação dos habitantes da pequena cidade.

Dirigido por John Stugers, Sete Homens e um Destino é sem dúvida um grandioso filme no que diz respeito aos atributos técnicos. Grandes e impressionantes cenários, trilha sonora marcante, uma fotografia que em certos momentos revela as enormes dificuldades na criação destas imagens, considerando a época em que foram produzidas, e a ousadia e beleza dos quadros e movimentos de câmera. E como resultado de toda a técnica e tecnologia empregada, as enormes e bem coreografadas batalhas e tiroteios são um espetáculo a parte, que nos fazem pensar como sempre foi grande o talento do cinema americano para as cenas de ação. O que mais impressiona, porém, é a capacidade que o roteiro, baseado no filme Os Setes Samurais, tem de abrir possibilidades a seu próprio favor (pela riqueza da própria premissa) e em quase nenhum momento, aproveitá-las. Perdendo tempo com detalhes pouco importantes, o roteiro decepciona ao desenvolver os seus personagens com certo maniqueísmo e unilateralidade, dedicando quase nada ao desenvolvimento destes, além de perder boa parte das oportunidades de tornar cada um dos heróis em figuras realmente interessantes e convincentes.

A limitação do roteiro é tão grande que, após sermos apresentados a cada uma das personagens, este passa a desenvolver apenas a trama principal, esquecendo completamente a abordagem das reações de cada personagem, assim como a dinâmica envolvendo os sete. No entanto, a maior falha reside na incapacidade que o roteirista Willian Roberts demonstra em tornar Calvera em um vilão mais humano e real, quando simplesmente abandona as razões que levaram este a cometer tais atos, deixando-as apenas como citações nos diálogos. Aliás, boa parte do filme acontece nos diálogos e comentário dos personagens, o que revela mais ainda a incapacidade do roteirista de transformar em fatos as suas idéias para o roteiro.

Como resultado, o filme possue um elenco sem muito o que fazer, investindo apenas em poses e nos trejeitos comuns aos personagens do gênero. E me adimiro como tão pouco feito por este elenco foi o suficiente para torná-lo quase que por inteiro em grandes estrelas dos filmes de ação nos anos seguinte. Sete Homens e um Destino é um filme que enche os olhos mas oferece uma aventura que pouco nos dá em termos de emoção (mais viceral) por simplesmente não investir no desenvolvimento das personagens e, consequentemente, em uma capacidade destes de criar empatia no público.

quarta-feira, março 12, 2008

Para Pedro sobre Lost


No último podcast da dupla de autores, Damon Lindelof e Calton Cuse, sobre as produções do seriedo Lost, estes responderam a seguinte pergunta feita por um fã sobre a série:

O que é e o que não é canônico para a série? Carlton diz que a série é o que estabelece as regras do que a trama trata mas cita os mobisódios e o vídeo da estação Orquídea (todos liberados através da internet) como parte desse processo também. Todo o restante como os ARGs (Lost Experience e o Find 815), livros e etc são apenas bônus que ajudam a curtir mais o universo da série. Carlton cita o livro Bad Twin como um exemplo disso ao afirmar que a história dele em si não tem nada a ver com a trama da série mas que ele ajuda a revelar que existe uma relação entre os Widmore e a Fundação Hanso. No fim, Cuse diz que para entender a série a única coisa que precisa ser vista de fato é a própria série ao que Lindelof brinca dizendo que as pessoas não precisam nem mesmo ouvir os podcasts oficiais.

Fonte: Dude! We are Lost

sexta-feira, março 07, 2008

Por Que Divulgo o Blog?

Uma parcela das pessoas que costumam lêem o blog (sei que visitas acontecem, graças ao contador) recebem vez ou outra um e-mail no qual divulgo o que ando postando por aqui, no Ponto-de-Vista. Não sei bem o que as pessoas pensam a respeito disso, se funciona ou se isso não causa um efeito contrário. Digo "efeito contrário" porque meu maior objetivo com esse blog é, na verdade, abrir discussões sobre Cinema, Mídia e Arte em geral, assim como, utilizar um pouco desse abençoado espaço virtual que hoje todos podem ter; no entanto, fora eu e alguns outros, ninguém faz isso. Percebo que as pessoas, no domínio da internet, pouco fomentam discussões, não põem seus pontos de vista e muito menos discordam e contra-argumentam quando possuem a oportunidade. E quando se trata de cinema e arte, chega a ser frustrante.

Na UFMA, universidade ao qual sou graduando em Comunicação Social e que por obrigação deveria utilizar os potenciais e as vantagens do espaço virtual, pouco o faz em si tratando de aberturas de debates dentro desse espaço. E a respeito de cinema, esses debates são quase inexistentes no próprio plano presencial, logo, a internet, onde a possibilidade de argumentarmos e nos comunicarmos sem constragimento público está sempre escancarada, parece não ter a importência devida.

Se aproveitar um espaço virtual para abrir discussões já é algo incompreensivelmente difícil; analisar um filme, um produto cultural e artísticos, ou fatos da atualidade é algo praticamente impossível (a experiência me fez perceber dessa forma). O que não se percebe por aqueles que se julgam cinestas, cinéfilos ou amantes do cinema e da arte, é a importância de uma análise crítica e esmiuçada daquilo que prestigiamos ou assistimos. Ver ou sentir o que é bom ou ruím é relativamente fácil, mas buscar uma reflexão que nos faça entender o que nos incomoda e nos agrada, para então argumentarmos com propriedade, trata-se de um trabalho árduo de percepção e pouco fazemos para isso.

Hoje, salvo os cineclubes (estes mais assitem que analisam), não vejo espaço de discussão voltado para cinema em canto algum de uma universidade com potenciais de produção no setor. Fora que, um curso que tem por obrigação trabalhar conteúdos como análise de discursos e análise estética - ao mesmo tempo que deve evoluir na produção de audio-visuais - não possuir espaços dedicados a debates sobre cinema e tão pouco se ver presente nos "blogs da vida" de alguns poucos oriundos dessa universidade (mesmo quando estes a divulgam para o público de interesse) é algo que realmente não compreendo e me faz ter menos esperança ainda em um "deslanche" do pobre e inexpressivo cinema maranhense (tanto em produção quanto em público ativo e perceptivo).